Mário Quintana e Simonami: duas alegrias entrelaçadas
por Mariany Rocha
Fugi da rotina há uns dias e conheci uma banda formada por curitibanos. Em meio a um festival de rock cristão conheci a simplicidade da canção, a calmaria das palavras e o encanto da poesia cantada. A delicadeza do tom, da voz rouca e o prazer nas coisas boas.
Sem superestimar os artistas, ainda há muito a saber sobre eles. Uma novidade para o mundo e para os meus ouvidos.
Quando voltei da viagem, procurei conhecer mais as músicas e me aprofundar nas letras. Uma verdadeira arte que me fez lembrar de um dos poemas de Mário Quintana – um que a professora de literatura do ensino médio me ensinou.
À direita, a sutileza da poesia, à esquerda, a canção. Alegria!
Uma Alegria Para Sempre – Mário Quintana
“As coisas que não conseguem ser
olvidadas continuam acontecendo.
Sentimo-las como da primeira vez,
sentimo-las fora do tempo,
nesse mundo do sempre onde as
datas não datam. Só no mundo do nunca
existem lápides… Que importa se –
depois de tudo – tenha “ela” partido,
casado, mudado, sumido, esquecido,
enganado, ou que quer que te haja
feito, em suma?
Joia Pra Alegria – Simonami (Alexandre Spiacci, Lilian Soares, Jean Costa, Fernanda Maleski, Layane Soares e Luis Fernando Diogo)
Dei um tiro na tristeza,
Se escondeu sob a mesa e voltou aqui
Dei um tiro na saudade
Ela usou maquiagem, e sorriu para mim
Tiveste uma parte da
sua vida que foi só tua e, esta, ela
jamais a poderá passar de ti para ninguém.
Assim as coisas vão e vão
Eu dei um joia pra alegria,
Feito um gato que não mia, passou e eu nem vi
Eu dei um joia pro sorriso,
Que se fez de difícil e sumiu de mim
Há bens inalienáveis, há certos momentos que,
ao contrário do que pensas,
fazem parte da tua vida presente
e não do teu passado.
Assim as coisas vão e vão…
E abrem-se no teu
;sorriso mesmo quando, deslembrado deles,
estiveres sorrindo a outras coisas.
Assim as coisas vão e vão…
Eu li no jornal que solidão faz mal, solidão faz mal
Eu li no jornal que solidão faz mal (2x)
Ah, nem queiras saber o quanto
deves à ingrata criatura…
Levando a vida com a barriga,
Não vai te fazer viver, tudo o que um dia você queria,
Mas por medo esqueceu porque!! (4x)
deves à ingrata criatura…
A thing of beauty is a joy for ever
disse, há cento e muitos anos, um poeta
inglês que não conseguiu morrer.”
Juliana Rodrigues/ Não precisa abrir o mar
Juliana Rodrigues está de volta ao Blog, dessa vez numa linda oração, ou seria poesia? Sábado Sarau Dominical apresenta a menina do desenho recitando as tensões da sua fé.
Não precisa abrir o mar
Não estou indo em direção ao escuro
Vejo tudo claramente
Eu acredito mas não confio
Há alguma relação?
Não vejo rebeldia, Senhor
Vejo chama ardente
Mas o fogo não prova
Ele queima e me prende
Derrete meus sentimentos
Deforma meus pensamentos
Transforma minhas expectativas
Em um grande montão de cinzas
Não estou indo em direção ao escuro
Há lâmpada para os meus pés
Há trevas a minha volta
Há alguma comunhão?
Só vejo acusação, Senhor
De quem deveria amar
E a voz da experiência
De quem não sabe falar
Palavras que deveriam suster
Derrubam pela forma de dizer
Cortam o coração já em pedaços
Não estreita, mas desata laços
Não estou indo em direção ao escuro
Meus pés não saem do chão
Não acredito mesmo vendo
Há algum explicação?
