O Homem – Os Paralamas do Sucesso

Postado por: em out 22, 2013 | 9 Comentários

Lutando no seu íntimo. Herbert Vianna não ignorou as dores do espírito em “O Homem”.

Ontem me coloquei a escrever sobre os limites da interpretação. Disse que só podemos dizer aquilo que pode ser dito. Significa que a vontade misteriosa do autor ao escolher este ou aquele símbolo continuará um grande e intocável mistério. Parece que a letra de uma canção pode adquirir qualidades de poema e como disse Mário Quintana; nunca me perguntes o assunto de um poema: um poema sempre fala de outra coisa. 

Por outro lado, seria demais alienante e injustificável – diante da urgência prática da vida – dedicar tempo e recursos tentando untar com santo óleo a fronte mundana da nossa arte. Quando do tempo comunitário ou no devocional particular prefiro sempre a música sacra. Não é por falta de canções no nosso rico e diversificado hinário que aponto os símbolos de espiritualidade na música popular brasileira. Me parece, apenas, que a espiritualidade não se encontra confinada aos artefatos da religião (cristã ou não). O “assunto” em mim que conecta essa música de Rua com aquela música de Templo é o espírito. Assim como Milton Hatoum , materialmente, não quero muito, espiritualmente, quero tudo”. Confesso essa fome espiritual e com isso não rejeito as maravilhas da natureza, a beleza e as incertezas da criação, nem o riso do amor erótico, nem digo que espírito e matéria podem ser experimentados separadamente. É na certeza dessa unidade real que empresto os meus ouvidos aos nossos poetas, tentando ouvir aquilo que não é partido. Aquilo que não ignora as dores do espírito.

Hoje, vamos de Paralamas do Sucesso com a música “O Homem”. Ouçam.

O Homem

De: Herbert Vianna e Bi Ribeiro

Intérprete: Os Paralamas do Sucesso

Disco: Selvagem?

Gravadora: EMI

Ano: 1986

O homem traz em si a santidade e o pecado

Lutando no seu íntimo

Sem que nenhum dos dois prevaleça

O homem tolo se põe a lutar por um lado

Até perceber

Que golpeia e sente a dor

Ele é o alvo da própria violência

Só então vê

Que às vezes o covarde é o que não mata

Que às vezes é o infiel que não trai

As vezes benfeitor é quem maltrata

Nenhuma doutrina mais me satisfaz

Nenhuma mais

 

9 Comentários

  1. Jessé Teixeira
    22 de outubro de 2013

    Marcos, gostaria de saber qual a possibilidade desta pesquisa virar um livro!! adorei a ideia deste projeto!!

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    • Marcos Almeida
      23 de outubro de 2013

      Meu desejo é que se torne um livro e que provoque essa reflexão sobre a presença do espiritual na arte popular (não litúrgica). Fico feliz que tenha se interessado. Abração.

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      • Laisa
        23 de outubro de 2013

        Nossa seria super interessante para passar a frente esse conhecimento. Muito boa ideia!

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      • Neto Vilar
        25 de novembro de 2014

        Marcos, e qual a previsão de lançamento desse livro? Já tens local e data?

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  2. Gabriel Douglas
    22 de outubro de 2013

    A VERDADE é vista em a cada verso.

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  3. Kenny
    30 de dezembro de 2013

    Marcos Almeida, obrigado por você abrir ainda mais a minha mente tanto com o palavrantiga e com suas reflexões !

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  4. Hilton Oliveira
    21 de maio de 2014

    Marcos, sou grato a Deus por sua vida! Continue a nos presentar como esses textos maravilhosos, de muito riqueza! Obrigado!

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  5. Aline Almeida
    7 de junho de 2014

    Quando se tornar um livro sem dúvidas, comprarei..e não apenas um exemplar. Belíssima proposta!

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  6. Eduardo Dimas
    29 de julho de 2014

    Incrível as suas posts no site acredito que assim como a letra de Hebert Vianna existe algo que une o homem natural com o artista o engano isso sem duvidas é o fator que o interior do homem acusa todos os dias.

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