Sambas-enredo 2012: Umbanda Music ?
Quarenta e seis
Qual o enredo de Vila Isabel em 2012? Uma amostra de umbanda music? Angola,tambores, terreiros, tia Ciata, ‘a negra vocação’, ‘a pura raiz do samba’ , ‘incorpora kizomba’, ‘solo feiticeiro’, ‘escravidão’, ‘a fé’, ‘os rituais’… A herança verdadeira? A identidade do negro brasileiro? Leia abaixo o texto completo do samba. Mas antes uma definição:
“O samba-enredo, também chamado de samba de enredo, é um sub-gênero do samba moderno, surgido no Rio de Janeiro na década de 1930, feito especificamente para o desfile de uma escola de samba. Anualmente, as escolas de samba costumam promover concursos internos, onde várias músicas são apresentadas ao público em suas quadras, onde ao final, normalmente entre os meses de setembro e outubro, uma delas é escolhida como samba-enredo oficial para o Carnaval do ano seguinte. Algumas vezes, opta-se por fundir dois ou mais sambas-enredo que sejam do agrado dos membros da escola.[1] O samba campeão embala a escola durante a fase de preparação, ensaios técnicos até ser apresentado no desfile de carnaval. Para que um samba seja considerado samba-enredo, o mesmo deve retratar o enredo escolhido pela comissão de carnaval da escola (não confundir enredo com tema).”
“Você Semba Lá… Que Eu Sambo Cá! O Canto Livre de Angola”
[Vila Isabel 2012]
Compositores: Arlindo Cruz, André Diniz, Evandro Bocão, Leonel e Artur das Ferragens
Intérprete: Tinga
Semba de lá, que eu sambo de cá
Já clareou o dia de paz
Vai ressoar o canto livre
Nos meus tambores, o sonho vive
Vibra óh minha vila
A sua alma tem negra vocação
Somos a pura raiz do samba
Bate meu peito à sua pulsação
Incorpora outra vez kizomba e segue na missão
Tambor africano ecoando, solo feiticeiro
Na cor da pele, o negro
Fogo aos olhos que invadem,
Pra quem é de lá
Forja o orgulho, chama pra lutar
Reina ginga ê matamba vem ver a lua de luanda nos guiar
Reina ginga ê matamba negra de zambi, sua terra é seu altar
Somos cultura que embarca
Navio negreiro, correntes da escravidão
Temos o sangue de angola
Correndo na veia, luta e libertação
A saga de ancestrais
Que por aqui perpetuou
A fé, os rituais, um elo de amor
Pelos terreiros (dança, jongo, capoeira)
Nasci o samba (ao sabor de um chorinho)
Tia ciata embalou
Com braços de violões e cavaquinhos a tocar
Nesse cortejo (a herança verdadeira)
A nossa vila (agradece com carinho)
Viva o povo de angola e o negro rei martinho
Semba de lá, que eu sambo de cá,
Já clareou o dia de paz
Vai ressoar o canto livre
Nos meus tambores, o sonho vive
Sábado Sarau: Indústria da Música e o Projeto “Uma Noite em Recife”
Quarenta e cinco
No século passado, a indústria da música funcionava basicamente em cima dos seguintes elementos. Listo os essenciais:
– A Gravadora.
– O Diretor Artístico.
– Seu Estúdio de Gravação.
– O Artista.
– O Produto.
– A Distribuidora.
– A Propaganda.
– As Prateleiras.
– O Empresário do Artista.
– O Promotor de Eventos.
– O Público Consumidor.
Podemos dizer que, antes disso, quem viabilizava economicamente o ofício do artista era o mecenas (aristocracia, empresariado) ou a Igreja (protestante ou católica). Mas com a implantação da lógica industrial na esfera das artes e do entretenimento, a relação do artista com a obra de arte e seu público tomou outros contornos, mais parecidos com uma linha de montagem. Digamos que essa estrutura mencionada já enferrujou e em muitos aspectos já não funciona mais, principalmente depois da revolução da informação chamada Internet.