Ficou tudo mais escuro, Senhor
Foi a chama que apagou
Consumiu sem piedade
Até que nada restou
Os sonhos que entreguei
O quanto me dediquei
A pureza que ninguém viu
Também no fogo se omitiu
Não estou indo em direção ao escuro
Não esboço qualquer ação
Para aquilo que se extinguiu
Há alguma solução?
Se até aqui não foi Contigo, Senhor
Já não sei o que pensar
Se até aqui me enganei
Não quero mais me enganar
E como Esaú a procurar
Não encontro esse lugar
Não sei se sei me arrepender
Suponho escrava ainda ser
Não estou indo em direção ao escuro
Ainda sigo meu coração
Para os que estão nesse lugar
Há alguma canção?
Cante-me essa canção, Senhor
Com um presente tangível
E fale-me de um futuro
Sem que pareça impossível
Ressussita-me a paixão
Faz bater no coração
Transforma o luto em festa
Pois Tua bondade é o que me resta
Não estou indo em direção ao escuro
Mas ficou embasada a visão
Para quem não enxerga a regra
Há alguma salvação?
Não solta a minha mão, Senhor
Se não posso afundar
E a minha fé que é pequena
Pode até naufragar
Não precisa abrir o mar
Nem precisa o Sol parar
Só ameniza a minha dor
E traz de volta o primeiro amor
Sábado Sarau: Indústria da Música e o Projeto “Uma Noite em Recife”
Quarenta e cinco
No século passado, a indústria da música funcionava basicamente em cima dos seguintes elementos. Listo os essenciais:
– A Gravadora.
– O Diretor Artístico.
– Seu Estúdio de Gravação.
– O Artista.
– O Produto.
– A Distribuidora.
– A Propaganda.
– As Prateleiras.
– O Empresário do Artista.
– O Promotor de Eventos.
– O Público Consumidor.
Podemos dizer que, antes disso, quem viabilizava economicamente o ofício do artista era o mecenas (aristocracia, empresariado) ou a Igreja (protestante ou católica). Mas com a implantação da lógica industrial na esfera das artes e do entretenimento, a relação do artista com a obra de arte e seu público tomou outros contornos, mais parecidos com uma linha de montagem. Digamos que essa estrutura mencionada já enferrujou e em muitos aspectos já não funciona mais, principalmente depois da revolução da informação chamada Internet.
Pois bem, já estamos no século XXI há mais de doze anos! O Palavrantiga – banda que faço parte como vocalista, compositor e guitarrista – nasce nessa época, onde já se pode fazer música, empreender artisticamente algum produto e viabilizar financeiramente uma carreira, utilizando formas mais alternativas de sustentação. Redesenhando aquela estrutura, podemos pensar assim:
– O Artista
– A Arte
– O Público Interativo [Redes Sociais]
– O Mecenato Coletivo [individuos e empresas]
– As Diversas Formas de Gravação [Home Studio, Locação]
– A Distribuição Independente
– A Propaganda nas Redes Sociais [Radios sem jabá também entram aqui]
– O Produto sem Prateleira
– O Comércio Criativo
– O Promotor de Eventos.
– O Público Consumidor [Offline]
Sai dessa história os personagens: Gravadora, Diretor Artístico, Estúdio de Gravação da Empresa, Distribuidora e o sujeito chamado Empresário.
O público passa a formar par com o artista, participando inclusive do patrocínio de sua arte. É o que chamamos de mecenato coletivo; quando os seguidores do artista investem na confecção independente em troca de alguns benefícios exclusivos; deixam de estar na ponta extrema da indústria e são convidados a percorrer o ofício artístico desde o início da criação até o final, naquele momento comum da apreciação.
Sabendo assim que a gente decidiu chamar o público para sair da margem e entrar no rio. Deixar o lugar de apreciador para ser também patrocinador da arte que admira, se tornando assim cúmplice de um projeto, de uma profissão. Mas ,além disso, investindo em conteúdos e formas que abrem janelas para a nossa alma respirar outros ares, nessa nova época, nesse novo século.
O Sábado Sarau de hoje é Palavrantiga, “Uma Noite em Recife”. Conheça e participe desse sonho fora de linha!