23 de Janeiro / Nossa Brasilidade no Paredão?

Postado por: em jan 23, 2012 | 2 Comentários

 

Mudando "o retrato" de Miche

Aos 55 anos, David Miche trazia o Exército de Salvação para o Brasil. Exatamente quando completávamos 100 anos de independência. Chegou ao Rio de Janeiro, com mulher e filhos, no dia oito de maio de 1922. Nove meses depois, produziu esse relato que o Reverendo Elben César chama de “um retrato do Brasil”. Pelo menos daquela época… Ou seria registro de uma   paisagem inalterada pelo tempo? Veja você:

 

Sem trabalhar.

“ O país é  imenso e seu solo muito produtivo. O café, o algodão e o cacau produzem aí em abundância, assim como todo tipo de cereais e frutas. O interior é rico em minas de ferro, de cobre etc. Porém, apesar desta fertilidade e fazendo exceção das classes favorecidas, é em geral um povo triste e infeliz. A ignorância, a doença e o pecado causam terríveis prejuízos, mas muitos deles almejam a fortuna a fim de aparecer… Para alcança-la, os escrúpulos não os tolhem. A maior parte não usa da verdade, engana, se apodera daquilo que não lhe pertence e perde a honra e consciência, para satisfazer sua sede de riquezas. A empregada ludibria a sua patroa e o empregado, o seu chefe: o homem de negócio sonega o fisco e o comerciante, a alfandega. Entretanto, o brasileiro possui também as suas qualidades. É muito hospitaleiro, amável e generosos. A embriaguez é desconhecida… Infelizmente, a instrução é muito pouco disseminada. Segundo uma estatística publicada em fevereiro de 1922, num jornal do Rio, O País, verifica-se que 80 por cento da população não sabe ler nem escrever. Por falta de conhecimentos, o povo é vítima de doenças que em sua maioria, poderiam ser evitadas. Se, por um lado, a febre amarela e a lepra estão em vias de regressão e desaparecimento, por outro, a tuberculose, a sífilis e os parasitas intestinais incidem em grande escala. Não só a licenciosidade, mas também a falta de higiene – especialmente o  estado deplorável em que se encontram as instalações sanitárias ­ – , contribuem para um pior estado de coisas. Enfim, a paixão do jogo a dinheiro – o “jogo do bicho” – se pratica em todas as classes da sociedade. O resultado é que muitos se endividam – aqueles mesmos que esperavam enriquecer-se rapidamente sem trabalhar.”

(pág. 125 e 126 do livro História da Evangelização do Brasil – Elben César)

 

Todo o texto poderia ser grifado. É uma preciosidade. Sua atualidade é constrangedora e humilha boa parte dos esforços que já fizemos para mudar esse nosso jeitinho. Tirando a parte do “a embriaguez é desconhecida”, dos “80 por cento da população” analfabeta, e outros pontos, ainda vemos muitos dos nossos irmãos esperando “enriquecer-se sem trabalhar”, muitos até religiosos (Kelly e Jakeline do BBB 12 não precisam levantar a mão), eles continuam apaixonados pelo jogo a dinheiro, não se importando em virar o bicho, “para satisfazer sua sede de riquezas”.

Apenas um parênteses para terminar. Me parece que a fé evangélica, neste caso,  tem o mesmo efeito que a fé católica em época de colonização indígena: ela se torna um palavra-adereço para uma vida sem Palavra encarnada. Tal qual  a água que molhava a cabeça do nativo tupi – que não entendia pativina de latim ou português decorado pelo jesuíta apressado – é também o famoso gesto-mão-pra-cima do “eu aceito a Jesus” destes temp(l)os tão modernos e líquidos onde navega o barquinho dos nossos desejos!

É por isso que abrimos esse espaço aqui na Rede. Um sítio para pensarmos e testemunharmos uma outra brasilidade que está aí e precisa ser contada.

Se você quer me ajudar a contar essa história, envie a antítese desse vergonhoso jeitinho já vivenciada e transformada em Arte. Coisas palpáveis, sem lero-lero,  como músicas, filmes, poemas, livros, danças, o que for, qualquer produção cultural interessante! Escolha a forma de me enviar e vamos abrir aqui uma vitrine desse novo jeito de ser:

Carta 

Av. Fortaleza 1500 Ap 203

CEP 29101 575

Bairro Itapoã Vila Velha – ES

A/C Marcos Almeida

 

     E-mail

marcos@palavrantiga.com

 

Abraço demorado

Marcos Almeida

2 Comentários

  1. Ramon Neves
    23 de janeiro de 2012

    Como ja comentei no facebook, é impossivel ir dormir sem antes dar uma passada no http://www.nossabrasilidade.com.br

    Concordo com suas palavras, vamos viver a palavra como ela eh e nao como nos convem!

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  2. 08 de Fevereiro / Manoel de Mello | nossabrasilidade.com.br
    8 de fevereiro de 2012

    […] (pág. 135 , História da Evangelização do Brasil,  Elben César) […]

    Reply

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