Humberto Teixeira, baião, saudade e esperança
Acredito que todo brasileiro já ouviu falar de Luiz Gonzaga e sua principal canção, Asa Branca, mas poucos conhecem meu conterrâneo de Iguatu, Ceará, Humberto Teixeira. Que ganhou o título de “dotô do baião” pela façanha, não apenas de compor junto com Gonzaga, Asa Branca, mas de ter “estilizado” o baião. Aos 15 anos (1930), ele migra para a então capital federal, Rio de Janeiro, com o objetivo de terminar seus estudos, onde se forma em direito.
TODA VEZ QUE VOCÊ ME VÊ (letra)
TODA VEZ QUE VOCÊ ME VÊ
(autor e compositor: Marcos Almeida)
É verdade.
Toda vez que você olhar
Vai ver o que tem de ver
Vai ver o que tem de ver.
É verdade.
Toda vez que você me olhar
Vai ver o que tem de ver
Vai ver o que vê em você.
Ponho o meu rosto no espelho
Eu não reconheço a mim mesmo
Fecho os olhos, chego perto de enxergar.
Tento me ver, antes de mirar você.
Mas o vício do pensamento
É venda que encobre o tormento.
A cegueira toda é tipo um jeito tolo de pensar.
Atravessa a alma da gente.
Sem aviso assim de repente,
a Certeza que me diz repara:
é preciso confiar pra desvendar.
E brilharão seus olhos outra vez
Depois de tão forte escuridão
Verá completamente quem eu sou
Segure a minha mão
que essa luz RESISTIRÁ!
Toda vez que você me vê!
Toda vez que você me vê!
Toda vez que você me vê!
Você me vê
Você se vê
REPENSANDO OS MODOS DE TRANSFORMAÇÃO CULTURAL – por Rodolfo Amorim
Quais seriam as melhores formas de se relacionar com a cultura?
No ano de 1951, o teólogo e eticista americano Richard Niebuhr lançou o aclamado livro Christ and Culture (Cristo e Cultura), mapeando as opções teológicas de entendimento da relação de Cristo com a cultura. Segundo Niebuhr, Cristo apresenta uma relação de transcendência com respeito à cultura, reconhecendo elementos positivos e negativos na mesma buscando, em última instância, sua transformação. Desse modo, Niebuhr rejeitou como “inferiores” as opções de rejeição cultural total ou de assimilação cultural por parte dos cristãos, as quais seriam modos extremos de entender o tema, assim como as visões “de centro” que enfatizavam a divisão da cultura em Dois Reinos paralelos e a relação sintética com a cultura, as quais representariam visões mais próximas da transformacionista, mas que careceriam, de algum modo, da simultânea radicalidade e integralidade do Evangelho.
Ainda que a visão de Niebuhr tenha encontrado alguma resistência a partir de distintas tradições cristãs, de anabatistas a católico-romanos, grande parte do ambiente evangelical internacional tem adotado os insights de Niebuhr e a visão transformacional como condição cristã padrão. Porém, algumas importantes críticas têm sido articuladas sobre os modos apropriados para se atingir algum tipo concreto de transformação cultural. Dentre as críticas correntes destaco a proposta de 1) presença fiel, articulada por James Davidson Hunter; a visão de 2) produção cultural, de Andy Crouch; e a ênfase em 3) formação de hábitos, de James K. A. Smith. Davidson Hunter enfatiza que apenas por meio de uma presença fiel, constante e servidora dos vocacionados cristãos na cultura podem suas estruturas e artefatos ser de algum modo transformados, incentivando também o abandono dos discursos triunfalistas sobre “mudar o mundo”, ou “implementar o reino de Deus”. Andy Crouch segue uma linha semelhante, porém enfatizando que culturas só se modificam com a produção de mais e melhores culturas, apontando opções concretas às pessoas em meio ao rico mercado de ideias e artefatos culturais. Mudar mentalidades nunca alcançaria, por si, a transformação de culturas. James K. A. Smith, por sua vez, enfatiza o aspecto profundamente formativo das rotinas e liturgias culturais, conclamando os cristãos a formarem seus amores de acordo com as imagens e ritmos do próprio Reino de Deus, criticando como insuficiente a ênfase recente no papel “fundamental” da adoção de uma cosmovisão cristã na transformação cultural. Os amores do coração, e não o conteúdo cognitivo das mentes, seria a verdadeira força que move e molda culturas.
Ainda que a visão transformacionista de Niebuhr desfrute de certo predomínio no contexto evangelical ocidental, cabe à Igreja de Cristo atentar para as necessárias correções apontadas por cristãos contemporâneos aos modos como a visão “niebuhrana” tem sido implementada. Em um contexto em que a Igreja evangélica nacional busca, ainda que de forma incipiente, as melhores formas de se relacionar com a cultura, devemos incorporar ao modelo transformacional os importantes insights das críticas encontradas nas propostas da presença fiel, da produção cultural e da formação de hábitos.
Rodolfo Amorim
Texto gentilmente cedido pela Revista Box95, edição 13, Março 2018.
Interessado em estudar mais sobre o assunto FÉ e CULTURA? Envie uma mensagem para marcos@nossabrasilidade.com.br explicando como podemos te ajudar.
Tempo e Eternidade, Verde e Amarela.
A nossa brasilidade é essa contradição, um Brasil dentro de outro Brasil. Brasis que se misturam: cidadãos forasteiros juntos aos que se dizem apenas cidadãos. Nós somos um povo paradoxal; a nossa brasilidade é a brasilidade de nativos estrangeiros em convívio com os que se dizem apenas nativos. Somos assim desde tempos remotos. Tempo e eternidade, verde e amarela.
“Os cristãos, efetivamente, não se distinguem dos demais homens nem por sua terra, nem por sua fala, nem por seus costumes. Porque não habitam cidades exclusivamente suas, nem falam uma língua estranha, nem levam um estilo de vida à parte dos demais […]. Mas, habitando cidades gregas ou bárbaras, segundo a sorte que coube a cada um, e adaptando-se na vestimenta, alimentação e demais aspectos da vida aos usos e costumes de cada país, dão mostras de um teor particular de conduta, admirável e , por confissão de todos, surpreendente. Habitam suas próprias pátrias, mas como forasteiros; participam de tudo como cidadãos e suportam tudo como estrangeiros; toda terra estranha é para eles pátria, e toda pátria, terra estranha” (Carta a Diogneto – séc. 2 D.C.)
Marcos Almeida
P.S.: esse texto tem o mesmo título de uma canção inédita de minha autoria.
Eu li Nejar
Na estréia do solo “Eu Sarau”, eu li Nejar. Mas, antes tive o cuidado de apresentar o poeta para a platéia – numa rápida pesquisa, percebi que quase todos não o conheciam. Acho que curtiram muito; inclusive o episódio do meu encontro com ele no aeroporto, o início de uma amizade.
Um rapaz teceu elogios sinceros ao poeta no bate papo pós-show. Foi tão marcante a leitura da poesia “Ver o vento cair” que resolvi incluí-la na trilha sonora do filme que registra a minha volta aos palcos.