Resenha: “O sagrado e o profano na cultura pop”.
por Alexander De Bona Stahlhoefer[1]
Canta o poeta “é que o sagrado se tornou hilário”[2]. É no tom desta música que Abner Melanias embala seu ensaio filosófico-teológico sobre os conceitos de “sagrado” e “profano” na cultura pop publicado em Ebook pelo blog bibotalk.com.br.
Mais do que definir, conceituar ou interpretar filósofos, cientistas da religião ou teólogos, Melanias rele as obras de Madona, O Senhor dos Anéis, e Clube da Luta na intenção de desfazer a clássica dicotomia entre sagrado e profano.
Aquilo que Marcos Almeida se propôs a fazer em sua crítica à categorização musical por gênero religioso, diferenciando música “gospel” das demais simplesmente pela sua identificação confessional, é o que Melanias intenta levar adiante neste ebook.
O autor percebe estruturas religiosas amalgamadas à estética pop. São arquétipos, modelos, formas que, apesar de não comunicarem valores de uma religião em específico, brincam, criticam, releem os símbolos, normas e mitos das religiões criando uma nova e pós-moderna simbologia e mitologia pop. O sagrado se dilui no profano, a dessacralização do mito se reverte numa sacralização do profano.
Logo, não faz mais sentido exigir que o mundo seja preto e branco, e que a arte seja definida enquanto manifestação fechada da confissão religiosa do artista. Toda arte manifesta o que vai no fundo do espírito humano na busca por transcender a si mesmo. Tanto faz se esta manifestação é fruto de um cristianismo, budismo, culto afro, ou de uma filosofia existencialista, nihilista ou uma mescla “maluca” de tudo isto que citamos.
Melanias, enquanto cristão e se dirigindo ao público cristão, nos ajuda a iniciar um diálogo com arte da cultura pop, uma estética singular, ora voltada aos interesses mercadológicos, como no exemplo de Madonna, ora à critica ao sistema politico-economico em crise, como em O Senhor dos Anéis, ou ainda sacralizando a violência pela via ritualística, como em Clube da Luta. Neste diálogo percebemos a importância de perceber o quanto a estética carrega em si mesma um denso conteúdo ético e um poder de influência que até bem pouco tempo pertencia tão somente ao espaço do sagrado, ao culto religioso.
O fim da dicotomia sagrado/profano lança luz para nos ajudar a entender o fenômeno pós-moderno, sua filha, a cultura pop, e até mesmo a tentativa desesperada de uma religiosidade evangélica “na defensiva” que forma e formula para si mesma um gueto cultural, o gospel.
[1] Doutorando em Teologia Sistemática na Friedrich-Alexander Universität Erlangen-Nürnberg, Alemanha. Editor e podcaster do blog bibotalk.com.br
1 Comentário
joao lima
16 de dezembro de 2013cara comecei a me apaixonar pelas musicas de palavrantiga, logo em seguida vi muitos te4xtos teus e cara a brasileridade que já estava dentro de mim aflorou, como que a chegada da primavera, e todos agora veem em mim algo que eu não podia explicar com palavras, por isso uso a musica valeu Marcos Almeida, tu estas cotribuindo no meu crescimento como pessoa.