Unamuno sobre a língua portuguesa

Postado por: em maio 7, 2012 | Um comentário

“Unamuno escreve em “‘Las sombras’, de teixeira de Pascoaes” (1908), numa forma que revela a reversibilidade e a mútua dependência dialética da distinção português/espanhol, o seguinte: “Dijo cervantes del idioma portugués que es el castellano sin huesos, y, retrucándole, cabría decir que el castellano es el portugués osificado (Unamuno, 1966-1971, v.1, p.194, minha ênfase).23 Enquanto o português é “dengoso” (sinônimo parcial de “meigo” ou “brando”, e sugerindo uma certa modéstia e deferência), o castelhano é “recortado” – algo elevado e duro, e talvez assertivo ou impaciente.24 Igualmente na poesia, em que os versos castelhanos de Unamuno se contrastam (na opinião do seu autor) aos versos portugueses do seu amigo Pascoaes:

No hallaréis en sus composiciones esas estrofas densas, compactas, de espesísimo cristal, esculpidas, diamantinas, tales como se encuentran en [el poeta italiano] Carducci y como yo me he esforzado por hacer en mis propias poesías; las de Teixeira de Pascoaes se alargan y desvanecen como sombras de crepúsculo. (Unamuno, 1966-1971, v.1, p.195)

 

23  a versão mais elaborada dessa frase aparece numa entrevista a Unamuno pelo escritor português antônio Ferro em 1930: “o português – já o disse um grande escritor – é um castelhano sem ossos. os portugueses encontram, nos castelhanos, por tanto, o que lhes falta. O castelhano, efetivamente, é todo em ossos, esquelético. tem qualquer coisa de lagosta… o português, ao contrário, é como um polvo… Mas que a lagosta se acautele antes de lutar com o polvo” (apud García Morejón, 1971, p.367; ortografia atualizada). Para outra versão, ver “¡san Pablo y abre españa!” (1934) (Unamuno, 1966-1971, v.4, p.1358). Vale um estudo a curiosa atribuição por Unamuno dessa frase a Cervantes e as implicações da sua popularização como ideia “sancionada” pela autoridade do autor do Quixote.

24 ver o ensaio “Guarda” (1908) (Unamuno, 1966-1971, v.1, p.242).”

[via Robert Petrick Newcomb]

 

1 Comentário

  1. Diego
    9 de maio de 2012

    Sou licenciado em docência em espanhol. Mais do que a possibilidade de trabalho que essa graduação me trouxe, aprendi a amar a língua espanhola como se fosse mesmo uma irmã gêmea bivitelina (poderia dizer siamesa, inclusive) da língua que uso no dia a dia, o português. O conhecimento de mundo e cultural que o aprendizado do espanhol nos propicia (afinal, são 21 países em que é língua oficial ou co-oficial) contribuiu e segue contribuindo para a minha formação humana.

    O que lamento tanto é que o espanhol é uma língua negligenciada pela sociedade brasileira como um todo, principalmente entre os estudantes, que ainda mantêm o nefasto imaginário de que não precisa estudar espanhol porque se parece com o português e que um portunhol rasgado resolve, se for preciso comunicar-se com algum hispano-falante. Em detrimento do espanhol – e como efeito do imperialismo cultural estadunidense -, a maior demanda em escolas de idiomas é pelo inglês. Se as sociedades lusófonas reconhecessem o quanto estamos vinculados, história e culturalmente, à língua espanhola, valorizariam mais o idioma. Essa valorização é ainda um sonho meu, uma utopia que me esforço por ver realizada em minha profissão como professor de espanhol.

    Reply

Deixe um comentário