24 de Janeiro / Aos nossos filhos
“Filho meu, ouve a instrução de teu pai, e não deixes o ensinamento de tua mãe”
Provérbios 1:8
Até ontem a noite eu poderia ler esse verso dentro da perspectiva de filho apenas. A não ser que eu me imaginasse pai, ali , durante a elaboração dessa reflexão, jamais saberia ler esse verso através das lentes da paternidade. Mas, dorme a noite, levanta-se o dia e tudo muda! Hoje recebi a inédita e arrebatadora notícia de que vou ser papai! Deus me abençoou! Está tecendo um bebê dentro da barriga de Débora; a vida já está aqui! Muita alegria.
Quando chega a hora de vir ao Nossa Brasilidade, para este encontro diário, Salomão, filho de Davi, grita das minhas anotações:
“Filho meu, ouve a instrução de teu pai, e não deixes o ensinamento de tua mãe”.
Bem, agora faço a leitura como pai e mais absurdo ainda: o que eu vou dizer para o meu filho!? Imediatamente surge a pergunta. Sim! Ele precisa ouvir uma instrução e ver um testemunho desse jovem senhor que vos escreve, e qual será?
Imagine ele lendo este Blog daqui alguns anos. Comparando as letras com a experiência cotidiana, a instrução verbal com a prática relacional… Dentro de mim uma esperança; de que estamos construindo aqui muito mais que uma catedral de palavras e imagens temporárias, mas tudo isso é vitrine de uma vida real e palpável.
Assim seja, e cada vez mais perto da plenitude.
Continuem enviando para cá as músicas, poesias, danças, malabares, performances, livros, artefatos criativos, seus testemunhos de uma vida real, para fazermos aqui uma grande exposição dessa brasilidade que é nossa e (sim) dos nossos filhos!
Alegria sempre!
Carta
Av. Fortaleza 1500 Ap 203
CEP 29101 575
Bairro Itapoã Vila Velha – ES
A/C Marcos Almeida
Um verso bem antigo, pra gente terminar:
“O ouvido distingue as palavras assim como o paladar distingue as comidas”
(Jó 2000 A.C)
22 de Janeiro / “eu sou brasileiro”
Vinte e dois
O ‘desbocado’ Antonio Carlos de Brito aparece aqui mais comportado do que nunca. Nos versos a seguir, ele toma emprestado o principal tema deste Blog – IDENTIDADE – e em 10 linhas ilustra a afirmação que nos inquieta: “sou brasileiro”. Vamos ouvir:
HÁ UMA GOTA DE SANGUE NO CARTÃO-POSTAL
Eu sou manhoso eu sou brasileiro
Finjo que vou mas não vou minha janela é
A moldura do luar do sertão
A verde mata nos olhos verdes da mulata
sou brasileiro e manhoso por isso dentro
da noite e de meu quarto fico cismando na beira
[de um rio
na imensa solidão de latidos e araras
lívido
de medo e de amor
(HÁ UMA GOTA DE SANGUE NO CARTÃO-POSTAL – Antonio Carlos de Brito )
21 de Janeiro / Sábado Sarau
Vinte um
Neste sítio recebo não só a visita de nomes ilustres, mas, alguns leitores inspiradíssimos e desconhecidos (pelo menos por enquanto) que andam deixando por aqui a sua palavra. A poesia deles enriquece demais essa brasilidade que é toda nossa.
É o caso do Igor José. Ele me enviou um livro inédito de sua autoria cheio de poemas. Os versos que vamos ler agora fazem parte dessa sua estreia. Vejam aí:
NA ESQUINA
Na esquina o poema me espera
Em cada árvore,
Em qualquer direção.
Na rua o poema me espreita
Atrás dos postes
Em cada curva.
Na esquina da rua o poema se revela
Em todo ato,
Em cada fato.
No poema a esquina é o meu lugar,
Na rua o poema é o meu luar,
O poema me espera e me espreita
Na rua, na esquina, em todo lugar.
( do livro “Não sei ser poeta” – Igor José)
A gentileza de José inspirou uma nova ideia para o nosso Blog. Que tal fazermos no sétimo dia da semana, o “Sábado Sarau”? Taí! Você pode enviar suas poesias, músicas, danças, pinturas, qualquer arte, que publicarei aqui para todo mundo ver.
Enviem seus devaneios, pensamentos, na métrica ou fora da métrica, em versos livres ou alexandrinos, não interessa a técnica apenas a verdade. Enviem!
Para isso, escolha:
Carta
Av. Fortaleza 1500 Ap 203
CEP 29101 575
Bairro Itapoã Vila Velha – ES
A/C Marcos Almeida
20 de Janeiro / Murilo Mendes
Vinte
Parece que descobri um gênio. Estou aqui espantado com sua capacidade de produzir linguagem , de falar da Eternidade, de nos distraír com sua imagética. Senhoras e senhores, diretamente de Juiz de Fora: Murilo Mendes.
Viver organizando o diamante
(Intuindo sua face) e o escondendo,
Tratá-lo com ternura castigada.
Nem mesmo no deserto suspendê-lo.
Mas viver consumindo de sua graça.
Obedecer a este fogo frio
Que se resolve em ponto rarefeito.
Viver: do seu silêncio se aprendendo.
Não temer sua perda em noite obscura.
E do próprio diamante já esquecido,
Morrer, do seu esqueleto esvaziando:
Para vir a ser tudo, é preciso ser nada.
(São João da Cruz- Murilo Mendes)
19 de Janeiro / Gastronomia
Dezenove
Alguns não sabem disso, mas, tenho colocado o texto a seguir como uma placa sobre a minha mesa. Quero olhar para ele todos os dias na intenção de que ele faça parte da minha estrutura: “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria e precedendo a honra vai a humildade” (Provérbios 15:33). Encontrei essa preciosidade num livro da Bíblia que de fato não é só uma reunião de livros milenares; é uma escola de vida prática. Tão prática que tem hora que me assusto.
Veja o que encontrei agora. Descobri que Jacó abençoou Aser, um dos seus doze filhos, com uma benção epecial: da boa gastronomia!
“Aser será famoso por sua comida deliciosa,
doces e guloseimas próprios de reis” (Genesis 49.20)
Que beleza! Comida, bebida, doces, festa, banquete, vinho, alegria.. a Bíblia acontece na vida real e é para mim o roteiro da vida real.
Logo que li esse trecho, lembrei de uma poetisa maranhense não muito conhecida.
E daí imaginei a gente juntar poesia e gastronomia aqui na cozinha. Quem sabe mais do que isso: a cozinha pode se tornar um lugar de encontro entre poetas e a Maravilhosa Graça, essa que nos abençoa e nos reconcilia com Deus.
Fiquei animado com a ideia!
Voltando à poetisa lembrada no meio desses devaneios, ela apareceu recentemente numa antologia que está quebrando recordes de venda: “Os cem melhores poemas brasileiros do século”. Liguei banquete com cozinha e cozinha com Utensílios. Aí está:
Para extrair
do alumínio seu lúmen
usaria
o desusado, exaurido verbo “haurir”
Arearia
panelas
à beira de um rio, mergulhada
no alumínio luzidio
– “haurindo-o” –
polindo-lhe
a índole de água
e o ímpeto de prata
com grãos
de ouro de areia
arearia
“ourada”
submersa em seu domínio
(Utensílios – Lu Menezes)