11 de Janeiro / Antonio Cicero
Onze
Guardar
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fita-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro
Do que um pássaro sem voos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guarda-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
(Antonio Cicero)
Idealizador do “Banco Nacional de Idéias”, Antonio Cicero é poeta e pensador. Palestrante em vários encontros filosóficos pelo mundo a fora, continua trabalhando a palavra entre o lirismo e a razão, testemunhando que poesia e filosofia moram debaixo do mesmo teto. Sua poética também virou verso de várias canções – mais de 100.
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9 de maio de 2012[…] – Antonio Cicero […]