No limite da Língua; um novo caminho.
O vício de mercado “gospel/secular” continua torturando pessoas, mas por que elas ainda não se libertaram disso?
Quem toma partido, fica partido. Não canso de repetir. Como um juiz de direito que primeiro condena politicamente para depois avaliar o processo, nossos olhos e ouvidos estão condicionados ao partido ideológico que escolhemos nos filiar; vamos ver e ouvir o mundo de acordo com os nossos preconceitos. Quase sempre não temos tempo nem motivos para adiar juízos e ver as coisas como elas são.
A religião é boa para criar esteiras confortáveis de juízo. O recalque, o trauma, as neuroses estão aí elegendo valores ambivalentes para apontar o que é bom e o que não presta. A filosofia de cada dia repetindo o senso comum e o blábláblá sem fim. Temos de ter coragem para enfrentar esses limites que nos deram a religião, a psicologia, a filosofia e em última análise; a língua. Porque ninguém sabe reger a palavra, domar adjetivos, peneirar a linguagem. Lembra da Carta de Tiago?
a língua, porém,
ninguém consegue domar.
É um mal incontrolável,
cheio de veneno mortífero.
Com a língua bendizemos ao Senhor e Pai,
e com ela amaldiçoamos os homens,
feitos à semelhança de Deus.
Da mesma boca procedem bênção e maldição.
Meus irmãos, não pode ser assim!
(Tiago 3:8-10)
Qualquer leitor de inteligência razoável percebe que o irmão de Jesus não está falando de anatomia, mas de comunicação, de nomes, de sintaxe e hermenêuticas, de cochichos e discursos. Tiago fala da gramática cotidiana, sobre o absurdo que fazemos com o idioma. Com uma palavra podemos derrubar ou levantar, abençoar ou amaldiçoar os homens, feitos a semelhança de Deus. O que pode essa língua?
Vejam, por exemplo, os críticos musicais do nosso tempo, observem como eles usam a língua. Produzem textos mesquinhos que, quase sempre, não falam de música. Se debatem tentando criar tarjas e rótulos para as obras, como auxiliares de estoque num supermercado, responsáveis por organizar os produtos nas prateleiras. Vejam os críticos literários que não falam mais de literatura, apenas cultuam personalidades. Vejam de novo os juízes que não consideram mais a lei senão a política.
Muitos estão me perguntando o que acho sobre a revelação feita pelo jornalista Ricardo Alexandre sobre aquele episódio com a banda Catedral. Publiquei aqui no Blog o texto polêmico em que Ricardo confessa uma “máxima culpa” na confusão, divulga sua “desconfiança e antipatia” em relação ao gospel, onde também compara, entrelinhas, as novas bandas cristãs brasileiras com o quarteto carioca. A minha opinião sobre o assunto está impressa em cada texto que escrevi aqui, desde 23 de Setembro de 2011! Bem antes disso, também: procurem as entrevistas para o programa Frente, do Henrique Portugal; as aparições nas tvs (Rede Super, TV Horizonte, Rede Minas, Globo); os longos diálogos com a Billboard; aquele primeiro bate papo com o Rafael Porto, na época do Esperar é Caminhar; os devaneios e as invenções de categorias de pensamento amplamente divulgadas aqui. Ninguém prestou atenção que NUNCA trabalhamos com esse dualismo mercadológico gospel/secular? Não faz sentido deixar Ipanema para ir a Ipanema se já estamos em Ipanema! Não faz sentido para nós subjugar nossa arte à categorias de mercado! Estamos dizendo isso insistentemente, mas ninguém quer ouvir! Não entramos nessa discussão porque esses termos já corrompem qualquer conexão com a realidade. Tal diálogo é ficcional, no entanto, uma geração inteira vive achando que ele é real, como tem gente que jura de pés juntos ter visto Papai Noel descendo da lareira no Natal e outros que teimam em contar que seu guarda-roupas tem uma passagem para Nárnia. Infelizmente, tais discursos de ficção quando levados a sério demais, acabam por afetar a vida cotidiana das pessoas, destruindo aspectos tão preciosos do existir humano.
