Juliana Rodrigues/ Não precisa abrir o mar

Postado por: em mar 18, 2012 | 8 Comentários

Juliana Rodrigues está de volta ao Blog, dessa vez numa linda oração, ou seria poesia? Sábado Sarau Dominical apresenta a menina do desenho recitando as tensões da sua fé.

Não precisa abrir o mar

 

Não estou indo em direção ao escuro
Vejo tudo claramente
Eu acredito mas não confio
Há alguma relação?

Não vejo rebeldia, Senhor
Vejo chama ardente
Mas o fogo não prova
Ele queima e me prende

Derrete meus sentimentos
Deforma meus pensamentos
Transforma minhas expectativas
Em um grande montão de cinzas

Não estou indo em direção ao escuro
Há lâmpada para os meus pés
Há trevas a minha volta
Há alguma comunhão?

Só vejo acusação, Senhor
De quem deveria amar
E a voz da experiência
De quem não sabe falar

Palavras que deveriam suster
Derrubam pela forma de dizer
Cortam o coração já em pedaços
Não estreita, mas desata laços

Não estou indo em direção ao escuro
Meus pés não saem do chão
Não acredito mesmo vendo
Há algum explicação?

Ficou tudo mais escuro, Senhor
Foi a chama que apagou
Consumiu sem piedade
Até que nada restou

 

Os sonhos que entreguei

O quanto me dediquei

A pureza que ninguém viu

Também no fogo se omitiu
Não estou indo em direção ao escuro
Não esboço qualquer ação
Para aquilo que se extinguiu
Há alguma solução?

Se até aqui não foi Contigo, Senhor
Já não sei o que pensar
Se até aqui me enganei
Não quero mais me enganar

E como Esaú a procurar
Não encontro esse lugar
Não sei se sei me arrepender
Suponho escrava ainda ser

Não estou indo em direção ao escuro
Ainda sigo meu coração
Para os que estão nesse lugar
Há alguma canção?

Cante-me essa canção, Senhor
Com um presente tangível
E fale-me de um futuro
Sem que pareça impossível

 

Ressussita-me a paixão

Faz bater no coração

Transforma o luto em festa

Pois Tua bondade é o que me resta

 

Não estou indo em direção ao escuro

Mas ficou embasada a visão

Para quem não enxerga a regra

Há alguma salvação?

 

Não solta a minha mão, Senhor

Se não posso afundar

E a minha fé que é pequena

Pode até naufragar

 

Não precisa abrir o mar

Nem precisa o Sol parar

Só ameniza a minha dor

E traz de volta o primeiro amor

 

 

 

8 Comentários

  1. Sara
    18 de março de 2012

    Que lindo viu! isso é mesmo lindo, a capacidade de escrever poesia ao Senhor, enquanto os outros escrevem sobre tantas outras coisas.
    Quem nunca passou por isso q a poesia descreve? a necessidade de voltar ao primeiro, de sentir o fogo arder novamente.
    Muito lindo mesmo!!!!

    Reply
  2. Júlio Batista
    18 de março de 2012

    Estou sem palavras rsrsrs…

    Também me sinto assim

    Reply
  3. Juliana Rodrigues
    18 de março de 2012

    Como coloquei no e-mail Marcos, momento de reflexão na fé muito profundo.
    Não é nada fácil escapar da religiosidade. Quem nunca passou por ela, que atire a primeira pedra… Aliás! Parabéns se nunca passou! rs
    Depois de ser “crente xiita”, estou aqui, voltando, ou melhor, continuo a buscar o equilíbrio em todos os aspectos da fé, do amor, da esperança…
    Essa é a vida que levo agora, simples… Como diz uma pérola de Almir Sater e Renato Teixeira que postei no meu Facebook ontem:

    “Penso que cumprir a vida
    Seja simplesmente
    Compreender a marcha
    E ir tocando em frente”

    Acho que é isso… “Só levo a certeza de que muito pouco sei… Ou nada sei…”

    =)
    Paz!

    Reply
  4. Marino
    18 de março de 2012

    Belíssimo.

    Reply
  5. Bia
    19 de março de 2012

    Tem carinha de música! *-* Gostei muito, muito, muito… e disse tudo o que precisava ouvir, no caso, ler! Que Deus nos abençoe com mais coisas lindas como essa.

    Reply
  6. Ricardo Oliveira
    19 de março de 2012

    Deu vontade de compartilhar poesia por aqui… quem sabe toca alguém:

    Intenções

    Ele
    Deus
    como amigo,
    (com a melhor, a mais perfeita das intenções)
    escreve cartas de surpresas e
    arranca lágrima que
    desce
    o rosto
    e chega ao sorriso
    (aberto e trêmulo).
    .
    Ele
    Deus
    como pai,
    (com a melhor, a mais perfeita das intenções)
    abraça e revela
    que há eternidade aqui,
    antes do
    eterno
    ser.
    .
    Ele,
    Deus,
    como mãe
    (com a melhor, a mais perfeita das intenções)
    cobre, esconde,
    limpa o rosto, as mãos
    banha com óleo de cheiro indizível e
    canta pra que eu durma
    (sonhando com a alvorada
    e sua irmã, esperança –
    que há de vir com a melhor,
    a mais perfeita das intenções).

    Ricardo Oliveira
    março 2012

    Reply
  7. Aline P. Q. Moratti
    20 de março de 2012

    Simples e profundo, amei!!!!

    Reply
  8. Jônatas
    27 de junho de 2012

    Nossa! Lindo, Inspirador, Edificante.

    Reply

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