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INTERPRETANDO O MOVIMENTO GOSPEL: a vida continua.
Uma plataforma para a nova geração subir e fazer a história acontecer!
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TRÊS LIVROS PARA LER ANTES DE MORRER
para a Ultimato
Quem não tem Jardim Zoológico pode ir ao sítio do vizinho do seu amigo. Ver os pavões, as araras, o cavalo velho de olhar sonso, o faisão de crista amarela, aquele tanto de galinhas tagarelas, os patos, o porquinho rosa, a tartaruga solitária em sua banheira azul da cor do céu… De noite, que maravilha é ficar quietinho, parado olhando para o céu! Além do inexplicável encanto das estrelas, brota na gente um sentimento de que a natureza discursa sobre as grandezas e pequenezas da vida; grande é o céu e o que há de ser o homem?
Quem mora sozinho numa ilha pode ligar sua TV via satélite e assistir as novelas, os seriados, filmes e jornais que quase sempre falam sobre quão idiota pode ser o homem e como a gente quase sempre não fala daquilo que realmente importa: a angústia da alma. O homem logo descobre que não se parece com nada observável nos céus ou na terra; estrelas e tartarugas não servem para curar a tristeza crônica da gente. Daí escrevemos livros, gritamos no meio da ilha, cobrimos nossa vergonha com as folhas das figueiras da nossa própria autonomia. Dançamos loucos na areia da praia, rolamos nas dunas, batemos na pele do tambor, inventamos um remédio, mas o tédio nos aflige quase sempre, pois a nossa criação não serve para solucionar nada, apenas para expor a verdade: vivemos numa praia de nudismo e não tem ninguém em forma.
Quem anda entre animais e pessoas, não perde por esperar. Quando a vida se arrasta movida por um vento franco, soprado pelo lenga-lenga da TV, entre o mistério do planeta e pessoas esquisitas entrando na sua ilha, eis que surge o milagre! O sol redobra o calor, os céus estão sem nuvem, a poeira sobe em espiral numa velocidade assustadora formando um redemoinho, falando com a gente! Engraçado, a voz de dentro do redemoinho pergunta: ‘ei, onde você estava?’. Finalmente! Ele nos encontrou.
Você não deveria morrer agora
Querido leitor, você não deveria morrer agora. Morrer antes de ler esses três livros que acabei de resenhar nos parágrafos acima seria uma grande tragédia. O primeiro se chama ‘A Natureza’ e pode ser encontrado inclusive nas piores livrarias da sua cidade. Cuidado: não fique procurando apenas nas folhas, árvores, riachos e animais, seus próprios olhos fazem parte de algo muito complexo chamado corpo humano, capítulo importante nessa aventura selvagem.
O segundo título foi editado no decorrer dos séculos com o seguinte letreiro estampado na capa: “A Cultura’. As benditas livrarias buscam exclusividade do material, mas esse precioso livro não cabe nas prateleiras convencionais. Um detalhe sobre ele: nunca fica pronto. “A Cultura” é uma grande história sem fim. Até quem nunca aprendeu as letras participa com belíssimas histórias, algumas delas são bastante conhecidas! Esse monumental registro da nossa capacidade criativa só não é mais exuberante que o terceiro livro.
“A Revelação” é o Criador tomando forma. É ao mesmo tempo a mais aguardada das publicações como também a inesperada obra que ao invés de ser lida, nos lê. Ninguém poderia imaginar que “A Revelação” seria também o primeiro livro transformado em palavra escrita [muitos o chamam de Bíblia]. Por causa dele “A Cultura” veio a existir e “A Natureza” foi reconhecida pelo o que ela é: uma irmã do homem, não uma mãe doidona que fica assombrando o cara da ilha. Um final antes do final surge revirando tudo de novo, uma última epifania, a mais suprema…. Sei que você já está aflito para começar a leitura dos três. Bem, eu espero que você leia até a derradeira página – se tiver tempo, é claro. Antes de pegar no sono. Antes da novela te fazer um legítimo e entediado bobo da corte. Antes de morrer. Antes do Final.
Marcos Almeida
[ Semanalmente escrevo para a Ultimato Online . Uma coluna especial para um dos portais mais influentes do Brasil ]
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A Umbanda Music e o Samba sem Farofa
A música sacra afro-brasileira – utilizada especificamente nos cultos aos orixás – foi, no entendimento dos estudiosos do samba, a engrenagem desse estilo musical que ainda hoje é chamado de ‘o ritmo do Brasil’; esse som brasileiro tem na dança religiosa dos negros sua grande matriz. Bantos e iorubás (principais povos africanos trazidos para cá), de acordo com Reginaldo Prandi, só formaram de fato uma religião própria a partir da segunda metade do século XIX – nessa mesma época chegaram os primeiros missionários protestantes ao Brasil, quando também se organizou as igrejas históricas (congregacional, presbiteriana, metodista e batista). O Protestantismo Tupiniquim e o Candomblé, portanto, fazem aniversário no mesmo tempo. Lá se vão cento e sessenta anos!
