NAUM ALVES DE SOUZA

Postado por: em maio 17, 2012 | 4 Comentários

 

Dramaturgo premiado, esse discreto “presbiteriano”, construiu uma obra influente e respeitada no Brasil e fora daqui – recentemente a Cena Lusófona [publicadora portuguesa] lançou suas peças para teatro numa belíssima edição. Seu nome surge em momento oportuno quando conversávamos aqui no sítio sobre a influência da espiritualidade cristã, e de suas construções religiosas, dentro da cultura brasileira. Até então não havia mencionado ninguém das artes cénicas. Pois bem, aí está Naum.

 

“Um Beijo, Um Abraço, Um Aperto de Mão” , peça escrita em 1984, talvez seja a melhor exposição dos fantasmas que assombravam o escritor. Fantasmas de um passado austero, de uma família protestante, de uma religiosidade seca. Se Waldo Cesar ao citar Gilberto Freyre quando este disse que a tradição protestante brasileira não havia contribuído em nada para as letras do país, talvez o sociólogo tenha se esquecido de Naum.  Quem sabe, ele  não tenha visto nenhuma de suas montagens. É preciso, antes de qualquer coisa, desmitificar a imagem desses grandes intelectuais e ao mesmo tempo fazer um favor a eles; atualizando informações e acontecimentos importantes, que infelizmente eles não puderam acompanhar, a gente honra o esforço que fizeram. Além disso,  a gente pode levantar duas hipóteses sobre a temática religiosa na obra de Naum: o autor pode ser uma vítima do sistema presbiteriano de ensino e por isso joga toda essa dor nos seus textos, ou quem sabe, apesar das frustações com a instituição ele mantenha alguma fé e relacionamento com o Deus que se revela, tendo nessa legítima relação o principal motor de sua missão artística: expor a hipocrisia e decadência de uma vida sem Vida.

 

A personagem do Pastor, O Moço, a Mãe, a Igreja, os Salmos, Eclesiastes, Cantares, Apocalipse, Família, Morte, Assassinato, Dúvida, muita dúvida, Piedade, Culpa, tudo isso aparece em “Um Beijo, Um Abraço, Um Aperto de Mão”. Encenada em São Paulo por J.C. Violla no papel principal e no Rio de Janeiro tendo Marieta Severo na versão feminina da peça, esse talvez seja o mais sombrio dos textos de Naum.  Depois de assistir a peça inteira, drama pesado, Flávio Rangel cutuca o braço de uma atriz que o acompanhava, dirige-se a ela e quase sussurrando diz:

 

– Cabeça ruim de protestante, em!

 

 

4 Comentários

  1. Waldir Martins Machado
    17 de maio de 2012

    Muito bom! Esta é a grande questão. Se fizermos uma varredura hoje protestantismo encontraremos gente de mente boa e aberta produzindo coisas boas.Abraço!

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  2. NAUM ALVES DE SOUZA
    8 de agosto de 2013

    CARO MARCOS ALMEIDA: FINALMENTE LEIO UM TEXTO SOBRE MEU TRABALHO QUE FALA DO PROTESTANTISMO NELE PRESENTE. EXCETO A OBSERVAÇAO FERINA DO GRANDE DIRETOR FLAVIO RANGEL, POUCAS VEZES NOTARAM A INFLUENCIA DE MINHA FORMAÇAO PRESBITERIANA. AGRADEÇO MUITO. GRANDE ABRAÇO
    NAUM

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  3. Tainá
    12 de dezembro de 2013

    Onde posso encontrar o texto do Naum disponível?

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