22 de Janeiro / “eu sou brasileiro”

Postado por: em jan 22, 2012 | 1 comentário

Vinte e dois

 

O ‘desbocado’ Antonio Carlos de Brito aparece aqui mais comportado do que nunca. Nos versos a seguir, ele toma emprestado o principal tema deste Blog – IDENTIDADE –  e em 10 linhas ilustra a afirmação que nos inquieta: “sou brasileiro”. Vamos ouvir:

 

Sem Lero-lero

 

 

 

 

 

 

 

HÁ UMA GOTA DE SANGUE NO CARTÃO-POSTAL

 

Eu sou manhoso eu sou brasileiro

Finjo que vou mas não vou minha janela é

A moldura do luar do sertão

A verde mata nos olhos verdes da mulata

 

sou brasileiro e manhoso por isso dentro

da noite e de meu quarto fico cismando na beira

                                                              [de um rio

na imensa solidão de latidos e araras

lívido

de medo e de amor

 

     (HÁ UMA GOTA DE SANGUE NO CARTÃO-POSTAL – Antonio Carlos de Brito )

13 de Janeiro / Carlos Drummond de Andrade

Postado por: em jan 13, 2012 | Nenhum comentário

Treze

Meu amigo, vamos sofrer,
vamos beber, vamos ler jornal,
vamos dizer que a vida é ruim,
meu amigo, vamos sofrer.

Vamos fazer um poema
ou qualquer outra besteira.
Fitar por exemplo uma estrela
por muito tempo, muito tempo
e dar um suspiro fundo
ou qualquer outra besteira.

Vamos beber uísque, vamos
beber cerveja preta e barata,
beber, gritar e morrer,
ou, quem sabe? beber apenas.

Vamos xingar a mulher,
que está envenenando a vida
com seus olhos e suas mãos
e o corpo que tem dois seios
e tem um embigo também.
Meu amigo, vamos xingar
o corpo e tudo que é dele
e que nunca será alma.

Meu amigo, vamos cantar,
vamos chorar de mansinho
e ouvir muita vitrola,
depois embriagados vamos
beber mais outros sequestros
(o olhar obsceno e a mão idiota)
depois vomitar e cair
e dormir.

(Convite Triste Carlos Drummond de Andrade)

Brigado com o Mundo.

 

O que a poesia brasileira já disse sobre a amizade? Bem, imagine que são tantos textos sobre essa benção relacional que precisamos fazer uma série sobre o assunto. Começamos bem! Nessa fase irônica do mineiro de Itabira, o genial Carlos Drummond de Andrade aparece no nosso sítio brigando com o mundo! É verdade, Convite Triste como esse, seu Drummond, não deixou de estar impresso em centenas de mensagens trocadas numa sexta-feira durante o expediente de trabalho. Diluídos na embriaguez de novos contatos, daqueles amigos aparentes, que teimam em surgir por aí celebrando o desespero, o desencanto…

 

 

09 de Janeiro/ Carlos Saldanha

Postado por: em jan 9, 2012 | 1 comentário

                                                                                                    Nove

                                          SHEN HSIU

Havia um monje

Que lustrava a careca

Para que sua cabeça

Fosse como se um espelho:

Refletisse tudo

E não guardasse nada.

 

( Carlos Saldanha)

Não. Este aqui não é o produtor do filme a Era do Gelo. O Saldanha dessa brilhante tira poética faz parte da já mencionada Geração Marginal (aqui representada pelo Francisco Alvim – 08 – e Chacal – 05). Apareceu com esses dois senhores na famosa antologia “26 Poetas Hoje” organizada por Heloisa Buarque de Hollanda em 1975 no Rio de Janeiro. (Há muito tempo atrás não é?)