06 de Janeiro / Guimarães Rosa
Seis
O Sertão de Guimarães Rosa é cheio de variações, de personagens que saltam do texto quase que palpáveis por serem todos soprados pelo próprio povo das Gerais. Povo de poesias… Aqui vai um pequeno trecho onde Riobaldo fala da alma e de ‘muita religião, seu moço!’. Um recorte precioso que exemplifica o sincretismo da nossa gente.
Como bem lembrou Gedeon Alencar, misturado somos todos. O protestantismo brasileiro [ representado a seguir pelo Matias-crente-metodista] também é miscigenado sim senhor; mas beber catolicismo, Cardéque e a religião de John Wesley no mesmo copo é de um paladar e duma sede que só poderia aparecer em Riobaldo – figura legítima de uma brasilidade que ainda está aí. Sem mais, com vocês, a lavra de Guimarães Rosa:
“ Hem? Hem? O que mais penso, testo e explico: todo-o-mundo é louco. O senhor, eu, nós, as pessoas todas. Por isso é que se carece principalmente de religião: para desendoidecer, desdoidar. Reza é que sara da loucura. No geral. Isso é que é a salvação-da-alma… Muita religião, seu moço! Eu cá, não perco ocasião de religião. Aproveito de todas. Bebo água de todo rio… Uma só, para mim é pouca, talvez não me chegue. Rezo cristão, católico, embrenho a certo; e aceito as preces de compadre meu Quelemém, doutrina dele, de Cardéque. Mas, quando posso, vou no Mindubim, onde um Matias é crente, metodista: a gente se acusa de pecador, lê alto a Bíblia, e ora, cantando hinos belos deles. Tudo me quieta, me suspende. Qualquer sombrinha me refresca. Mas é só muito provisório. Eu queria rezar – o tempo todo. Muita gente não me aprova, acham que lei de Deus é privilégios, invariável.”
1 Comentário
almir rafael
12 de janeiro de 2013ADORO ESSE HOMEM!