10 de Fevereiro / Olavo Bilac
Quarenta e um
Sua poesia não interessava ao projeto modernista, era vesgo (por isso adotou o pince-nez , para camuflar a vesguice), o mais popular dos parnasianos, um patriota e gênio. Em dois tempos vamos ouví-lo, primeiro com “a língua portuguesa” depois com o soneto “Inania Verba”. O amor à língua e o grito impotente diante do Absoluto. Com vocês Olavo Brás Martins de Guimarães Bilac:
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela…
Amote assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
(língua portuguesa – Olavo Bilac)
Ah! quem há de exprimir, alma impotente e escrava,
O que a boca não diz, o que a mão não escreve?
— Ardes, sangras, pregada à tua cruz, e, em breve,
Olhas, desfeito em lodo, o que te deslumbrava…
O Pensamento ferve, e é um turbilhão de lava;
A Forma, fria e espessa, é um sepulcro de neve…
E a Palavra pesada abafa a Idéia leve,
Que, perfume e clarão, refulgia e voava.
Quem o molde achará para a expressão de tudo?
Ai! quem há de dizer as ânsias infinitas
Do sonho? e o céu que foge à mão que se levanta?
E a ira muda? e o asco mudo? e o desespero mudo?
E as palavras de fé que nunca foram ditas?
E as confissões de amor que morrem na garganta?
(Inania Verba – Olavo Bilac)
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9 de maio de 2012[…] – Olavo Bilac […]