Pois bem, já estamos no século XXI há mais de doze anos! O Palavrantiga – banda que faço parte como vocalista, compositor e guitarrista – nasce nessa época, onde já se pode fazer música, empreender artisticamente algum produto e viabilizar financeiramente uma carreira, utilizando formas mais alternativas de sustentação. Redesenhando aquela estrutura, podemos pensar assim:
– O Artista
– A Arte
– O Público Interativo [Redes Sociais]
– O Mecenato Coletivo [individuos e empresas]
– As Diversas Formas de Gravação [Home Studio, Locação]
– A Distribuição Independente
– A Propaganda nas Redes Sociais [Radios sem jabá também entram aqui]
– O Produto sem Prateleira
– O Comércio Criativo
– O Promotor de Eventos.
– O Público Consumidor [Offline]
Sai dessa história os personagens: Gravadora, Diretor Artístico, Estúdio de Gravação da Empresa, Distribuidora e o sujeito chamado Empresário.
O público passa a formar par com o artista, participando inclusive do patrocínio de sua arte. É o que chamamos de mecenato coletivo; quando os seguidores do artista investem na confecção independente em troca de alguns benefícios exclusivos; deixam de estar na ponta extrema da indústria e são convidados a percorrer o ofício artístico desde o início da criação até o final, naquele momento comum da apreciação.
Sabendo assim que a gente decidiu chamar o público para sair da margem e entrar no rio. Deixar o lugar de apreciador para ser também patrocinador da arte que admira, se tornando assim cúmplice de um projeto, de uma profissão. Mas ,além disso, investindo em conteúdos e formas que abrem janelas para a nossa alma respirar outros ares, nessa nova época, nesse novo século.
O Sábado Sarau de hoje é Palavrantiga, “Uma Noite em Recife”. Conheça e participe desse sonho fora de linha!
Freyre se esqueceu da Festa? Mas não só ele.
Quarenta e quatro
A resposta de Gilberto Freyre no suposto documento citado nos comentários do último post não menciona o movimento modernista do grupo Festa (1927), dirigido por Tasso da Silveira, onde reuniam-se católicos engajados com as modernas fórmulas artísticas, bebendo da fonte viva da tradição simbolista, afim de expressar um misticismo luminoso e profundo.
“A resposta que ele chegou naquela época foi muito dramática; não, os cristãos brasileiros até então [1960] não haviam deixado um legado cultural” (Gerson)
O ‘Imperador das Ideias’ – como era conhecido Freyre – não ter considerado esse movimento digno da sua citação dentro do que chamamos “contribuição cristã na história da arte no Brasil” é por certo intrigante, já que quase todos os grandes livros sobre a história da literatura nacional (Bosi, Nejar, Massaud) reverenciam esse grupo como força importante dentro do modernismo brasileiro.
Não foi apenas Freyre quem se esqueceu da Festa. Essa ala de grandes estandartes como Cecília Meireles, Andrade Muricy, Tristão de Athayde, Henrique Abílio, Adelino Magalhães e Adonias Filho nunca foi mencionada em nenhum encontro de arte e espiritualidade que participei nesses últimos anos, onde tenta-se catar alguma referencia de engajamento na cultura como se estivéssemos órfãos de qualquer inteligência antecessora, como se estivéssemos sempre que começar do zero, inventando e reinventando a roda.
Nem precisa lembrar de Murilo Mendes, aquele que “jamais caiu em formas antiquadas de apologética”. Não precisa mencionar a contemporânea de Divinópolis, da cidade de Deus, lá das Minas, nossa Adélia Prado. Vamos ficar, por enquanto, apenas na década de 1930 tentando ouvir – como se fosse a primeira vez – esse canto místico de poetas cheios de fé!
Vamos pelos caminhos deste mundo.
Há visões de beleza imemoriais.
Das estrelas ao ritmo profundo,
Repetiremos passos ancestrais.
Vamos pelos caminhos deste mundo.
Há pratas ouros, sândalos, rosais.
Marcharemos ao ritmo profundo
Dos nossos pobres sonhos desiguais.
Do coração, ao ritmo profundo,
Seguiremos, serenos, sem alarde:
Nalgum porto remoto haverá paz.
Vamos pelos caminhos deste mundo.
Esquecerei que vieste muito tarde;
Esquecerás que vim cedo demais…
(Soneto XIII, Puro Canto, Tasso da Silveira)
Qual a marca dos cristãos dentro da história da arte no Brasil?