Vou parafrasear Gertrude Stein (1874-1946):
uma música é
uma música
é
uma
música
é
uma música!
A apreciação que deve ser feita não é do rótulo, não interessa qual prateleira ou corredor do mercado, as pessoas reais não visitam o WalMart para serem impedidas de mudar de corredor! As pessoas que conheço e que gostam de música querem a música.
Sabendo disso, eu me esforço para dialogar com as pessoas reais numa linguagem que corresponda a vida real, inteira, não compartimentada. Aliás, a força de uma língua está na capacidade de expressar necessidades de comunicação de um povo – e como necessitamos de integração! Ainda mais, como muitos estão adoecidos com essa gramática violenta que despedaça a realidade. Precisamos de mais coragem para inventar um novo léxico, aposentando velhas expressões, regendo com mais responsabilidade a boa palavra e criando um vocabulário mais amplo e generoso. As pessoas reais agradecem!
Qual minha opinião sobre o ocorrido? Parem de se torturar! Sigam um novo caminho!
Marcos Almeida
23 Comentários
Danilo Elias
13 de setembro de 2013Belissimo texto, que caiam os muros.
Mas não entendi que ocorrido foi esse. Talvez eu tenha me libertado tanto desse mundo “gospel” que nem sei mais o que acontece com ele.
Thiago Litwinczuk
13 de setembro de 2013ÓTIMO TEXTO MEU AMIGO, SUAS PALAVRAS SÃO ESCLARECEDORAS, SEMPRE SE DEIXE USAR.OBRIGADO
Juliana Vieira
13 de setembro de 2013Ow meu amigo, se voce quer pregar o Ecumenismo pregue para voce entre 4 paredes, agora para de ficar influenciando os outros.
Se sua banda não é gospel ou cristã, ela é o que? rock brasileiro? grandes merdas. E voce fica em cima do rumo, esperando onde voce vai se jogar se é do lado de Deus ou do lado do inimigo…a palavra é bem clara o homem nao pode seguir a dois Senhores, ou voce é crente ou voce nao é… que ridículo ate a pessoa conseguir descobrir que voce é cristão com seus métodos de se achar diferente de todo mundo e sair de um sistema, o cara ja foi pro inferno.
Se liga, desce do palco.
Adair Neto
13 de setembro de 2013Excelente texto! Quanto ao ecumenismo citado pela Juliana Vieira, não há nada de ecumênico no texto. Separar sagrado de profano é anti-bíblico. Pra Jesus, tudo é sagrado.
Muitas músicas de Davi, por exemplo, seriam consideradas “seculares” pelos crentes de hoje, mas não são. Davi tinha uma visão de sagrado muito mais ampla e divina do que a nossa.
João Carlos
13 de setembro de 2013Nossa, essa tá sabendo muito.
Isaque Oliveira
1 de outubro de 2013Puts!
Charles
13 de setembro de 2013“Pregar ecumenismo entre 4 paredes!?” kkkkkkkkk É disso que Marcos está falando quando diz sobre (Tiago 3:8-10) Uma questão de escolher e interpretar o que vc lê ou escuta meu irmão, Sem se preocupar se o produto vem do nicho que vc prefere,Ou da marca que vc mais admira . Eu ainda estou disposto a ouvir pessoas como Vc pra poder te dizer que vc entendeu tudo errado.
A banda do marco não é cristã, ele É, Entendeu?
Deborah
17 de setembro de 2013Você não entendeu nada do que ele escreveu. Se você acha que uma música pode levar alguém pro inferno, você precisa ler mais a Bíblia.
Excelente texto, Marcos!
“uma música é
uma música
é
uma
música
é
uma música!”
lucas martins
22 de setembro de 2013-> Nossa amada irmã deve conceituar “Ecumenismo” da forma correta e dizer aonde diabos o Marcos Almeida argumentou a favor dele.
