20 de Janeiro / Murilo Mendes
Vinte
Parece que descobri um gênio. Estou aqui espantado com sua capacidade de produzir linguagem , de falar da Eternidade, de nos distraír com sua imagética. Senhoras e senhores, diretamente de Juiz de Fora: Murilo Mendes.
Viver organizando o diamante
(Intuindo sua face) e o escondendo,
Tratá-lo com ternura castigada.
Nem mesmo no deserto suspendê-lo.
Mas viver consumindo de sua graça.
Obedecer a este fogo frio
Que se resolve em ponto rarefeito.
Viver: do seu silêncio se aprendendo.
Não temer sua perda em noite obscura.
E do próprio diamante já esquecido,
Morrer, do seu esqueleto esvaziando:
Para vir a ser tudo, é preciso ser nada.
(São João da Cruz- Murilo Mendes)