Muito tem sido investigado sobre a “contribuição evangélica à cultura brasileira”.Gedeon Alencar, cientista da religião e escritor, nos provocou recentemente a respeito desse tema. Logo que comecei a escrever sobre a nossa brasilidade, suas inquietações emergiram dessas águas misteriosas por onde navego enquanto descubro esse mar de informações. Para Alencar, o nosso protestantismo atual é “ambíguo, pluralista, intermediário, carnavalesco, sincrético… nem branco nem preto. Protestantismo Tupiniquim Mulato”. Mas, antes de se construir esse jeito evangélico, essa atitude antropofágica em relação a cultura, onde tudo que é mundano vira gospel, “lavando e santificando” os ritmos, esportes, tvs, rádios, cinemas e etc , antes disso, a classe média branca e católica deu uma outra resposta ao samba de terreiro logo no início de tudo; lá nos temos de Pixinguinha e Donga [frequentadores dos terreiros], nesse tempo, já existia Noel Rosa, Braguinha e Almirante com um projeto: fazer um samba sem farofá.
A filha carioca do Candomblé – a Umbanda – e também o samba, surgem quase que ao mesmo tempo, “nos anos 20 e 30 do século passado, ambos frutos do mesmo processo de valorização da mestiçagem que caracterizou aqueles anos e de construção de uma identidade mestiça para o Brasil” (Prandi) . Esse mesmo autor aqui citado catalogou e publicou 761 letras da MPB com referência a orixás e outros elementos das religiões afro-brasileiras. Entre o nascimento do samba e os dias de hoje (passe o olho na nova geração da chamada música popular) existe uma grande quantidade de termos explícitos da confissão mística do candomblé, o que chamo em contraste ao gospel brasileiro de umbanda music. Vinícius de Morais, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, Clara Nunes, Ivete Sangalo, Jorge Ben Jor, Lenine, Céu, Maria Betânia, Elis Regina, Ivan Lins, Maria Gadú, Seu Jorge, Roberta Sá, para não falar dos sambistas Martinho da Vila, Arlindo Cruz e Lecy Brandão, artistas da música erudita como Villa Lobos, Carlos Alberto Pinto da Fonseca, todos eles e muitos outros do rock nacional também se renderam à uma confissão religiosa, a saber a Umbanda e o Candomblé. Não é a toa que acho muito estranho chamarmos somente a música de confissão cristã de religiosa… Não é a toa que acho esquisito chamarmos uma confissão específica [a que exalta o panteão afro] de tipicamente brasileira e a outra de “gospel”, uma coisa a parte… Você não acha?
Mas, como já disse anteriormente, lá no início já havia gente que não se sentia a vontade com a temática ou a visão de mundo da umbanda music e nem por isso foram lançados para fora da cultura, criando um segmento ‘confessional’ por não reproduzirem o canto dos terreiros. Em algum momento de suas carreiras, estes artistas cantaram outro universo diferente daquele cantado pela grande maioria da MPB. Entre eles podemos citar, além de Noel Rosa, Braguinha e Almirante, o nosso sambista realista Nelson do Cavaquinho, Tom Jobim, Milton Nascimento e a turma do Clube da Esquina, Los Hermanos, Legião Urbana e o mais famoso deles, Roberto Carlos. Se o pesquisador Reginaldo Prandi se utilizou de recursos públicos e de uma equipe de colaboradores para fazer uma lista de composições com referencias à poesia afro, por que não fazer o mesmo investigando a marca cristã dentro da música popular brasileira? Estou convencido de que a turma que gasta tempo criticando a própria família da fé daria contribuição mais digna ao Reino empenhando forças nesta direção, no mínimo a nossa cultura seria mais enriquecida com trabalho tão importante. Certamente vamos encontrar muitos e geniais artistas como o grande cantador Elomar cujo lema é “servir a Deus e cantar o sertão”. E o caso do Noel? Ouça aí: “A vila tem um feitiço sem farofa/ Sem vela e sem vintém/Que nos faz bem”.
Em Janeiro deste ano, a presidente (a) Dilma sancionou uma lei que altera a famosa Lei Rouanet para estender benefícios da renúncia fiscal à música religiosa, o texto diz: “Para os efeitos desta Lei, ficam reconhecidos como manifestação cultural a música gospel e os eventos a ela relacionados, exceto aqueles promovidos por igrejas.” Isso já é uma avanço no sentido de atualizar o discurso da nossa identidade brasileira – algo parecido com o que foi feito no início do século passado com relação a mestiçagem e ao negro – pois seria absurdo ignorar a força da música evangélica. Não interessa aqui o esforço político envolvido nessa mudança. No entanto, algo além disso está claro para mim: a nova geração, naturalmente vai construir uma nova música brasileira tendo uma outra matriz para a sua confecção, que não é a umbanda music, nem o pessimismo filosófico do rock oitentista, mas a herança cristã que o jovem e contraditório movimento gospel divulgou e em muitos casos renegou. Não precisa acender sua vela. Essa música já está ai!
[ Esse texto você encontra também na Ultimato Online. Toda sexta-feira uma coluna especial para o portal da revista cristã mais influente do Brasil]
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A Alma Brasileira
Marcos Almeida para a Ultimato
Qual a origem? O que é que fica? O que é que muda? Boas perguntas para o tema da semana: identidade
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Tufi Duek / Moda não tem pátria
O estilista e empresário carioca, criador das marcas Triton e Forum, Tufi Duek fala sobre o que é moda brasileira. Vamos ouvir: