Tempo e Eternidade, Verde e Amarela.
A nossa brasilidade é essa contradição, um Brasil dentro de outro Brasil. Brasis que se misturam: cidadãos forasteiros juntos aos que se dizem apenas cidadãos. Nós somos um povo paradoxal; a nossa brasilidade é a brasilidade de nativos estrangeiros em convívio com os que se dizem apenas nativos. Somos assim desde tempos remotos. Tempo e eternidade, verde e amarela.
“Os cristãos, efetivamente, não se distinguem dos demais homens nem por sua terra, nem por sua fala, nem por seus costumes. Porque não habitam cidades exclusivamente suas, nem falam uma língua estranha, nem levam um estilo de vida à parte dos demais […]. Mas, habitando cidades gregas ou bárbaras, segundo a sorte que coube a cada um, e adaptando-se na vestimenta, alimentação e demais aspectos da vida aos usos e costumes de cada país, dão mostras de um teor particular de conduta, admirável e , por confissão de todos, surpreendente. Habitam suas próprias pátrias, mas como forasteiros; participam de tudo como cidadãos e suportam tudo como estrangeiros; toda terra estranha é para eles pátria, e toda pátria, terra estranha” (Carta a Diogneto – séc. 2 D.C.)
Marcos Almeida
P.S.: esse texto tem o mesmo título de uma canção inédita de minha autoria.
Eu li Nejar
Na estréia do solo “Eu Sarau”, eu li Nejar. Mas, antes tive o cuidado de apresentar o poeta para a platéia – numa rápida pesquisa, percebi que quase todos não o conheciam. Acho que curtiram muito; inclusive o episódio do meu encontro com ele no aeroporto, o início de uma amizade.
Um rapaz teceu elogios sinceros ao poeta no bate papo pós-show. Foi tão marcante a leitura da poesia “Ver o vento cair” que resolvi incluí-la na trilha sonora do filme que registra a minha volta aos palcos.
Eu e as flores (Nelson e Jair Cavaquinho)
Apresentamos aqui muito mais que canções populares. Nós estamos construindo um novo olhar sobre elas. Não é tanto o que olhar, mas como olhar. Insisti diversas vezes que na cultura pop, de qualquer povo, existe aquilo que chamamos de porosidade religiosa; quando expressões de espiritualidade transpiram nas confissões dos nossos artistas.
Certamente, podemos olhar uma mesma obra a partir de diversas entradas; nesta que ouviremos agora, temos pelo menos 3 aspectos muito interessantes: a chegada da Primavera com as flores, a impermanência da vida humana e o vértice poético no final, verticalizando a canção, transformando o samba em um hino ao Criador.
Com vocês, de uma pareceria com Jair do Cavaquinho, “Eu e as Flores” por ele; amigo de longa data, Nelson do Cavaquinho.
Eu e as Flores
(Nelson e Jair Cavaquinho)
Quando eu passo
Perto das flores
Quase elas dizem assim:
Vai que amanhã enfeitaremos o seu fim.
A nossa vida é tão curta
Estamos nesse mundo de passagem
Ó meu grande Deus, nosso Criador
A minha vida pertence ao Senhor.
Embarcação
Todo encontro é mágico;
um tipo raro de milagre.
Vivemos nas distâncias,
nas ilhas sem ponte de um mundo vasto.
Quem faz embarcação
atravessa a si mesmo,
toca um amigo,
paga o preço,
descobre o mundo.
(Marcos Almeida)
Mário Quintana e Simonami: duas alegrias entrelaçadas
por Mariany Rocha
Fugi da rotina há uns dias e conheci uma banda formada por curitibanos. Em meio a um festival de rock cristão conheci a simplicidade da canção, a calmaria das palavras e o encanto da poesia cantada. A delicadeza do tom, da voz rouca e o prazer nas coisas boas.
Sem superestimar os artistas, ainda há muito a saber sobre eles. Uma novidade para o mundo e para os meus ouvidos.
Quando voltei da viagem, procurei conhecer mais as músicas e me aprofundar nas letras. Uma verdadeira arte que me fez lembrar de um dos poemas de Mário Quintana – um que a professora de literatura do ensino médio me ensinou.
À direita, a sutileza da poesia, à esquerda, a canção. Alegria!
Uma Alegria Para Sempre – Mário Quintana
“As coisas que não conseguem ser
olvidadas continuam acontecendo.
Sentimo-las como da primeira vez,
sentimo-las fora do tempo,
nesse mundo do sempre onde as
datas não datam. Só no mundo do nunca
existem lápides… Que importa se –
depois de tudo – tenha “ela” partido,
casado, mudado, sumido, esquecido,
enganado, ou que quer que te haja
feito, em suma?
Joia Pra Alegria – Simonami (Alexandre Spiacci, Lilian Soares, Jean Costa, Fernanda Maleski, Layane Soares e Luis Fernando Diogo)
Dei um tiro na tristeza,
Se escondeu sob a mesa e voltou aqui
Dei um tiro na saudade
Ela usou maquiagem, e sorriu para mim
Tiveste uma parte da
sua vida que foi só tua e, esta, ela
jamais a poderá passar de ti para ninguém.
Assim as coisas vão e vão
Eu dei um joia pra alegria,
Feito um gato que não mia, passou e eu nem vi
Eu dei um joia pro sorriso,
Que se fez de difícil e sumiu de mim
Há bens inalienáveis, há certos momentos que,
ao contrário do que pensas,
fazem parte da tua vida presente
e não do teu passado.
Assim as coisas vão e vão…
E abrem-se no teu
;sorriso mesmo quando, deslembrado deles,
estiveres sorrindo a outras coisas.
Assim as coisas vão e vão…
Eu li no jornal que solidão faz mal, solidão faz mal
Eu li no jornal que solidão faz mal (2x)
Ah, nem queiras saber o quanto
deves à ingrata criatura…
Levando a vida com a barriga,
Não vai te fazer viver, tudo o que um dia você queria,
Mas por medo esqueceu porque!! (4x)
deves à ingrata criatura…
A thing of beauty is a joy for ever
disse, há cento e muitos anos, um poeta
inglês que não conseguiu morrer.”