Estilo Musical e Circuito Cultural
O que aconteceu na Som Livre em 2012 que pode alterar a relação entre música e mercado?
Quando comecei a escrever no blog Nossa Brasilidade, uma missão se mostrava urgente: criar um novo vocabulário de comunicação que melhor correspondesse à confluência fé, pensamento e arte no século XXI.
Depois de três anos, acho que conseguimos alguns avanços:
1. A distinção entre estilo musical e circuito cultural.
Por ser de origem evangélica e gerada depois de 1985, qualquer música de crente vinha com o rótulo gospel. Até onde eu sei, foi na Som Livre, no ano de 2012, que isso deixou de ser uma regra. Depois de algumas longas conversas com diretores artísticos e departamento de comunicação da companhia, a Som Livre decidiu aderir à minha proposta de que era necessário usar parâmetros musicais para classificar música e trabalhar mercado utilizando a cena cultural do artista.
Ou seja, enquanto gênero musical a banda Palavrantiga era uma banda brasileira de rock. Mas, considerando mercado de atuação, a diversificada praça construída pelas igrejas evangélicas era o ponto de partida – aqui entraria alguns eventos de marca gospel e a efervescente cena hipster de produtores cristãos descontentes com o rumo do mercado de entretenimento religioso.
Quando no Itunes a pessoa responsável por categorizar os discos que lá chegava inseriu “rock nacional” e “música brasileira” no nosso registro, superamos quase vinte anos de um paradigma contraditório, auto punitivo, segregacionista, ultrapassado e vencedor. Sim! Porque isso aconteceu quando o Gospel estava celebrando o Troféu Promessas, o reconhecimento das grandes mídias, a inclusão na Lei Rouanet, os maiores cachês, uma rede astronômica de consumidores fiéis, o abraço da Regina Casé, enfim, o pós-movimento-gospel dava um pequeno e importantíssimo passo enquanto os representantes do outro modelo subiam no pódio para cantar o hino da vitória!
Distinguir música de mercado é uma tarefa para a nossa geração. Para que? Para que a esfera econômica não ultrapasse seus domínios. Para que som, silêncio e sentido não sejam organizados e classificados a partir da lógica do vendedor, mas a partir das estruturas da própria arte; portanto, categorias musicais para música, categorias mercadológicas para mercado. E, caramba, isto é fantástico: para que o mundo descobrisse a espiritualidade dentro da música não litúrgica! Ela está lá, como sempre esteve na poesia e em toda arte; ou seja, não é monopólio do mercado religioso. Mas, essa distinção, sobretudo, nos ajuda a viver uma vida mais plena.
Depois de três anos, acho que conseguimos alguns avanços. Distinguir gênero musical de circuito cultural é uma pequena amostra disso. Temos outras histórias para contar. Hoje, celebro, pela graça, esse pequeno e importantíssimo passo!
Marcos Almeida
Eu e as flores (Nelson e Jair Cavaquinho)
Apresentamos aqui muito mais que canções populares. Nós estamos construindo um novo olhar sobre elas. Não é tanto o que olhar, mas como olhar. Insisti diversas vezes que na cultura pop, de qualquer povo, existe aquilo que chamamos de porosidade religiosa; quando expressões de espiritualidade transpiram nas confissões dos nossos artistas.
Certamente, podemos olhar uma mesma obra a partir de diversas entradas; nesta que ouviremos agora, temos pelo menos 3 aspectos muito interessantes: a chegada da Primavera com as flores, a impermanência da vida humana e o vértice poético no final, verticalizando a canção, transformando o samba em um hino ao Criador.
Com vocês, de uma pareceria com Jair do Cavaquinho, “Eu e as Flores” por ele; amigo de longa data, Nelson do Cavaquinho.
Eu e as Flores
(Nelson e Jair Cavaquinho)
Quando eu passo
Perto das flores
Quase elas dizem assim:
Vai que amanhã enfeitaremos o seu fim.
A nossa vida é tão curta
Estamos nesse mundo de passagem
Ó meu grande Deus, nosso Criador
A minha vida pertence ao Senhor.
Banda Magda – Sabiá
Dica do dia. Direto de Nova York, a multicultural banda Magda fazendo um clássico de Luiz Gonzaga e Zé Dantas: Sabiá.
Viva a música brasileira!
VEM AÍ
Um novo site vem aí. Quero uma nova experiência de navegação; menos assuntos em janelas quadradas, mais espirais de conhecimentos que se conectam – onde não há divisões, apenas distintos aspectos da nossa brasilidade interagindo entre si, se completando.
Este espaço criativo receberá novos colaboradores de peso e estaremos cada vez mais próximos do sonho: que o Nossa Brasilidade seja um quintal de invenções, um recreio de artistas iluminados pela Beleza.
Direto do futuro,
Marcos Almeida.
Se uma profissão existe é porque tem alguém precisando dela
“Se uma profissão existe é porque tem alguém precisando dela”, respondeu tia Laudêmis deste lado da linha. A moça que ligou talvez não tenha se ligado tanto na resposta que recebeu, mas, quando atravessei a sala e fui atravessado por aquela frase, uma luz acendeu na minha mente! Anotei imediatamente cada palavra, enquanto agradecia minha tia querida. “Obrigado tia, precisava ouvir essa frase hoje! Brilhante!!!”. Ela riu e eu sai correndo pra escrever esse texto.
Se uma profissão existe é porque alguém precisa dela. Pra que um médico se não existem doentes? Pra que uma meretriz se não existem pervertidos? Pra que um conselheiro se não existem perdidos? Pra que um governante se não existe desordem? Pra que um artista se não existe feiura?
Se uma coisa existe, da sua performance alguém terá algum beneficio.
Se é intrinsecamente boa ou má, é assunto para outra ligação. Por enquanto, reverbera a frase simples e verdadeira de tia Laudêmis: “Se uma profissão existe é porque tem alguém precisando dela”.
E você: precisa de que?
M.