JORGE AMADO SOB A INFLUÊNCIA DO CANDOMBLÉ
Jorge Amado foi Obá Arolu. Possuia direito de voz e voto no grupo que forma o corpo executivo do terreiro, doze ministros que ajudam a mãe de santo na administração do templo. Esse título honorífico do Candomblé, segundo a Wikipédia, foi criado por mãe Aninha em 1936 no Axé Opó Afonjá (talvez o terreiro mais influente do mundo, localizado em Salvador, Bahia). Outro baiano, Gilberto Gil, além de ter sido iniciado nesse mesmo terreiro, também recebeu um título lá dentro: Obá Onikoyi – mesmo título de Dorival Caymmi. Uma posição inferior a de Amado, mas que possui função consultiva dentro desse time de amigos e protetores do terreiro, cuja lista completa você pode ler aqui. “Esses ministros eram antigos reis, príncipes ou governantes dos territórios conquistados por Xangô no país de Yôrubá”, explica o historiador Edison Carneiro em Candomblés da Bahia.
A Indústria Cultural é um Artefato.
A indústria cultural é um artefato construído pelo mercado, onde o artista e sua obra são subordinados a certas determinações da esfera econômica para, então, ver definido identidade e alcance do seu fazer artístico. Isso pode ser trágico! É por isso que o compositor, por exemplo, deve conhecer não apenas sobre como construir uma boa música, mas, também, sobre como o mercado se comporta. Distinguir música de mercado é muito importante na hora de falar sobre identidade artística – assunto já manjado – mas não pode ficar só nisso; deve-se saber alguma coisa sobre “nicho”, “público alvo”, “circuito cultural”, “comunicação”, “prateleiras”. Logo o artista informado vai perceber algo curioso: assim como o compositor determina se toca uma sétima maior naquele acorde ou não, o mercado tem o poder de alterar o artefato “indústria cultural” fazendo-lhe receber ou perder elementos que julga fundamentais para sua continuação.
Palavrantiga, Tanlan e Lorena Chaves nas prateleiras do rock nacional e mpb é fruto de uma alteração consciente e articulada por esses artistas que descobriram outro fundamento para determinar identidade. Quando torna-se inadiável a constatação de que devemos classificar música musicalmente e que a confissão religiosa do autor não é fator estético válido para designarmos um estilo, consequentemente aparece um novo desafio: o que fazer com as classificações adotadas pela indústria fonográfica até o momento? Outra questão: como fica o repertório do samba e da mpb que depois dos anos 1960 adotou o panteão afro-religioso como discurso escrachado e nos fez acreditar que isso é “cultura brasileira”? Construções, desconstruções… Um pensamento que nos leva a agir dentro da indústria cultural com ferramentas de diálogo antes desconhecidas.
Com todo respeito aos donos de gravadora, contratantes, presidentes de emissora de TV, rádios, revistas, jornais, blogs e qualquer outro tipo de veículo de comunicação, vocês precisam chamar os artistas para um cafezinho. Certamente, vocês vão se surpreender com a capacidade do papo transpor as fronteiras estéticas e chegar no campo antes dominado por executivos. Esse diálogo tornará nossa indústria cultural ainda mais rica em todos os sentidos.
Marcos Almeida
HISTÓRIA DA MODA NO BRASIL – EPISÓDIO UM
Criando o hábito de ver, ouvir e também ler aqueles que pensam a identidade brasileira, temos a honra de transcrever o primeiro episódio da História da Moda no Brasil. Trata-se de uma série de 4 programas – 26 minutos, cada um – que traz uma leitura antropológico/histórica da Moda no Brasil. Dirigido por Tatiana Lohmann e Luiz André Prado, conta com os principais nomes da nossa costura tupiniquim. Aproveite!
Morre o poeta Mário Quintana
Morre o poeta Mário Quintana
Morre em Porto Alegre, aos 87 anos, o poeta Mário Quintana. O poeta estava internado desde sexta-feira. Ontem o estado de saúde dele se agravou com problemas cardíacos e respiratórios.
