“Perdoa”; “O pouco que sobrou” – Los Hermanos

“Perdoa”; “O pouco que sobrou” – Los Hermanos

Postado por: em out 19, 2013 | 42 comentários

Manda essa cavalaria! A fé abandonou um certo sujeito, e ele resolveu pedir ajuda a Deus. Não é que ele deixou (quase) tudo registrado num disco?!

Queridos leitores, todos os dias passamos aqui para fazer uma pergunta: existe alguma expressão de espiritualidade na música popular brasileira, ou essas expressões estão confinadas ao canto litúrgico das religiões? Pegamos uma centena de canções da famosa lista que a revista Rolling Stone fez em 2007; a lista dos 100 maiores discos da música brasileira. Esses discos foram sistematicamente ouvidos e  catalogados pela pesquisadora, socióloga e mestranda em ciências sociais, Sarah Ferreira de Toledo, a pedido do Nossa Brasilidade. Uma pequena parte do nosso repertório mundano agora pode ser visto a partir de outras janelas. Mesmo que seja uma pequena fresta dentro do edifício de certas composições, é possível ver.

Seguindo o passeio, vamos assistir a banda Los Hermanos com uma canção de Marcelo Camelo, “O pouco que sobrou”. Ela é a faixa 10 do terceiro disco da banda carioca, lançado em 2003. A obra feita em primeira pessoa, pode ser lida como uma confissão de identidade, mas quem sabe seja possível ver nessa letra uma oração a um certo Deus que não sabemos quem é – o autor não descreve quem Ele é. No entanto, esse Deus parece ser capaz de enviar uma cavalaria afim de fazer voltar a fé que  abandonou o sujeito desencantado. Então, voltem os olhos para Los Hermanos e tomem nota. 

O Pouco que Sobrou

De: Marcelo Camelo

Intérprete: Los Hermanos

Disco: Ventura

Gravadora: BMG

Ano: 2003

Eu cansei de ser assim

Não posso mais levar

Se tudo é tão ruim

por onde eu devo ir?

A vida vai seguir

Ninguém vai reparar

Aqui neste lugar

eu acho que acabou

Mas eu vou cantar pra não cair

fingindo ser alguém

que vive assim de bem

Eu não sei por onde foi

Só resta eu me entregar

Cansei de procurar

o pouco que sobrou

Eu tinha algum amor

Eu era bem melhor

Mas tudo deu um nó

e a vida se perdeu

Se existe Deus em agonia

manda essa cavalaria

que hoje a fé me abandonou

 

O leitor Matheus Santana enviou nesta madrugada uma primeira versão da canção acima. Os Hermanos deixaram (quase) tudo registrado no disco. Quase… Eu não conhecia a história dessa música e me impressionou o fato de que o “rascunho” certamente tem mais fogo poético, mais sangue circulando que a versão disponibilizada no álbum Ventura. Uma linda oração que não se perdeu e que podemos ouvir aqui graças ao Santana. “O Pouco que Sobrou” antes se chamava “Perdoa”. Ouçam e vejam se não estou certo sobre dois aspectos; (a) a autocensura do artista pode diminuir a força original de sua expressão b) “perdoa” é mais impressionante que “o pouco que sobrou” por que o lirismo não tentou tapar aquilo que da alma se sente vazar.

 

Perdoa (O Pouco que Sobrou)

De: Marcelo Camelo

Intérprete: Los Hermanos

Disco: Ventura (pré-produção)

Gravadora:

Ano: 2002 (?)

Deus, por onde você foi?
Cansei de procurar.
Não posso mais ficar
com o pouco que sobrou,
carrego o seu amor
até não conseguir,
mas hoje eu me senti
dobrando devagar,
tentei chorar por seu perdão
mas não ouvi sinal,
será que isso é normal?
Deus, proteja o filho teu.
Não deixa o mal ganhar.
Por onde se escondeu
enquanto o céu caiu?
e a chave não abriu
e a estrada se acabou
e a ponte não passou
pra lá desse lugar.
Eu vou tentar
por mais um dia.
Manda essa cavalaria
que hoje a fé me abandonou…

 

 

Brother – Jorge Ben

Brother – Jorge Ben

Postado por: em out 18, 2013 | 5 comentários

Apesar de uma provável autocensura à sua biografia, Jorge Ben ainda pode ser ouvido na irresistível “Brother”! Conhece?

Iniciamos, ontem, a divulgação de cem canções brasileiras que utilizam símbolos da espiritualidade cristã em seus versos. Cada dia você vai conferir  uma amostra.Se trata de canções presentes na famosa lista que a revista Rolling Stone fez em 2007; a lista dos 100 maiores discos da música brasileira. Esses discos foram sistematicamente catalogados pela pesquisadora, socióloga e mestranda em ciências sociais, Sarah Ferreira de Toledo, a pedido do Nossa Brasilidade. Em hora oportuna, também vou publicar uma série de novos textos que estou compondo, afim de apresentar outra forma de ler a nossa música brasileira. O objetivo, entre outros, é desestabilizar as polaridades conceituais que dominam o senso comum, dificultando a apreciação das confissões religiosas nas musicas não litúrgicas.

