Humberto Teixeira, baião, saudade e esperança

Postado por: em jul 6, 2020 | Sem comentários

Acredito que todo brasileiro já ouviu falar de Luiz Gonzaga e sua principal canção, Asa Branca, mas poucos conhecem meu conterrâneo de Iguatu, Ceará, Humberto Teixeira. Que ganhou o título de “dotô do baião” pela façanha, não apenas de compor junto com Gonzaga, Asa Branca, mas de ter “estilizado” o baião. Aos 15 anos (1930), ele migra para a então capital federal, Rio de Janeiro, com o objetivo de terminar seus estudos, onde se forma em direito.

Quando Asa Branca surgiu na década de 1940, não existia o Nordeste, tudo acima de Minas, era o “grande norte”, daí o imigrante ser chamado de “nortista”. O Nordeste, para o Dr, Durval Muniz é, como região cultural, muito mais antiga, que como região geográfica, suas raízes vão até as revoluções de 1817 e 1824. Depois será depurado com o dito “romance de 30”, ou romance regionalista, na luta de mostrar o “Brasil profundo”, não apenas o industrial e “moderno” centrado no eixo Rio-São Paulo. Humberto é fruto desta construção e também é construtor do que entendemos hoje por Nordeste, pois como afirma o Dr. Durval Muniz, o Nordeste é também construído na imagem romantizada do sertão da música de Humberto cantada por Luiz.

A saudade foi o tema central delas, pois seu público alvo era o imigrante que saiu do sertão e ajudou a construir São Paulo. Mas a saudade não se transformava apenas em lágrimas, pela dor do preconceito, pelas comidas sem o sabor do sertão, pelo frio, jamais sentido, pelos hábitos diferentes. Humberto fez poesia da saudade para que ela se transformasse em esperança, pois todo imigrante só pensa no retorno, alguns vão, outros ficam, mas o espaço da saudade é eterno. Humberto fez poesia de um Nordeste romantizado, idealizado, que muitas vezes não correspondia nem mais a realidade dos anos 40, mas que encheu de vida, alegria e esperança o coração daqueles que sofriam todo tipo de rejeição. Humberto ajudou a construir o que entendemos hoje por Nordeste, no campo do imaginário, da cultura, porque ele, não apenas é daqui, mas porque traduziu em poesia a alma do povo, e ao fazê-lo teceu esperança em seus corações.

O que podemos aprender com Humberto como cristãos? Nossa arte traduz em poesia a realidade? Como disse Bono (U2) a Eugene Peterson “há honestidade em nossa arte?”, Amamos, sofremos, choramos, sentimos raiva, revolta, saudade e esperança. E foram elas, saudade e esperança que construíram o Nordeste. Tenho saudade do samba de Noel, do baião de Humberto, do chorinho, do clássico de Villa Lobos, de Elis, de Belchior, e tantos outros, mas Cristo me enche esperança, através deste projeto chamado culto e cultura. Como luterana saudade e esperança falam muito a uma teologia que gosta de paradoxos, penso a arte à partir do justus et peccator do músico Martin Lutero e do Soli Deo Gloria do luterano Bach, mas aí, é outro movimento desta sinfonia historiográfica.

Apesar da pandemia e do pandemônio que estamos vivendo, Deus já fez o “verde dos olhos de Rosinha, se espalhar pela plantação”! @jaquelinidesouza com arte de @junilopes para o projeto @cultoecultura Fonte: A invenção do Nordeste e outras artes, Durval Muniz de Albuquerque Jr.

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