-> Pregar pra si mesmo é uma contradição de termos. Se você prega, você prega para alguém.
-> É epistemologicamente impossível não influenciar ninguém, assim como é impossível não ser influenciado.
-> Eu só escuto música do mundo. Nunca tive contato com músicas extraterrestres. Ou seja, até a música “gospel” é contaminada pelo pecado; e até a música “do mundo” pode possuir valores do Reino de Deus. O muro que separa é o Evangelho, e não um termo mercadológico que só serve pra vender para um nicho que não lê Bíblia e, portanto, não pensa.
-> Gospel é mercado. E o deus do mercado é Mamom. Esse é o contexto do texto que você citou: ninguém pode servir a DEUS ou a Mamom (deus falso do dinheiro), porque amará um e desprezará o outro.
-> Crente, até o capeta é.
-> E quem precisa descer do palco é quem depende do Mercado Go$pel pra seus lucros e caprichos.
Sem mais nada a tratar,
Em Cristo,
Lucas Martins
Darlan Philipi
25 de setembro de 2013Comentário excelente!
Parabéns…
Silva
13 de setembro de 2013Concordo em gênero, número e grau.
Para ir e ser testemunha D”ele até os confins da terra é preciso primeiro estourar a bolha da religiosidade.
Gostei muito! Já favoritei o site.
Pablo Hanzo
13 de setembro de 2013Muito bom o texto e o seu ponto de vista! Me identifiquei bastante…
Édino
13 de setembro de 2013Bem isso. Quando quebrarmos os muros alcançaremos os de fora. Por enquanto, ainda precisamos vencer o preconceito dos “de dentro” (santa paciência!!!), ao mesmo tempo que enfrentamos o preconceito dos “de fora”. Coragem! Abraço.
Eduardo Leite
13 de setembro de 2013Sabe qual éo problema é que o homem coloca barreiras .. Vai não pare Marco prege o envangelho da maneira que o espirito Santo ministra em vc.. Tenha bom animo logo vamos para Casa .. God Bless
marcio
13 de setembro de 2013acho que uma banda como oficina g3 ou resgate ou mesmo palavrantinga podia tocar numa radio secular, como tocava o rodox, p.o.d., nao entendo essa barreira que se cria, vc liga o radio e tem o gilberto gil, a ivete sangalo, o rappa falando de macumba ou bandas como legiao urbana e capital incial assumidamente catolicas, o nando reis fez uma musica que tinha uma mantra budista, agora o evangelho, qdo fulano vai na globo, e um tal de parem o planeta… gnt… pow a pq sony por exemplo nao coloca o tanlan na programaçao da 89 por exemplo, nao coloca o leonardo gonçalves na nova brasil e por aee vai…
alexsandro alves
13 de setembro de 2013Oseias 4 : 6 meu povo perece por falta de conhecimento.A falta de cultura,ou ética construtiva,interfere no relacionamento sócio cultural afetando o desenvolvimento de pessoas que ficam limitadas (a ser religiosas)e abrem a boca e fala o que não sabe.Se eu canto em uma banda, musica romântica ,tanto o publico secular, quanto gospel ouvirá ,eu sendo evangélico isso não me fará mais ou menos cristão do que ninguém .As as pessoas não entendem o que é profissão e o que é trabalho. trabalho foi o que os discípulos fizeram e profissão era o que mateus fazia recolher ou cobrar impostos .Eu trabalho e pró do evangelho de cristo, mas tenho minhas profissões .É polemico musico evangélico em banda secular …espero que alguém entenda minha opinião sobre o tema.
fabio velame
14 de setembro de 2013O ponto que ninguém fala é a consequência de uma atitude inconsequente do tal jornalista.
A expressão foi registrada na época, e até provar que nariz de porco não é tomada, o quarteto carioca tomou muita sapatada e toma até hoje.
