You don’t know me – Caetano Veloso

You don’t know me – Caetano Veloso

Postado por: em out 23, 2013 | 2 comentários

Quando Caetano cantou Ave Maria e disse que estava se sentindo muito só.

O som de Caetano Veloso, direto de 1972 para a série símbolos da espiritualidade na MPB. Se você chegou agora, se trata de cem canções presentes na famosa lista que a revista Rolling Stone fez em 2007; a lista dos 100 maiores discos da música brasileira. Esses discos foram sistematicamente catalogados pela pesquisadora, socióloga e mestranda em ciências sociais, Sarah Ferreira de Toledo, a pedido do Nossa Brasilidade. Levou-se em conta as palavras de vocabulário religioso ou espiritual. Essa distinção ainda não está suficientemente clara para os leitores, por enquanto – digo, a diferença entre símbolos da espiritualidade e símbolos religiosos – mas, no caminho vamos perceber as distinções. Em hora oportuna, também vou publicar uma série de novos textos que estou compondo, afim de apresentar outra forma de ler a nossa música brasileira; considerando quão rico se torna nossa playlist quando não ignoramos o repertório que toca a transcendência.

A primeira vista “You don’t know me” usa a expressão Ave Maria sem nenhuma preocupação semântica, discursiva ou apologética. É um som que talvez sirva como rima distante para Bahia, ou se apresenta penas como recorte de uma cena infantil relembrada por Caetano no exílio em Londres. Ainda mais, se houver algum ato determinado ele está mais perto do rito que do espírito, ou seja, Ave Maria nesse caso é posto mais como símbolo da religião que da espiritualidade. Fato é, como disse, que a importância dela para a nossa série é a constatação de que ela está ali. Por enquanto isso nos basta. Orelha na caixa! You don’t know me.

You don’t know me
De: Caetano Veloso
Intérprete: Caetano Veloso
Disco: Transa
Gravadora: Polygram
Ano: 1972

You don’t know me
Bet you’ll never get to know me
You don’t know me at all
Feel so lonely
The world is spinning round slowly
There’s nothing you can show me
From behind the wall

Nasci lá na Bahia
De mucama com feitor
O meu pai dormia em cama
Minha mãe no pisador

Laia ladaia sabadana Ave Maria
Laia ladaia sabadana Ave Maria

Eu agradeço ao povo brasileiro
Norte, Centro, Sul inteiro
Onde reinou o baião

 

DESDOBRAMENTOS

 

O Blog tem alguns leitores de peso e um deles é o jornalista e escritor Ricardo Alexandre. Ele dirigiu revistas como Bizz, Trip e Época São Paulo e escreveu livros como Dias de luta: O rock e o Brasil dos anos 80 e Nem vem que não tem: A vida e o veneno de Wilson Simonal. Segue a contribuição de Ricardo para esse post.

 

“Talvez faça sentido acrescentar que esse verso de “You don’t Know me” é uma citação de “Reza”, música do Edu Lobo de muito sucesso nos anos 60; o Skank também citou a música nos anos 2000 em “Sambatron”. Talvez (TALVEZ) o Caetano tenha citado “Reza” porque era um hit do Brasil’66 no exterior na época em que ele estava morando em Londres. O Sergio Mendes já tinha feito uma gravação belíssima dessa música em 1965, com a Wanda Sá no vocal. A Wanda, você sabe, se converteu ao cristianismo protestante há alguns anos. (Ricardo Alexandre via Facebook).

 

Ouçam na sequência a versão de Reza pelo próprio Edu Lobo (1965), Wanda Sá e Sergio Mendes Trio (1965),  Brasil’66 (1969) e por fim a citação que Skank fez em Sambatron (2003). Transcrevo a letra a seguir.

Reza

De: Edu Lobo e Ruy Guerra

Intérprete: Edu Lobo

Disco: A Música de Edu Lobo por Edu Lobo

Gravadora: Elenco

Ano: 1965 (gravação) 1963 (criação)

Por amor andei, já
Tanto chão e mar
Senhor,
Já nem sei
Se o amor não é mais
Bastante para vencer
Eu já sei o que vou fazer
Meu senhor, uma oração
Vou cantar para ver se vai valer

Laia, ladaia, sabatana, Ave Maria
Laia, ladaia, sabatana, Ave Maria

Ó meu santo defensor
Traga o meu amor
Laia, ladaia, sabatana, Ave Maria
Laia, ladaia, sabatana, Ave Maria

Se é fraca a oração
Mil vezes cantarei
Laia, ladaia, sabatana, Ave Maria
Laia, ladaia, sabatana, Ave Maria

 

 

 

 

 

Baby do Brasil e o Livro de Regras das Artes e do Entretenimento

Postado por: em out 28, 2012 | 8 comentários

O Grande Livro de Regras das Artes e do Entretenimento é um livro que nunca foi escrito, no entanto sublinho a necessidade de tê-lo em linguagem clara e abrangente. Pra ontem e para todos!

