Morre o poeta Mário Quintana

Postado por: em jun 4, 2013 | 2 Comentários

 

 

 

Morre o poeta Mário Quintana

Morre em Porto Alegre, aos 87 anos, o poeta Mário Quintana. O poeta estava internado desde sexta-feira. Ontem o estado de saúde dele se agravou com problemas cardíacos e respiratórios.

“Um anjo em forma de homem”. Assim – outro gaúcho – o escritor Érico Veríssimo, definia o amigo Mário Quintana. Quintana foi tão tipicamente gaúcho quanto à cuia do chimarrão. Para ele, tudo era motivo para fazer poesia. Dos pequenos aos grandes sentimentos da vida.  “Eu sou um menino por trás de uma vidraça. Nasci no ano da descoberta do gás neon”, dizia o poeta Mário Quintana.

Era uma noite gelada de julho de 1906 na cidade gaúcha de Alegrete, quase fronteira com a Argentina.

 

“Minha vida está nos meus poemas.
Meus poemas são eu mesmo.
Nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão”.

 

O poeta da prosa e do verso escreveu 56 livros. A inglesa Virginia Woolf e o francês Marcel Proust tiveram sorte. Ganharam o poeta como tradutor.

Escrevendo e fumando, hábito que lhe deixou uma saúde frágil. Mas nos passeios pela rua da praia em Porto Alegre, deixava a luz mansa do sol do outono gaúcho esquentar a vontade de escrever.

“O verdadeiro poeta não lê os outros poetas”, dizia ele. “Lê os classificados dos jornais, um lugar certo para aprender os sentimentos do povo”.

Quintana gostava de dizer que descobriu Porto Alegre como quem descobre os segredos de uma mulher. A cidade é ele. E suas frases, sua tiradas sobre o cotidiano se misturam como prima da cidade.

“sinto uma dor infinita das ruas de porto alegre onde jamais passarei…”

Um segredo Quintana guardou bem fundo no coração, nunca ninguém soube quem foi o grande amor do poeta. Dizia que eram três as suas amadas, mas não lhe citava os nomes. Para ele, elas sabiam, e isso era o suficiente.

“Uma musa é sempre um ponto de partida e não um ponto de chegada…”

Sempre viveu em hotéis. Era o jeito de estar só, acompanhado. E sussurrava: “moro dentro de mim mesmo”.

A infância era uma invenção do adulto, brincava o poeta.

E foi brincando com o alfabeto que ele escreveu para as crianças o batalhão das letras.

“com X se escreve xícara
Com X se escreve xixi.
Não faça xixi na xícara.
O que irão dizer de ti?”

Quando a prefeitura de Alegrete lhe pediu um verso para um monumento, Quintana mandou um recado:

“O engano em bronze, é um engano eterno”.

Perdeu nas três vezes em que se candidatou a uma cadeira da Academia Brasileira de Letras. E essa magoa Quintana fez questão de nunca esconder. “Quem será aceito três vezes era trágico, mas não será aceito pela quarta, quinta, sexta, sétima vez. Eu volto a persistir, uma coisa… seria cômico, não?”

Irônico, tinha sempre a resposta pra tudo em forma de poesia.

 

“A mentira é uma verdade que esqueceu de acontecer.”

“Fumar é uma maneira de suspirar, de queimar as ilusões perdidas.”

“A burrice é a dificuldade de entendimento que ocorre nas outras pessoas.”

“Uma vida não basta apenas ser vivida, também precisa ser sonhada.”

“A matemática é o pensamento sem dor.”

 

Quintana driblava a dificuldade e devolvia com poesia.

 

“Todos estes que aí estão atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!”

 

Mário Quintana
1906-1994

 

 

2 Comentários

  1. Silas
    4 de junho de 2013

    Emocionante. Me lembra muito Manoel de Barros, principalmente quando se refere a responder tudo em forma de poesia.
    Lindo!

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  2. Valder Damasceno
    4 de junho de 2013

    Nunca tive costume de ler muitos poetas, apesar da ousadia meio que irresponsável de escrever poemas desde muito novo. Mário Quintana foi o autor que me fez acreditar que a poesia vale a pena, mesmo que meus poemas não sejam conhecidos por ninguém.

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