01 de Fevereiro / Mais perto do Infinito
Trinta e dois
Meu capital intelectual está muito bem investido em amigos como Guilherme de Carvalho, Rodolfo Amorim, Simonton Araújo e Raquel Araújo – para citar os mais próximos. É que sempre que deposito uma fração irrisória de alguma ideia em suas ações, eles me devolvem quantias substanciais de saberes valiosos!
Este texto é inspirado numa referência que Raquel me trouxe ontem a noite. Enquanto lia certa coletânea de artigos, ela percebeu num texto de Márcio Seligmann-Silva algo relacionado ao Nossa Brasilidade. Como é generosa, não demorou a twittar a frase, e como é minha vizinha (e cunhada) resolveu visitar a irmã mais linda que tem e não veio de mãos vazias; trouxe o livro para eu folhear. Claro, fiz mais que isso, tirei uma cópia e li o artigo todo – uma maravilha.
Entre outros insights, esse artigo expos a já conhecida fragilidade da linguagem objetiva quando ela tenta traduzir o mundo dos fatos. A realidade, a experiência e principalmente o exagero de certos objetos transbordam este copo raso da representação. É maior que ele. Daí nasce a necessidade do simbólico e da metáfora.
Para reforçar essa constatação, o escritor cita, nesse momento, Schlegel:
“A necessidade da poesia nasce da impossibilidade da filosofia em expor o infinito”
Já estamos no primeiro dia de Fevereiro e há 31 dias assistimos essa vontade de tocar o Infinito sendo estampada nos recortes da nossa literatura. Para não perder o costume, e certo de que a aventura só está começando, aqui vai mais um:
CENA 32
BASTIDORES DO PALQUINHO / INTERIOR / TARDE
Ainda no mesmo povoado, Quirino representa sobre o palquinho um de seus costumeiros números de plateia. Parte de sua cena é vista dos bastidores, onde Maria e Rosa se despedem.
ROSA
Espera o espetáculo acabá…
MARIA
Meior, não.
ROSA e MARIA olham-se e se abraçam. ROSA começa a chorar.
MARIA
Chora, não Rosa!
E também desaba no choro.
ROSA
Choro , sim, Maria, purque é duro chega no fim das coisa.
MARIA
Depois do fim tem sempre mais caminhá! E amizade é riqueza que num se perde.
As duas se abraçam com força.
ROSA
Que o bom caminho se abra pr’ocê pelo mundo!
MARIA
Pra ocê tomém. E que a gente mereça trilhá até o fim do que nunca termina.
Maria enxuga as lágrimas e sorri para Rosa. Pega um embornal com uns poucos pertences e se afasta. Rosa enxuga as lágrimas.
(Hoje é dia de Maria – Da obra de Carlos Alberto Soffredini / escrito por Luís Alberto de Abreu e Luiz Fernando Carvalho)