O Homem – Os Paralamas do Sucesso
Lutando no seu íntimo. Herbert Vianna não ignorou as dores do espírito em “O Homem”.
Ontem me coloquei a escrever sobre os limites da interpretação. Disse que só podemos dizer aquilo que pode ser dito. Significa que a vontade misteriosa do autor ao escolher este ou aquele símbolo continuará um grande e intocável mistério. Parece que a letra de uma canção pode adquirir qualidades de poema e como disse Mário Quintana; nunca me perguntes o assunto de um poema: um poema sempre fala de outra coisa.
Por outro lado, seria demais alienante e injustificável – diante da urgência prática da vida – dedicar tempo e recursos tentando untar com santo óleo a fronte mundana da nossa arte. Quando do tempo comunitário ou no devocional particular prefiro sempre a música sacra. Não é por falta de canções no nosso rico e diversificado hinário que aponto os símbolos de espiritualidade na música popular brasileira. Me parece, apenas, que a espiritualidade não se encontra confinada aos artefatos da religião (cristã ou não). O “assunto” em mim que conecta essa música de Rua com aquela música de Templo é o espírito. Assim como Milton Hatoum , “materialmente, não quero muito, espiritualmente, quero tudo”. Confesso essa fome espiritual e com isso não rejeito as maravilhas da natureza, a beleza e as incertezas da criação, nem o riso do amor erótico, nem digo que espírito e matéria podem ser experimentados separadamente. É na certeza dessa unidade real que empresto os meus ouvidos aos nossos poetas, tentando ouvir aquilo que não é partido. Aquilo que não ignora as dores do espírito.
Hoje, vamos de Paralamas do Sucesso com a música “O Homem”. Ouçam.
O Homem
De: Herbert Vianna e Bi Ribeiro
Intérprete: Os Paralamas do Sucesso
Disco: Selvagem?
Gravadora: EMI
Ano: 1986
O homem traz em si a santidade e o pecado
Lutando no seu íntimo
Sem que nenhum dos dois prevaleça
O homem tolo se põe a lutar por um lado
Até perceber
Que golpeia e sente a dor
Ele é o alvo da própria violência
Só então vê
Que às vezes o covarde é o que não mata
Que às vezes é o infiel que não trai
As vezes benfeitor é quem maltrata
Nenhuma doutrina mais me satisfaz
Nenhuma mais
9 Comentários
Jessé Teixeira
22 de outubro de 2013Marcos, gostaria de saber qual a possibilidade desta pesquisa virar um livro!! adorei a ideia deste projeto!!
Marcos Almeida
23 de outubro de 2013Meu desejo é que se torne um livro e que provoque essa reflexão sobre a presença do espiritual na arte popular (não litúrgica). Fico feliz que tenha se interessado. Abração.
Laisa
23 de outubro de 2013Nossa seria super interessante para passar a frente esse conhecimento. Muito boa ideia!
Neto Vilar
25 de novembro de 2014Marcos, e qual a previsão de lançamento desse livro? Já tens local e data?
Gabriel Douglas
22 de outubro de 2013A VERDADE é vista em a cada verso.
Kenny
30 de dezembro de 2013Marcos Almeida, obrigado por você abrir ainda mais a minha mente tanto com o palavrantiga e com suas reflexões !
Hilton Oliveira
21 de maio de 2014Marcos, sou grato a Deus por sua vida! Continue a nos presentar como esses textos maravilhosos, de muito riqueza! Obrigado!
Aline Almeida
7 de junho de 2014Quando se tornar um livro sem dúvidas, comprarei..e não apenas um exemplar. Belíssima proposta!
Eduardo Dimas
29 de julho de 2014Incrível as suas posts no site acredito que assim como a letra de Hebert Vianna existe algo que une o homem natural com o artista o engano isso sem duvidas é o fator que o interior do homem acusa todos os dias.