A galera tem o direito de não gostar da música ou do trabalho do Catedral,de um ou outro posicionamento do líder da banda, mas nesse caso específico, da atitude inconsequente do jornalista, repito foi o que criou todo o caos.
Thiago Lopes
14 de setembro de 2013Fazer diferença entre secular/gospel cria uma bipolaridade, deixando assim nossa imagem como se fôssemos alienígenas(isso aqui não pode que é do mundo), se estamos aqui devemos começar a nos comunicar como gente de verdade.
Lilian
16 de setembro de 2013Vim comentar aqui que aqui não deveria haver comentário algum. O que precisava ser dito já foi dito. Qualquer adendo seria entrar nessa discussão corrompendo qualquer conexão com a realidade, como foi dito. ALOW.
Nossa Brasilidade » A Catedral depois da tormenta.
20 de setembro de 2013[…] que pode essa língua? Foi a pergunta do último texto aqui do Blog. Estou comemorando esse vídeo porque ele representa o poder das palavras no sentido de […]
Bruno Anastacio
20 de setembro de 2013O problema de postar aqui no Brasil é: as pessoas simplesmente não conseguem interpretar o texto. Não sei se é por causa da má escolaridade, ou por causa do analfabetismo funcional que carregamos, mas o fato é que o blogueiro escreve “batata”, o primeiro que comenta entende “batuta”, e o que quer confrontar este não entende “bolhufas”.
Thiago Arthur
24 de setembro de 2013Valeu Marcos, valeu por compartilhar tudo isso e por ser usado por Deus tanto para quem não o conhece direito quanto para os cristãos que ainda precisam se desprender de algumas coisas bem importantes. Desde minha adolescência tenho visto muita coisa que bate com tudo que vejo em vocês, também sou músico e vocês estão me ajudando indiretamente em muitas coisas. Questão de vida mesmo. Espero um dia poder trocar uma idea com vocês do Palavrantiga. Deus abençoe, e bora continuar caminhando sobre o mesmo chão !
Isaque Oliveira
1 de outubro de 2013O que O Marcos revela aqui assim como a Banda Palavrantiga com suas letras e o Rock Nacional é uma intuição guardada no coração de todo Cristão que se prese.
Eu, no início de conversão, não entendia porque as músicas de Legião Urbana falava alguma coisa comigo. Não, não entendia mesmo. Achava que era coisa do Inimigo ou que era coisa da minha cabeça. De fato, era o sistema cultural Gospel dando suas falhas frente ao Sagrado. A vida mais ampla e toda experiência com o Eterno não se continha na Cultura produzida pelo dito Gospel, que enfiavam pela minha goela a baixo. Porque já que você se converteu você tem que consumir cultura de “Deus”, de “Igreja”, De “Crente”.
O caso do Catedral no tempo fiquei triste, porque nem fui averiguar os fatos. Fiquei triste por pensar que uma banda tinha renegado a Igreja para ser diferente, e porque ainda continuava gostando das músicas.
Se passava pela minha cabeça: Eles tocam bem e gosto da sacada deles de falar de temas outros, mas o sucesso subiu a cabeça e eles agora são do mundo.” É eu categorizava as coisas assim o lado de lá e o lado de cá diferente e melhor do que o lado de lá.
Mas nada como o tempo e as Experiências com Deus. Eu aprendi muito sobre Deus com coisas que não são da cultura Gospel secular.
E a intuição guardada lá no fundo do coração que a vida mais ampla e a experiência com Deus transpõe a barreira da Cultura Gospel ganhou força e ai Você se liberta. Vai além. Para ler, ouvir, ver e dizer que a vida está dentro de uma Experiência com Deus. Embora poucos terão discernimento de dizer ou identificar isso. Outros darão outros nomes, pelos quais não estou habituado, mas que no fundo tem a Deus como alvo de suas buscas e criações. E mesmo que não tenha, é a vida se celebra.