A INVENÇÃO DO BRASIL

Postado por: em nov 3, 2011 | 9 comentários

 

Toda criação neste nosso horizonte temporal, aqui, neste chão empoeirado onde  nós pisamos, é feita a partir de algo já pronto, portanto; criar é tecer com os fios coloridos da dádiva!  É organizar materiais, descortinando pré-conceitos, abandonando estes conceitos ultrapassados a medida que estamos mais certos da liberdade. É  ver o antigo atravessando gerações ao ser atualizado por aqueles sujeitos que não desprezam suas raízes mas também não se ocultam diante do novo. Toda novidade, meu leitor, é invenção e essa tal invenção é isso mesmo que acabei de falar.

 

“O mais importante é inventar o Brasil que nós queremos” , determinou com coragem o antropólogo e conselheiro nacional Darcy Ribeiro. Disse isso com dedo em riste, prenunciando um tempo onde nós teríamos a ousadia de imaginar! E o que estamos tecendo com esses inúmeros fios? Com essas brasilidades  a nós apresentadas e aglutinadas nessa sopa cultual que é o Brasil? Muita forma ainda precisa de debate e é por isso que abri esse espaço para palpiteiros de plantão, estudiosos, artistas, professores, intelectuais, religiosos, ateus e desocupados que possam contestar toda essa invenção, como também compartilhar seus caminhos e ideias.

 

Sim! Daqui, deste lugarzinho bem simples onde habito, casado com Débora, amando sua companhia e seu frango com quiabo, correndo de vez em quando na Praia da Costa, rabiscando composições, rodando o Brasil com uma banda de rock, pregando o Evangelho  lá no Templo, fazendo tudo isso em português, em solo brasileiro, como cidadão brasileiro, daqui consigo inventar um país diferente daquele que me deram.

 

Não! Não se precipite em chamar isso de atrevimento descabido. Entro nessa aventura logo depois de rejeitar aquele dualismo hipócrita que dividia o mundo em gospel e secular. Como se isso fosse o mesmo que santo e profano![Pensou que eram sinônimos (?), esquece]Entro nessa depois que gravadoras viciadas naquelas enferrujadas estruturas de mercado me pedirem para ser mais secular (cortando expressões como ‘Tú és’, ‘Deus’ e ‘Senhor’ desse nosso rock brasileiro ‘?’), queriam me inculcar uma auto-censura típica de militares golpistas. Embarco nessa viagem depois de ver que a guerra do movimento gospel já está ganha, apesar de tanto fogo amigo ele conseguiu vencer  seus desafios internos e se mostrou vitorioso principalmente no campo da mídia. Uma guerra que durou pelo menos duas gerações. Hoje, por diversos fatores objetivos apresentados no processo civilizatório brasileiro, na formação   do nosso povo, no amadurecer das nossas explicações para a vida (religião e filosofia), a nossa polivalente geração nasce num outro mundo. Menos distantes, esses espaços antes tão determinados e tão bem repartidos estão mesmo é se misturando. É por isso que consigo imaginar um Brasil onde artistas cristãos recebam sua cidadania artística por causa da sua arte e não por causa da força de um mercado. Onde os parâmetros para classificar sua música sejam musicais ao invés de confessionais –  pois é verdade meu paciente leitor, somente aqui a confissão afro é chamada de brasileira (a famosa Umbanda Music que ampara 90% das letras da MPB contemporânea) mas  a confissão cristã (dos 90% de brasileiros, aquela inacreditável maioria católica e evangélica) é chamada de religiosa – MRB Música Religiosa Brasileira! Encaro esses obstáculos assumindo o conselho do grande Darcy Ribeiro, certo de que um Brasil mais justo na esfera social, mais transparente na sua administração pública, mais próspero economicamente, também deve ser mais cordial e generoso com qualquer um dos filhos, e com qualquer um dos artefatos produzidos por seus filhos, não interessando aqui a sua condição financeira, sua raça, sua  cor ou religião!

 

Sim! É claro que isso não acontecerá através de um decreto constitucional, mas somente quando outros brasileiros sonharem em inventar esse Brasil que acabei de falar. Um sonho só de todos nós.

 

Hoje em Vila Velha.

