REPENSANDO OS MODOS DE TRANSFORMAÇÃO CULTURAL – por Rodolfo Amorim

Postado por: em mar 26, 2018 | Um comentário

Quais seriam as melhores formas de se relacionar com a cultura?

 

No ano de 1951, o teólogo e eticista americano Richard Niebuhr lançou o aclamado livro Christ and Culture (Cristo e Cultura), mapeando as opções teológicas de entendimento da relação de Cristo com a cultura. Segundo Niebuhr, Cristo apresenta uma relação de transcendência com respeito à cultura, reconhecendo elementos positivos e negativos na mesma buscando, em última instância, sua transformação. Desse modo, Niebuhr rejeitou como “inferiores” as opções de rejeição cultural total ou de assimilação cultural por parte dos cristãos, as quais seriam modos extremos de entender o tema, assim como as visões “de centro” que enfatizavam a divisão da cultura em Dois Reinos paralelos e a relação sintética com a cultura, as quais representariam visões mais próximas da transformacionista, mas que careceriam, de algum modo, da simultânea radicalidade e integralidade do Evangelho.

 

Ainda que a visão de Niebuhr tenha encontrado alguma resistência a partir de distintas tradições cristãs, de anabatistas a católico-romanos, grande parte do ambiente evangelical internacional tem adotado os insights de Niebuhr e a visão transformacional como condição cristã padrão. Porém, algumas importantes críticas têm sido articuladas sobre os modos apropriados para se atingir algum tipo concreto de transformação cultural. Dentre as críticas correntes destaco a proposta de 1) presença fiel, articulada por James Davidson Hunter; a visão de 2) produção cultural, de Andy Crouch; e a ênfase em 3) formação de hábitos, de James K. A. Smith. Davidson Hunter enfatiza que apenas por meio de uma presença fiel, constante e servidora dos vocacionados cristãos na cultura podem suas estruturas e artefatos ser de algum modo transformados, incentivando também o abandono dos discursos triunfalistas sobre “mudar o mundo”, ou “implementar o reino de Deus”. Andy Crouch segue uma linha semelhante, porém enfatizando que culturas só se modificam com a produção de mais e melhores culturas, apontando opções concretas às pessoas em meio ao rico mercado de ideias e artefatos culturais. Mudar mentalidades nunca alcançaria, por si, a transformação de culturas. James K. A. Smith, por sua vez, enfatiza o aspecto profundamente formativo das rotinas e liturgias culturais, conclamando os cristãos a formarem seus amores de acordo com as imagens e ritmos do próprio Reino de Deus, criticando como insuficiente a ênfase recente no papel “fundamental” da adoção de uma cosmovisão cristã na transformação cultural. Os amores do coração, e não o conteúdo cognitivo das mentes, seria a verdadeira força que move e molda culturas.

 

Ainda que a visão transformacionista de Niebuhr desfrute de certo predomínio no contexto evangelical ocidental, cabe à Igreja de Cristo atentar para as necessárias correções apontadas por cristãos contemporâneos aos modos como a visão “niebuhrana” tem sido implementada. Em um contexto em que a Igreja evangélica nacional busca, ainda que de forma incipiente, as melhores formas de se relacionar com a cultura, devemos incorporar ao modelo transformacional os importantes insights das críticas encontradas nas propostas da presença fiel, da produção cultural e da formação de hábitos.

           Rodolfo Amorim

 

 

Texto gentilmente cedido pela Revista Box95, edição 13, Março 2018.

 

 

 

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1 Comentário

  1. Jonathan Smith
    26 de março de 2018

    Pura metanóia! Conhecimento transformador…

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