14 de Janeiro / Antonio Vieira
Quatorze
Antonio Vieira comenta sobre a amizade no seu “Sermão da Terceira Quarta-Feira da Quaresma” de 1670. O brilhante padre no mesmo parágrafo dá uma aula sobre o tema da semana, juntando filosofia, teologia e muita habilidade com as palavras – seu dom mais famoso. Vamos ouvi-lo.
“Nem deve passar sem advertência a repetição enfática, como que o Texto Sagrado depois de dizer: Assistebant coram Salomone , acrescenta: Patre ejus. Parece desnecessária esta nova expressão, pois de toda a narração da história contava ser Salomão Pai de Roboão. Mas foi nota e ponderação digníssima de se não dissimular, como de uma maior circunstância que notavelmente agrava o caso. Porque ainda que os Ministros de quem Salomão em sua vida se tinha servido junto a sua Pessoa, por serem Ministros do Rei mais sábio que teve o mundo, mereciam ser estimados, honrado e conservados no lugar que com ele tinham; só por serem Ministros de seu Pai (ainda que esse Pai não fora Salomão) se devia Roboão servir deles, e tê-los sempre junto a si, e fazer maior confiança da sua fidelidade, da sua verdade, do seu zelo e do seu amor, que do de todos os outros: Amicum tuum, et amicum patris tui ne dimiseris “Não abandones o teu amigo, nem o amigo de teu pai” Prov. 27:10: diz o Espírito Santo por boca do mesmo Salomão: o amigo que foi amigo de seu pai, não o apartes de ti. E que mais têm os amigos que foram amigos dos pais, do que os amigos novos e particulares dos filhos? Têm de mais aquela diferença que há entre o certo e o duvidoso. Os amigos novos que os filhos elegem, poderá ser que sejam bons e fiéis amigos; mas os que foram amigos dos pais, já é certo que o são, porque estes já estão experimentados e provados, aqueles ainda não. Até em Deus tem sua força esta consequência. Quando Deus apareceu a Moisés na Sarça, não sabendo ele quem era, disse-lhe: Ego Sum Deus Patris Tui: Eu sou o Deus de teu Pai: irás libertar o Povo e dir-lhe-ás, para que te dêem crédito, que o Deus de seus Pais te manda: Deus Patrum vestrorum misit me ad vos. Queria-os libertar do cativeiro de Faraó, e para os assegurar deste grande benefício, não só disse que era Deus que o podia fazer, mas que era Deus de seus Pais, para que estivessem certos que o faria. Por isso disse sabiamente Sócrates, que os mais seguros amigos são os que se herdaram. A amizade dos que se fazem de novo é duvidosa, a dos que se herdaram, e vem de pais a filhos, certa. E daqui conclui este famosíssimo Filósofo: Liberos haeredes esse non modo facultatum, sed amicitiarum paternarum. Que os filhos não só são, e devem ser herdeiros da fazenda dos pais, senão também dos amigos. Se Roboão assim como herdou a Coroa, herdara também os amigos de seu Pai, ele não perdera o Reino; mas porque herdando o Reino, quis fazer novos amigos, eles o perderam.”
3 Comentários
Paula Vieira
14 de janeiro de 2012Incrível!
Marcio Ribeiro
18 de janeiro de 2012Manow … é um trabalho historico o que tu tah fazendo !!! Parabens !!! Deus contigo !!!
nossabrasilidade » Literatura Brasileira
9 de maio de 2012[…] – Pe Antonio Vieira […]