Marcos Almeida

 

 

Ninguém imaginava

Postado por: em out 13, 2011 | 11 comentários

 

No passado, ninguém imaginava um artista do movimento gospel no Faustão. Ninguém acreditava que esse movimento, que completa quase 40 anos, influenciaria outro ramo pentecostal do cristianismo; a renovação carismática católica. Ninguém imaginava que aquele mesmo mercado que renegou os cantores pioneiros da música evangélica, estaria louvando a força do principal nicho do mercado fonográfico brasileiro. Não só louvando, mas o mercado estaria cantando (ou contando) junto com os artistas os louros da próspera temporada da música religiosa. Ninguém imaginava que a música cristã seria um ótimo negócio. No passado… Sim, passou tanto tempo e precisamos recordar; ninguém imaginava que a explicação evangélica para a vida seria compartilhada por quase 30% da população do nosso país.
Falar de uma nova geração de brasileiros que crêem no Evangelho e que estão influenciando não só a esfera pística (esfera da fé) com teólogos, pastores e padres, mas estão dentro da esfera pública com políticos, assessores, ONGs, entrando nos tribunais com juízes, advogados e promotores. Falar dessa geração que está dentro do Jornal Nacional, da revista Época, da Veja, do quarto poder. Falar da Academia, da Universidade se abrindo para o pensamento cristão reformado, a fim de construir alguma coisa depois da desconstrução total promovida pelos pensadores da 3ª idade que agora se aposentam. Falar dessa geração é considerar que os cristãos dessa terra estão cada vez mais próximos do mundo, mais familiarizados com a rua, mais distantes daquela bolha que nos isolava do cotidiano. O Templo que antes só falava das coisas “do outro mundo” agora produz explicação para a vida prática das ruas, das casas, dos shoppings, a vida prática do Estado, aproximando mais ainda o Céu da Terra, reconciliando os extremos desenhados pela teologia de outrora. Isso vai dá o que falar…

É sobre isso que tanto falo com os amigos mais próximos e agora compartilho em fragmentos aqui no Blog.  Essa imersão no mundo, seja a partir de uma cosmovisão reformada ou pentecostal, traz consigo um movimento que reinterpretará a nossa identidade como povo. As formas de resolver as muitas tensões que surgem desse encontro já estão sendo esboçadas e trabalhadas na rua, na casa, no templo, na academia e nos palácios. Quem tiver ouvidos ouça, pois essa outra brasilidade já está aí!

Hoje em casa.

Abraço demorado.

Marcos Almeida

Identidade Nacional

Postado por: em set 23, 2011 | 9 comentários

Sobreviveram ao pré-conceito, àquela força restritiva imposta pela maioria sobre um pequeno e desorganizado grupo sem expressão política. Sobreviveram ao isolacionismo, não deixaram de produzir cultura que fizesse pontes para ligar diferentes geografias e pensamentos num diálogo em busca da paz. Sobreviveram ao poder reducionista do Mercado, não deixaram que sua música fosse identificada por uma prateleira da FNAC.
Estão avançando na luta pela cidadania artística, pela liberdade de ser brasileiro de outro jeito. Sobreviveram e estão construindo com criatividade e generosidade um lugar sem muros, nem cercas,aberto para visitas.
A nossa brasilidade é a brasilidade dos que creem e experimentam a Boa Nova, o Evangelho; daqueles que não negam o chão onde pisam nem se esquecem da Pátria que os criou – aquela Pátria que está pronta mas ainda não. Essa é a brasilidade dos sobreviventes, dos filhos destes também, que apoiados nessa herança de zelo e paixão pela Mensagem estão inventando artefatos, políticas, belezas, sermões, lugares, movimentos afim de que ninguém seja arremessado para fora da cultura,mas reconhecendo aqui mesmo – no meio do mundo – o lugar onde Deus continua nos livrando do mal. Onde seu povo vai se tornando um na diversidade, na riqueza de expressões que Ele mesmo nos mostra como insubstituível modelo.
O que nos faz brasileiros não é só uma língua, uma história e uma geografia em comum, é a liberdade de falar português com outra hermenêutica, com outra origem,com uma esperança absurda. De certa forma é uma brasilidade de gente que se sabe temporário, peregrinos, uma brasilidade hebraica, de quem é por enquanto e logo não será mais – daí o desapego, o descompromisso que nos torna mais leves para a invenção.
Alguém tem dúvida que a gente pode imbuir nessa amálgama tupiniquim um novo jeitinho que re-interpretará nossa identidade nacional?
Bora ver.

Hoje, no aeroporto de Confins, indo para Vitória.

Abraço demorado e bem vindo ao Blog.

Marcos Almeida.