28 de Janeiro / Sábado Sarau

Postado por: em jan 28, 2012 | 1 comentário

Vinte e oito

 Hoje é dia de ouvirmos os nossos leitores. O Sábado Sarau acontece toda semana e no final do texto você descobre como participar.

 

Quem dá o ar de sua graça agora é a leitora Ly Barros. Estudante de Produção Cultural  e muito simpática, enviou uma linda mensagem falando de como o Nossa Brasilidade tem inspirado seu ofício. Muito obrigado Ly!

 

Pois bem, o que ela trouxe é um livro muito comentado nesses últimos anos; O Evangelho Maltrapilho, de Brennan Manning.

A nossa dieta da imaginação está cada vez mais saborosa! Vamos degustar, com muito prazer, este trecho que ela mesma escolheu. Respire fundo e aproveite:

 

“A graça abunda em filmes, livros, romances e música contemporâneos. Se Deus não está no redemoinho, talvez esteja num filme de Woody Allen ou num show de Bruce Springsteen. A maior parte das pessoas compreende representações visuais e símbolos com mais facilidade do que a doutrina e o dogma. Certo teólogo opinou que o álbum Tunnel of Love, de Springsteen, no qual ele canta simbolicamente a respeito do pecado, da morte, do desespero e da redenção, é mais importante para os católicos do que a última visita do papa, que falou de moralidade apenas com base em proposições doutrinárias. Poetas foram sempre mais importantes e influentes que teólogos e bispos.”

   (pág. 52 e 53 do Evangelho Maltrapilho – Brennan Manning)

Leia e releia, mas não saia tirando onda com  o padre da sua paróquia. Esse ponto de vista só aumenta a responsabilidade do artista. Pense nisso…

Para enviar alguma poesia, livro que leu e gostou, discos, músicas, peças, textos, desenhos, quadros, ou qualquer artesanato que seja tecido na Esperança no meio do mundo, escolha o caminho:

 

Carta           

Av. Fortaleza 1500 Ap 203

CEP 29101 575

Bairro Itapoã Vila Velha – ES

A/C Marcos Almeida

 

 E-mail

marcos@palavrantiga.com

 

Até amanhã.

25 de Janeiro / O xiita gospel contra o mundo real.

Postado por: em jan 25, 2012 | 16 comentários

Vinte e cinco

Toda a produção cultural do nosso povo, dos religiosos aos ateus, nestes 500 anos de história, e não só daqui mas de todo o mundo, tem na seguinte certeza a  sua principal razão de ser:

“Ele fez tudo apropriado a seu tempo. Também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade; mesmo assim este não consegue compreender inteiramente o que Deus fez”

(Salomão 950 A.C.)

 

É como se coubesse dentro do nosso coração toda a eternidade, o mundo inteiro morando dentro da gente. Milhares de hóspedes, ideias e  experiências, tudo é enigma e mistério; tudo se esvai e fica, tudo dura e passa apressado, mas nunca  passa sem nos deixar marcados. A eternidade dentro de nós dói à beça. Dói demais!

Está aí o principal motivo para qualquer produção cultural; a fome de céu, ou, o mundo inteiro que mora dentro de nós e que carece de luz pois é só escuridão. Vivemos tateando no escuro, buscando alguma forma de encontrar qualquer janela que ilumine o ambiente misterioso que é o nosso coração. Uma janela apenas já iluminaria tudo.

 

É por isso que passei a compartilhar aqui no Nossa Brasilidade as implicações culturais dessa nossa estrutura; já que toda cultura é uma forma de se posicionar diante desse mistério absurdo! Agora, passo a transcrever também o nosso repertório  de música popular.  Seguindo a mesma ótica.

 

Quantos artistas conseguiram olhar para dentro e encontrar a estranha ideia da eternidade, o anseio pelo porvir, a vontade da duração, o susto diante da grandeza das coisas! Todos eles, posso afirmar, não conseguem se livrar desse incômodo!

Alguns xiitas do movimento gospel, aqueles “defensores” de Deus que fizeram a leitura errada desse texto, achando que esse sopro divino estaria circulando apenas no coração do religioso [ou melhor, da sua religião], não admitem que fora das suas cercas existam homens que anseiam pela eternidade. Nenhuma novidade nisso. Vamos pra frente, dando razão ao que é real.

