Juliana Rodrigues/ Não precisa abrir o mar
Juliana Rodrigues está de volta ao Blog, dessa vez numa linda oração, ou seria poesia? Sábado Sarau Dominical apresenta a menina do desenho recitando as tensões da sua fé.
Não precisa abrir o mar
Não estou indo em direção ao escuro
Vejo tudo claramente
Eu acredito mas não confio
Há alguma relação?
Não vejo rebeldia, Senhor
Vejo chama ardente
Mas o fogo não prova
Ele queima e me prende
Derrete meus sentimentos
Deforma meus pensamentos
Transforma minhas expectativas
Em um grande montão de cinzas
Não estou indo em direção ao escuro
Há lâmpada para os meus pés
Há trevas a minha volta
Há alguma comunhão?
Só vejo acusação, Senhor
De quem deveria amar
E a voz da experiência
De quem não sabe falar
Palavras que deveriam suster
Derrubam pela forma de dizer
Cortam o coração já em pedaços
Não estreita, mas desata laços
Não estou indo em direção ao escuro
Meus pés não saem do chão
Não acredito mesmo vendo
Há algum explicação?
Ficou tudo mais escuro, Senhor
Foi a chama que apagou
Consumiu sem piedade
Até que nada restou
Os sonhos que entreguei
O quanto me dediquei
A pureza que ninguém viu
Também no fogo se omitiu
Não estou indo em direção ao escuro
Não esboço qualquer ação
Para aquilo que se extinguiu
Há alguma solução?
Se até aqui não foi Contigo, Senhor
Já não sei o que pensar
Se até aqui me enganei
Não quero mais me enganar
E como Esaú a procurar
Não encontro esse lugar
Não sei se sei me arrepender
Suponho escrava ainda ser
Não estou indo em direção ao escuro
Ainda sigo meu coração
Para os que estão nesse lugar
Há alguma canção?
Cante-me essa canção, Senhor
Com um presente tangível
E fale-me de um futuro
Sem que pareça impossível
Ressussita-me a paixão
Faz bater no coração
Transforma o luto em festa
Pois Tua bondade é o que me resta
Não estou indo em direção ao escuro
Mas ficou embasada a visão
Para quem não enxerga a regra
Há alguma salvação?
Não solta a minha mão, Senhor
Se não posso afundar
E a minha fé que é pequena
Pode até naufragar
Não precisa abrir o mar
Nem precisa o Sol parar
Só ameniza a minha dor
E traz de volta o primeiro amor
8 Comentários
Sara
18 de março de 2012Que lindo viu! isso é mesmo lindo, a capacidade de escrever poesia ao Senhor, enquanto os outros escrevem sobre tantas outras coisas.
Quem nunca passou por isso q a poesia descreve? a necessidade de voltar ao primeiro, de sentir o fogo arder novamente.
Muito lindo mesmo!!!!
Júlio Batista
18 de março de 2012Estou sem palavras rsrsrs…
Também me sinto assim
Juliana Rodrigues
18 de março de 2012Como coloquei no e-mail Marcos, momento de reflexão na fé muito profundo.
Não é nada fácil escapar da religiosidade. Quem nunca passou por ela, que atire a primeira pedra… Aliás! Parabéns se nunca passou! rs
Depois de ser “crente xiita”, estou aqui, voltando, ou melhor, continuo a buscar o equilíbrio em todos os aspectos da fé, do amor, da esperança…
Essa é a vida que levo agora, simples… Como diz uma pérola de Almir Sater e Renato Teixeira que postei no meu Facebook ontem:
“Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Compreender a marcha
E ir tocando em frente”
Acho que é isso… “Só levo a certeza de que muito pouco sei… Ou nada sei…”
=)
Paz!
Marino
18 de março de 2012Belíssimo.
Bia
19 de março de 2012Tem carinha de música! *-* Gostei muito, muito, muito… e disse tudo o que precisava ouvir, no caso, ler! Que Deus nos abençoe com mais coisas lindas como essa.
Ricardo Oliveira
19 de março de 2012Deu vontade de compartilhar poesia por aqui… quem sabe toca alguém:
—
Intenções
Ele
Deus
como amigo,
(com a melhor, a mais perfeita das intenções)
escreve cartas de surpresas e
arranca lágrima que
desce
o rosto
e chega ao sorriso
(aberto e trêmulo).
.
Ele
Deus
como pai,
(com a melhor, a mais perfeita das intenções)
abraça e revela
que há eternidade aqui,
antes do
eterno
ser.
.
Ele,
Deus,
como mãe
(com a melhor, a mais perfeita das intenções)
cobre, esconde,
limpa o rosto, as mãos
banha com óleo de cheiro indizível e
canta pra que eu durma
(sonhando com a alvorada
e sua irmã, esperança –
que há de vir com a melhor,
a mais perfeita das intenções).
—
Ricardo Oliveira
março 2012
Aline P. Q. Moratti
20 de março de 2012Simples e profundo, amei!!!!
Jônatas
27 de junho de 2012Nossa! Lindo, Inspirador, Edificante.