Sim, suas leis e limites vão se adaptando ao movimento vivo da cultura mas até o momento parece ser firme a distinção entre gospel e secular – pelo menos equanto siglas ou rótulos. Religioso e não-religioso dentro da indústria cultural brasileira são lugares determinados pelo pensamento dicotômico predominante nas mentes que pensam e fazem o entretenimento tupiniquim. Essa, talvez seja, a primeira regra a ser transgredida quando os fundamentos cosmológicos dos novos produtores culturais se configuram numa rede de categorias não dicotômicas.

Enquanto nós – que não dividimos o mundo entre gospel e secular – nos aproximamos do Grande Livro de Regras das Artes e do Entretenimento, assumimos também a responsabilidade de estabelecer novas plataformas para a vivencia da arte brasileira que generosamente inclui aspectos da espiritualidade cristã sem que isso a torne menos artística, menos vibrante ou menos seja lá o que for que os velhos produtores pensam. Pois pra eles, parece que incluir temas e experiências religiosas [leia-se cristãs ou gospel] na música do mundo secular, é profanar o santuário laico [leia-se afro-brasileiro]. Está aí uma boa regra para burlar com trabalho e criatividade!

Talvez tudo isso seja apenas um hábito enraizado que no interior da prática já demonstra mutações; um interessante desenvolvimento que logo pode emergir e se tornar explicito na superfície da linguagem, dos nomes e dos códigos culturais.

Mas, ilustrando essa tensão, compartilho a reportagem do G1 ( principalmente o vídeo postado por eles) para divulgar o retorno da nossa querida Baby do Brasil aos palcos da música pop. Depois eu volto.

 

“Baby do Brasil comemora 60 anos com show no Rio; veja vídeo

Apresentação da próxima quarta (31) terá participação de Caetano Veloso.
Repertório vai incluir sucessos como ‘Menino do Rio’ e ‘Tudo azul’.

Do G1 Rio

Baby do Brasil vai tirar a poeira dos sucessos que cantava na época em que ainda atendia pelo nome Baby Consuelo. É o projeto Baby Sucessos, que a cantora apresenta na próxima quarta-feira (31), no Vivo Open Air, no Jockey Club Brasileiro, no Rio, comemorando seus 60 anos.

Veja ao lado o vídeo exclusivo com trechos do ensaio.

 

Dirigido pelo próprio filho da cantora, o guitarrista Pedro Baby, o show terá a participação especial de Caetano Veloso e vai incluir sucessos como “Menino do Rio”, “Tudo azul”, “Cósmica”, “Todo dia era dia de índio” e “Um auê com você”, entre outros.

A ideia para o projeto ganhou força depois de uma conversa entre Pedro e Gal Costa — o guitarrista fez parte da banda da cantora baiana durante a turnê Recanto. Gal havia comentado sobre o prazer que teria uma mãe cantora ao se apresentar ao lado do filho músico.

“Estou fazendo um trabalho com todo meu coração, inclusive já me peguei em alguns momentos emocionado só de pensar no novo show. É uma responsabilidade enorme e que chegou no momento certo”, revela Pedro.

Baby do Brasil no Vivo Open Air
Quando: quarta-feira (31), 20h
Onde: Jockey Club Brasileiro – Rua Jardim Botânico, 1003, Jardim Botânico.
Quanto: R$ 40 (inteira) e R$20 (meia).
Informações: www.vivo.com.br/openair (o evento acontece mesmo em caso de chuva).”

 

Com sol ou chuva eu quero estar lá para participar desse momento e ter outras informações mais sensoriais que se juntarão a essas reflexões para um novo texto. Desejo sentir, ver e ouvir a Baby cantando esse repertório. Sou fã com força! Desejo ver esse desenvolvimento no interior das aparências….

Interessante; ela se apresenta depois do filme “De volta para o futuro”. Qual futuro ? Onde as regras acima continuam valendo ou um futuro onde novas categorias  se consolidarão e servirão de bases para entreter sem privar a música brasileira do inevitável reencontro com a espiritualidade cristã?

Pense aí. E se puder apareça no Jockey Club nesta Quarta.