Sem extremismos ou mentiras apologéticas, fiquem agora com Roberto e Erasmo Carlos – a parceria mais bem sucedida da música popular brasileira:

 

 

Desde o começo do mundo
Que o homem sonha com a paz
Ela está dentro dele mesmo
Ele tem a paz e não sabe
É só fechar os olhos e olhar pra dentro de si mesmo

Tanta gente se esqueceu
Que a verdade não mudou
Quando a paz foi ensinada
Pouca gente escutou
Meu Amigo volte logo
Venha ensinar meu povo
O amor é importante
Vem dizer tudo de novo

Outro dia, um cabeludo falou:
“Não importam os motivos da guerra
A paz ainda é mais importante que eles.
”Esta frase vive nos cabelos encaracolados
Das cucas maravilhosas
Mas se perdeu no labirinto
Dos pensamentos poluídos pela falta de amor.
Muita gente não ouviu porque não quis ouvir
Eles estão surdos !

Tanta gente se esqueceu
Que o amor só traz o bem
Que a covardia é surda
E só ouve o que convém
Mas meu Amigo volte logo
Vem olhar pelo meu povo
O amor é importante
Vem dizer tudo de novo

Um dia o ar se encheu de amor
E em todo o seu esplendor as vozes cantaram.
Seu canto ecoou pelos campos
Subiu as montanhas e chegou ao universo
E uma estrela brilhou mostrando o caminho
“Glória a Deus nas alturas
E paz na Terra aos homens de boa vontade”

Tanta gente se afastou
Do caminho que é de luz
Pouca gente se lembrou
Da mensagem que há na cruz
Meu Amigo volte logo
Venha ensinar meu povo
Que o amor é importante
Vem dizer tudo de novo

 

(Todos estão surdos Roberto Carlos – Erasmo Carlos)

24 de Janeiro / Aos nossos filhos

Postado por: em jan 24, 2012 | 3 comentários

“Filho meu, ouve a instrução de teu pai, e não deixes o ensinamento de tua mãe”
Provérbios 1:8

 

Até ontem a noite eu poderia ler esse verso dentro da perspectiva de filho apenas. A não ser que eu me imaginasse pai, ali , durante a elaboração dessa reflexão, jamais saberia ler esse verso através das lentes da paternidade. Mas, dorme a noite, levanta-se o dia e tudo muda! Hoje recebi a inédita e arrebatadora notícia de que vou ser papai! Deus me abençoou! Está tecendo um bebê dentro da barriga de Débora; a vida já está aqui! Muita alegria.

Quando chega a hora de vir ao Nossa Brasilidade, para este encontro diário, Salomão, filho de Davi, grita das minhas anotações:

“Filho meu, ouve a instrução de teu pai, e não deixes o ensinamento de tua mãe”.

Bem, agora faço a leitura como pai e mais absurdo ainda: o que eu vou dizer para o meu filho!? Imediatamente surge a pergunta. Sim! Ele precisa ouvir uma instrução e ver um testemunho desse jovem senhor que vos escreve, e qual será?

Imagine ele lendo este Blog daqui alguns anos. Comparando as letras com a experiência cotidiana, a instrução verbal com a prática relacional… Dentro de mim uma esperança; de que estamos construindo aqui muito mais que uma catedral de palavras e imagens temporárias, mas tudo isso é vitrine de uma vida real e palpável.

Assim seja, e cada vez mais perto da plenitude.

Continuem enviando para cá as músicas, poesias, danças, malabares, performances, livros, artefatos criativos, seus testemunhos de uma vida real, para fazermos aqui uma grande exposição dessa brasilidade que é nossa e (sim) dos nossos filhos!

 

Alegria sempre!

 

 

Carta        

Av. Fortaleza 1500 Ap 203

CEP 29101 575

Bairro Itapoã Vila Velha – ES

A/C Marcos Almeida

 

E-mail

marcos@palavrantiga.com

 

   Um verso bem antigo, pra gente terminar:

“O ouvido distingue as palavras assim como o paladar distingue as comidas”

(Jó  2000 A.C)

23 de Janeiro / Nossa Brasilidade no Paredão?

Postado por: em jan 23, 2012 | 2 comentários

 

Mudando "o retrato" de Miche

Aos 55 anos, David Miche trazia o Exército de Salvação para o Brasil. Exatamente quando completávamos 100 anos de independência. Chegou ao Rio de Janeiro, com mulher e filhos, no dia oito de maio de 1922. Nove meses depois, produziu esse relato que o Reverendo Elben César chama de “um retrato do Brasil”. Pelo menos daquela época… Ou seria registro de uma   paisagem inalterada pelo tempo? Veja você:

 

Sem trabalhar.

