O que você quis dizer com isso?
O desafio é esse: interpretar a letra de uma canção! Qual o melhor jeito? Como chegar a uma conclusão certeira sobre o assunto e os conceitos colocados nos versos daquela obra? Francis Schaeffer dizia que “o cristão tem um fundamento para saber a diferença entre sujeito e objeto”. Isso quer dizer que é possível fazer uma primeira distinção aqui: criador não é criação, objeto artístico não é artista.
Vamos para as artes plásticas. Quando olhamos para uma obra de arte podemos notar aspectos da personalidade do criador, mas ninguém seria tolo o bastante para afirmar que basta apreciar um quadro de Leonardo Da Vinci para, milagrosamente, conseguirmos desvelar sua subjetividade criadora, seus dilemas, seus devaneios e tudo o que a obra – no final das contas – não diz!! Uma obra de arte por maior que seja não se iguala a dimensão do ser humano.
Ouça agora o poeta Mário Quintana, diretamente do seu delicioso “Caderno H”:
E nunca me perguntes o assunto de um poema: um poema sempre fala de outra coisa.
(O assunto)
A gente pensa uma coisa, acaba escrevendo outra e o leitor entende uma terceira coisa… e, enquanto se passa tudo isso, a coisa propriamente dita começa a desconfiar que não foi propriamente dita.
(A coisa)
Hahaha! Sempre quis dizer isso para todos os queridos amigos que ouvem minhas composições e insistentemente me perguntam qual é o assunto, qual é a coisa por trás dos versos! Hahaha! Me faltou gênio para dizer com essas palavras. Agora compenso na leitura dos grandes mestres! Bravo, Quintana!!! Então, vamos continuar o pensamento. O próprio Schaeffer, aquele do início do texto, me fez reconhecer que toda cultura estabelece historicamente um padrão que define um lugar para a comunicação. O apreciador só saberá o que o artista está dizendo caso compartilhe desse lugar de sintaxe. Para haver algum tipo de entendimento é preciso que compositor e ouvinte estejam inteirados do “vocabulário simbólico comum”. Ou daquele “núcleo sólido de proposições objetivas”. Chamo novamente o Quintana para nos ajudar:
Dizem eles, os pintores, que o assunto não passa de uma falta de assunto: tudo é apenas um jogo de cores e volumes. Mas eu, humanamente, continuo desconfiando que deve haver alguma diferença entre uma mulher nua e uma abóbora.
(Da arte pura)
Há, portanto, o que discernir numa obra de arte. Me permita dizer assim: se o compositor e ouvinte vivem num mesmo país, falam a mesma língua, compartilham de símbolos e realidades comuns, são educados numa mesma “escola”, é bem certo que os dois saibam a diferença entre o pensamento de Rookmaaker e Jean Paul Sartre. Além disso, o Google está aí pra que? Em outras palavras: existe informação na obra de arte, mas, a arte não é informação. A arte está em outro modo da realidade; se utiliza dos dados objetivos e metafóricos só para (misteriosamente) nos jogar bem perto da beleza, do simbólico e do sagrado. Só falta alguém me perguntar: o que você quis dizer com isso? hahaha!
20 Comentários
Rafael Nepomuceno
20 de abril de 2013Genial; só isso! hahaha.
Juliana Ramos
21 de abril de 2013muito bom mesmo.
Bibiana
21 de abril de 2013Demais! Me anima/inspira/instiga, seus posts Marcos!
🙂
Isabelly Machado
21 de abril de 2013O que voc quis dizer com isso? HAHAHAHAHAH’
ótimo texto. ;D
Gemima Martins
21 de abril de 2013perfect \o/
ELIANE MALVEIRA
21 de abril de 2013Mais didático impossível… Como pedagoga confesso que as vezes já me fiz a tal pergunta…(o q ‘ele’ quiz dizer…) e também já ‘tentei explicar para pessoas q começaram a ouvir Palavrantiga através de minha influência… Amo as palavras e gasto meu tempo com elas… Para aquilo q me falta o “gênio”, recorro a simplicidade da Palavra: retém o que é bom…
Jordan Magave
21 de abril de 2013Rookmaaker explica muito bem esse assunto no seu livro “A arte não precisa de justificativa”. Ótimo texto.
Sergio
21 de abril de 2013Mas, o que vc quis dizer com isto mesmo? Rsrsr
Na verdade, você conseguiu colocar em palavras a filosofia da hermeneutica de um forma inteligível.
Parabéns marquito.
Carolyn
21 de abril de 2013A poesia é cristalina para quem ouve Palavra e aprendeu o mínimo da essência da vida e do criador. Ainda vou contratar uma apresentação particular na minha casa(se aceitarem, claro).
Vanessa
21 de abril de 2013Perfeito! Nem sei o que falar, só penso! kk
Danilo Castro
21 de abril de 2013Muito bom, cara!
Guilherme
22 de abril de 2013Pra mim isso é estratégia do Marcos pra gente ficar ouvindo as músicas, prestar mais atenção e ficar viciado. AHHAHA
Brincadeiras a parte, excelente texto.
Debora tavares
22 de abril de 2013E é isso aí! A arte não precisa de justificativa.
Zhé Lopes
22 de abril de 2013Marcos, curti muito seu post e acabei criando um texto em meu blog sobre a nossa geração fast-food, e inclui o trecho do seu no final. Também falei um pouco de você. Se puder ler, fico grato.
http://compondoletras.blogspot.com.br/2013/04/geracao-fast-food.html
Vinícius
25 de abril de 2013Adoreeei o texto! Muito bom!
lucitania
27 de abril de 2013Bom demais, parabens filho, voce e genial.
Antonio
18 de maio de 2013Às vezes as músicas GOSPELs falam as mesmas coisas, usando as mesma expressões, não passando mensagem alguma, pois nossa mente já conhece o que está sendo dito e até o que virá na próxima estrofe… Já as poesias cantadas da Palavrantiga nos leva à reflexão do cristianismo e da nossa vida como cristãos… Isso me deixa fascinado.
Eles cantam as palavras que estão se tornando antiga, ultrapassada para muitos de nós…
O amor nos faz um…
Mônica
28 de maio de 2013Genial ! Muito inspirador e Esclarecedor.
Haa Como é lindo ver que na multidão das palavras existe sabedoria, tal que vai além do que esta escrito, tal que vai além do que é dito, tal que vai além do que é entendido.
Julio Cesar Correa
24 de setembro de 2013Isso só pode ser a manifestação da graça de Deus na vidas dos homens que morrem para si mesmos todos os dias e passam a viver a vida de Cristo caminhando sobre este mesmo chão aqui na cidade dos homens !!! rsrs
Nossa Brasilidade » O Homem – Os Paralamas do Sucesso
22 de outubro de 2013[…] mistério. Parece que a letra de uma canção pode adquirir qualidades de poema e como disse Mário Quintana; nunca me perguntes o assunto de um poema: um poema sempre fala de outra […]