Hoje, escolhi uma canção do (na época) Jorge Ben, chamada “Brother”. Está presente num disco fantástico e repleto de confissão mística, o celebrado “A Tábua de Esmeralda” de 1972 – vale a pena ouvi-lo inteiro, o que já seria suficiente para entenderem muita coisa que falo sobre porosidade religiosa na música popular .

A letra de “Brother”, curiosamente, não se encontra no site oficial do cantor – sim, todas as outras letras do disco estão lá! Bem… coisas desse tipo e todo esse clima Lavigne que emerge de certos discursos e artigos dos patriarcas da nossa música, me levam a crer que as biografias desses artistas foram e estão sendo censuradas por motivos ideológicos. Isso não foi suficiente para esconder esse spiritual tupiniquim, que completou 40 anos dizendo: Jesus Christ is my Lord, Jesus Christ is my friend . Posso ouvir um aleluia, neste Blog fervoroso!? Posso ouvir?  Orelha na caixa!

 

Brother

De: Jorge Ben

Intérprete: Jorge Ben

Disco: A Tábua de Esmeralda

Gravadora: Universal

Ano: 1972

Brother, Brother, prepare one more happy way for my Lord 
With many love and flowers, and music, and music 

Brother, Brother, prepare one more happy way for my Lord 
With many love and flowers, and music, and music 

Jesus Christ is my Lord, Jesus Christ is my friend 
Jesus Christ is my Lord, and Jesus Christ is my friend 

Brother, Brother, prepare one more happy way for my Lord 
With many love and flowers, and music, and music 

Brother, Brother, prepare one more happy way for my Lord 
With many love and flowers, and music, and music 

Jesus Christ is my Lord, Jesus Christ is my friend 
Jesus Christ is my Lord, and Jesus Christ is my friend 

Brother, Brother, prepare one more happy way for my Lord 
With many love and flowers, and music, and music 

Brother, prepare one more happy way for my Lord (sweet Jesus!) 
Brother, prepare one more happy way for my Lord (sweet Jesus!) 
Brother, prepare one more happy way for my Lord 

Jesus Christ is my Lord, Jesus Christ is my friend (sweet Jesus!) 
Jesus Christ is my Lord, Jesus Christ is my friend (Come everybody brother!) 
Jesus Christ is my Lord, Jesus Christ is my friend…

Aos Pés da Cruz

Aos Pés da Cruz

Postado por: em out 17, 2013 | 7 comentários

Por que alguém se assustaria em ver uma centena de exemplos assim? Vejam como a espiritualidade transborda pelos versos mundanos da nossa música popular brasileira.

Publicarei aqui, diariamente, uma sequência de cem canções que utilizam símbolos da espiritualidade cristã em seus versos.A princípio vou me contentar com essa centena, fazendo um pequeno e drástico recorte no imenso repertório que os nossos compositores produziram até hoje. Se trata de canções presentes na famosa lista que a revista Rolling Stone fez em 2007; a lista dos 100 maiores discos da música brasileira. Esses discos foram sistematicamente catalogados pela brilhante e dedicada colaboradora do Nossa Brasilidade, a pesquisadora, socióloga e mestranda em ciências sociais, Sarah Ferreira de Toledo. Não tenho como agradecer tamanho esforço e profissionalismo dessa paulistana zelosa e sábia. Ela não só passou no rigoroso processo de seleção criado pelo Blog no início do ano, mas deu uma aula de como se faz uma pesquisa, além de colaborar com muitos insights para os textos que logo publicarei na intenção de apresentar uma nova forma de ler a nossa música brasileira.

Para começar, escolhi uma canção de Marino Pinto e Zé da Zilda, chamada “Aos Pés da Cruz”. Ela foi gravada naquele disco que é considerado por muitos o marco inicial da Bossa Nova; Chega de Saudade de João Gilberto. Orelha na caixa!

Aos Pés da Cruz

De: Marino Pinto e Zé da Zilda

Intérprete: João Gilberto

Disco: Chega de Saudade

Gravadora: Odeon

Ano: 1959

Aos pés da Santa Cruz você se ajoelhou
e em nome de Jesus
um grande amor você jurou.

Jurou mas não cumpriu.
Fingiu e me enganou.
Pra mim você mentiu,
pra Deus você pecou.
O coração tem razões que a
própria razão desconhece,
que faz promessas e juras,
depois esquece.
Seguindo este princípio
você também prometeu.
Chegou até a jurar
um grande amor,

mas depois esqueceu.