Estilo Musical e Circuito Cultural

Postado por: em dez 26, 2014 | Sem comentários

O que aconteceu na Som Livre em 2012 que pode alterar a relação entre música e mercado?

 

Loja de Discos

Quando comecei a escrever no blog Nossa Brasilidade, uma missão se mostrava urgente: criar um novo vocabulário de comunicação que melhor correspondesse à confluência fé, pensamento e arte no século XXI.

Depois de três anos, acho que conseguimos alguns avanços:

1. A distinção entre estilo musical e circuito cultural.

Por ser de origem evangélica e gerada depois de 1985,  qualquer música de crente vinha com o rótulo gospel. Até onde eu sei, foi na Som Livre, no ano de 2012, que isso deixou de ser uma regra. Depois de algumas longas conversas com diretores artísticos e departamento de comunicação da companhia, a Som Livre decidiu aderir à minha proposta de que era necessário usar parâmetros musicais para classificar música e trabalhar mercado utilizando a cena cultural do artista.

Ou seja, enquanto gênero musical a banda Palavrantiga era uma banda brasileira de rock. Mas, considerando mercado de atuação, a diversificada  praça construída pelas igrejas evangélicas era o ponto de partida – aqui entraria alguns eventos de marca gospel e a efervescente cena hipster de produtores cristãos descontentes com o rumo do mercado de entretenimento religioso.

Quando no Itunes a pessoa responsável por categorizar os discos que lá chegava inseriu “rock nacional” e “música brasileira” no nosso registro, superamos  quase vinte anos de um paradigma contraditório, auto punitivo, segregacionista, ultrapassado e vencedor. Sim! Porque isso aconteceu quando o Gospel estava celebrando o Troféu Promessas, o reconhecimento das grandes mídias, a inclusão na Lei Rouanet, os maiores cachês, uma rede astronômica de consumidores fiéis, o abraço da Regina Casé, enfim, o pós-movimento-gospel dava um pequeno e importantíssimo passo enquanto os representantes do outro modelo subiam no pódio para cantar o hino da vitória!

Distinguir música de mercado é uma tarefa para a nossa geração. Para que? Para que a esfera econômica não ultrapasse seus domínios. Para que som, silêncio e sentido não sejam organizados e classificados a partir da lógica do vendedor, mas a partir das estruturas da própria arte; portanto, categorias musicais para música, categorias mercadológicas para mercado. E, caramba, isto é fantástico: para que o mundo descobrisse a espiritualidade dentro da música não litúrgica! Ela está lá, como sempre esteve na poesia e em toda arte; ou seja, não é monopólio do mercado religioso. Mas, essa distinção, sobretudo, nos ajuda a viver uma vida mais plena.

Depois de três anos, acho que conseguimos alguns avanços. Distinguir gênero musical de circuito cultural é uma pequena amostra disso. Temos outras histórias para contar. Hoje, celebro, pela graça, esse pequeno e importantíssimo passo!

Marcos Almeida

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