Quarenta e três
Fernando, leitor do Blog, enviou ontem a tarde um comentário muito oportuno sobre o post ópera Magdalena de Villa Lobos:
Semana de Arte Moderna, foi o grande evento que marcou a história da Arte no Brasil.
E no cristianismo, qual seria o grande evento que marcou a história do cristianismo no Brasil?
A primeira consideração que faço é esta: o seu comentário fala de duas histórias neste nosso horizonte temporal, aqui nas fronteiras do Brasil. História da Arte e História do Cristianismo. A Arte é um aspecto da realidade cujo núcleo de sentido é a Estética (norma da alusividade) e Cristianismo pertence à esfera Pística (norma da fé). Sabendo disso, seria inconsistente qualquer história que não diferencia as particularidades dessas modalidades que experimentamos no dia a dia – de forma inteira. O que podemos perguntar, sem achatar as estruturas soberanas de cada esfera, é o seguinte: qual a marca dos cristãos dentro da história da arte no Brasil?
Se você ler com carinho este Blog vai ver que tento responder essa pergunta diariamente. Provocando os visitantes, ensaiando opiniões e dando vários exemplos de autores e músicos que imbuíram na cultura marcas da sua criatividade sem perder a fé, nem a Esperança, nem o amor. Aproveito a deixa, Fernando, e compartilho outro grande nome do modernismo brasileiro, pertencente ao grupo Festa. Mário de Andrade fez o seguinte comentário a respeito dele:
Eu não sei nem me interessa saber a posição que assumirá futuramente na poesia contemporânea do Brasil, o canto claro e belo do poeta de O canto absoluto. Sei que, no momento, representa um fantasma quase insuportável, apavorando, castigando a maioria de nossas consciências individuais.
Seu misticismo incomoda muito poeta de grande porte até hoje!
O texto a seguir cita outros companheiros desse movimento que desejava mais que estética, queria o total e quem deseja o total não pode abrir mão da Fé. Aproveite a folia, Fernando! Tasso da Silveira de volta ao Nossa Brasilidade:
Ópera Magdalena, de Villa-Lobos
Ópera Magdalena, de Villa-Lobos, será apresentada em homenagem aos 90 anos da Semana de 1922
Por: Carina Matuda no site da Cultura News
14/02/2012 – Há exatos 90 anos, nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro, o Theatro Municipal de São Paulo foi o palco para um dos mais importantes movimentos artísticos do Brasil: a Semana de Arte Moderna. Para celebrar a data, uma programação especial está agendada para acontecer entre os próximos dias 15 e 26.
A comemoração incluirá duas óperas, sendo uma delas Magdalena, de Villa-Lobos, um espetáculo de dança e dois concertos. A ópera, rotulada por Villa-Lobos como uma ‘aventura musical’, estreiou na Broadway no ano de 1948 e só em 2002 teve sua première brasileira. Mas Magdalena, até o início de 2012, ainda não possuia encenação em São Paulo. Porém, esse fato mudará após a comemoração dos 90 anos da Semana de Arte Moderna.
O público poderá assistir também Andradiana, espetáculo em prólogo e 2 quadros, sendo o primeiro Camargo Guarnieri: Suíte Vila Ricae o segundo Pedro Malazarte. Encerra a programação a apresentação de Música de Câmara com o pianista Caio Pagano e o Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo.
Na Semana de 1922, nomes como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Heitor Villa-Lobos e Tarsila do Amaral apresentaram os novos ideais da arte e da cultura brasileira. Com esculturas, pinturas, palestras, apresentações musicais e outros, esse importante evento influenciou a arte nos anos que se postergaram a ele e, até hoje, demonstra sua grande importância.
Serviço:
Magdalena
Dias e horários: 15, às 20h; 17, às 20h; 19, às 18h, 23, às 20h, 25, às 20h
Ingressos: R$ 100, R$ 60 e R$ 40
Andradiana
Dias e horários: 16, às 20h; 18, às 20h; 24, às 20h; 26, às 18h
Ingressos: R$ 100, R$ 60 e R$ 40
Música de Câmara
Dia e horário: 25, às 16h
Ingressos: R$ 30, R$ 20 e R$ 10
Maiores informações pelo tel.: (11) 3397-0327 ou pelo site www.teatromunicipal.sp.gov.br