“ O país é  imenso e seu solo muito produtivo. O café, o algodão e o cacau produzem aí em abundância, assim como todo tipo de cereais e frutas. O interior é rico em minas de ferro, de cobre etc. Porém, apesar desta fertilidade e fazendo exceção das classes favorecidas, é em geral um povo triste e infeliz. A ignorância, a doença e o pecado causam terríveis prejuízos, mas muitos deles almejam a fortuna a fim de aparecer… Para alcança-la, os escrúpulos não os tolhem. A maior parte não usa da verdade, engana, se apodera daquilo que não lhe pertence e perde a honra e consciência, para satisfazer sua sede de riquezas. A empregada ludibria a sua patroa e o empregado, o seu chefe: o homem de negócio sonega o fisco e o comerciante, a alfandega. Entretanto, o brasileiro possui também as suas qualidades. É muito hospitaleiro, amável e generosos. A embriaguez é desconhecida… Infelizmente, a instrução é muito pouco disseminada. Segundo uma estatística publicada em fevereiro de 1922, num jornal do Rio, O País, verifica-se que 80 por cento da população não sabe ler nem escrever. Por falta de conhecimentos, o povo é vítima de doenças que em sua maioria, poderiam ser evitadas. Se, por um lado, a febre amarela e a lepra estão em vias de regressão e desaparecimento, por outro, a tuberculose, a sífilis e os parasitas intestinais incidem em grande escala. Não só a licenciosidade, mas também a falta de higiene – especialmente o  estado deplorável em que se encontram as instalações sanitárias ­ – , contribuem para um pior estado de coisas. Enfim, a paixão do jogo a dinheiro – o “jogo do bicho” – se pratica em todas as classes da sociedade. O resultado é que muitos se endividam – aqueles mesmos que esperavam enriquecer-se rapidamente sem trabalhar.”

(pág. 125 e 126 do livro História da Evangelização do Brasil – Elben César)

 

Todo o texto poderia ser grifado. É uma preciosidade. Sua atualidade é constrangedora e humilha boa parte dos esforços que já fizemos para mudar esse nosso jeitinho. Tirando a parte do “a embriaguez é desconhecida”, dos “80 por cento da população” analfabeta, e outros pontos, ainda vemos muitos dos nossos irmãos esperando “enriquecer-se sem trabalhar”, muitos até religiosos (Kelly e Jakeline do BBB 12 não precisam levantar a mão), eles continuam apaixonados pelo jogo a dinheiro, não se importando em virar o bicho, “para satisfazer sua sede de riquezas”.

Apenas um parênteses para terminar. Me parece que a fé evangélica, neste caso,  tem o mesmo efeito que a fé católica em época de colonização indígena: ela se torna um palavra-adereço para uma vida sem Palavra encarnada. Tal qual  a água que molhava a cabeça do nativo tupi – que não entendia pativina de latim ou português decorado pelo jesuíta apressado – é também o famoso gesto-mão-pra-cima do “eu aceito a Jesus” destes temp(l)os tão modernos e líquidos onde navega o barquinho dos nossos desejos!

É por isso que abrimos esse espaço aqui na Rede. Um sítio para pensarmos e testemunharmos uma outra brasilidade que está aí e precisa ser contada.

Se você quer me ajudar a contar essa história, envie a antítese desse vergonhoso jeitinho já vivenciada e transformada em Arte. Coisas palpáveis, sem lero-lero,  como músicas, filmes, poemas, livros, danças, o que for, qualquer produção cultural interessante! Escolha a forma de me enviar e vamos abrir aqui uma vitrine desse novo jeito de ser:

Carta 

Av. Fortaleza 1500 Ap 203

CEP 29101 575

Bairro Itapoã Vila Velha – ES

A/C Marcos Almeida

 

     E-mail

marcos@palavrantiga.com

 

Abraço demorado

Marcos Almeida

22 de Janeiro / “eu sou brasileiro”

Postado por: em jan 22, 2012 | 1 comentário

Vinte e dois

 

O ‘desbocado’ Antonio Carlos de Brito aparece aqui mais comportado do que nunca. Nos versos a seguir, ele toma emprestado o principal tema deste Blog – IDENTIDADE –  e em 10 linhas ilustra a afirmação que nos inquieta: “sou brasileiro”. Vamos ouvir:

 

Sem Lero-lero

 

 

 

 

 

 

 

HÁ UMA GOTA DE SANGUE NO CARTÃO-POSTAL

 

Eu sou manhoso eu sou brasileiro

Finjo que vou mas não vou minha janela é

A moldura do luar do sertão

A verde mata nos olhos verdes da mulata

 

sou brasileiro e manhoso por isso dentro

da noite e de meu quarto fico cismando na beira

                                                              [de um rio

na imensa solidão de latidos e araras

lívido

de medo e de amor

 

     (HÁ UMA GOTA DE SANGUE NO CARTÃO-POSTAL – Antonio Carlos de Brito )