“Um anjo em forma de homem”. Assim – outro gaúcho – o escritor Érico Veríssimo, definia o amigo Mário Quintana. Quintana foi tão tipicamente gaúcho quanto à cuia do chimarrão. Para ele, tudo era motivo para fazer poesia. Dos pequenos aos grandes sentimentos da vida. “Eu sou um menino por trás de uma vidraça. Nasci no ano da descoberta do gás neon”, dizia o poeta Mário Quintana.
Era uma noite gelada de julho de 1906 na cidade gaúcha de Alegrete, quase fronteira com a Argentina.
“Minha vida está nos meus poemas.
Meus poemas são eu mesmo.
Nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão”.
O poeta da prosa e do verso escreveu 56 livros. A inglesa Virginia Woolf e o francês Marcel Proust tiveram sorte. Ganharam o poeta como tradutor.
Escrevendo e fumando, hábito que lhe deixou uma saúde frágil. Mas nos passeios pela rua da praia em Porto Alegre, deixava a luz mansa do sol do outono gaúcho esquentar a vontade de escrever.
“O verdadeiro poeta não lê os outros poetas”, dizia ele. “Lê os classificados dos jornais, um lugar certo para aprender os sentimentos do povo”.
Quintana gostava de dizer que descobriu Porto Alegre como quem descobre os segredos de uma mulher. A cidade é ele. E suas frases, sua tiradas sobre o cotidiano se misturam como prima da cidade.
“sinto uma dor infinita das ruas de porto alegre onde jamais passarei…”
Um segredo Quintana guardou bem fundo no coração, nunca ninguém soube quem foi o grande amor do poeta. Dizia que eram três as suas amadas, mas não lhe citava os nomes. Para ele, elas sabiam, e isso era o suficiente.
“Uma musa é sempre um ponto de partida e não um ponto de chegada…”
Sempre viveu em hotéis. Era o jeito de estar só, acompanhado. E sussurrava: “moro dentro de mim mesmo”.
A infância era uma invenção do adulto, brincava o poeta.
E foi brincando com o alfabeto que ele escreveu para as crianças o batalhão das letras.
“com X se escreve xícara
Com X se escreve xixi.
Não faça xixi na xícara.
O que irão dizer de ti?”
Quando a prefeitura de Alegrete lhe pediu um verso para um monumento, Quintana mandou um recado:
“O engano em bronze, é um engano eterno”.
Perdeu nas três vezes em que se candidatou a uma cadeira da Academia Brasileira de Letras. E essa magoa Quintana fez questão de nunca esconder. “Quem será aceito três vezes era trágico, mas não será aceito pela quarta, quinta, sexta, sétima vez. Eu volto a persistir, uma coisa… seria cômico, não?”
Irônico, tinha sempre a resposta pra tudo em forma de poesia.
“A mentira é uma verdade que esqueceu de acontecer.”
“Fumar é uma maneira de suspirar, de queimar as ilusões perdidas.”
“A burrice é a dificuldade de entendimento que ocorre nas outras pessoas.”
“Uma vida não basta apenas ser vivida, também precisa ser sonhada.”
“A matemática é o pensamento sem dor.”
Quintana driblava a dificuldade e devolvia com poesia.
“Todos estes que aí estão atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!”
Mário Quintana
1906-1994
Ao Yago – sobre as bases, antes dos muros.
Ei Yago, tudo bem?
Obrigado por compartilhar de forma divertida e honesta suas reflexões a respeito de música, cultura e cristianismo. Enquanto assistia o vídeo, lembrei que tempos atrás recebi um convite de certo seminário para falar sobre o papel do músico na Igreja. Daí, resolvi organizar tudo que já tinha vivido, estudado e ouvido sobre o assunto, desde 1998 quando comecei a servir no louvor da Igreja até o presente dia, onde sou compositor e integrante de uma banda brasileira de rock. Reuni um conteúdo básico e levei para os alunos.
Como começou a história da música na Igreja?