01 de Fevereiro / Mais perto do Infinito

Postado por: em fev 1, 2012 | Nenhum comentário

Trinta e dois

Meu capital intelectual está muito bem investido em amigos como Guilherme de Carvalho, Rodolfo Amorim, Simonton Araújo e Raquel Araújo – para citar os mais próximos. É que sempre que deposito uma fração irrisória de alguma ideia em suas ações, eles me devolvem quantias substanciais de saberes valiosos!

 

Este texto é inspirado numa referência que Raquel me trouxe ontem a noite.  Enquanto lia certa coletânea de artigos, ela percebeu num texto de Márcio Seligmann-Silva algo relacionado ao Nossa Brasilidade. Como é generosa, não demorou a twittar a frase, e como é minha vizinha (e cunhada) resolveu visitar a irmã mais linda que tem e não veio de mãos vazias; trouxe o livro para eu folhear. Claro, fiz mais que isso, tirei uma cópia e li o artigo todo – uma maravilha.

 

Entre outros insights, esse artigo expos a já conhecida fragilidade da linguagem objetiva quando ela tenta traduzir o mundo dos fatos. A realidade, a experiência e principalmente o exagero de certos objetos transbordam este copo raso da representação. É maior que ele. Daí nasce a necessidade do simbólico e da metáfora.

Para reforçar essa constatação, o escritor cita, nesse momento, Schlegel:

 “A necessidade da poesia nasce da impossibilidade da filosofia em expor o infinito

Já estamos no primeiro dia de Fevereiro e há 31 dias assistimos essa vontade de tocar o Infinito sendo estampada nos recortes da nossa literatura.  Para não perder o costume, e certo de que a aventura só está começando, aqui vai mais um:

 

CENA 32

BASTIDORES DO PALQUINHO / INTERIOR / TARDE

 Ainda no mesmo povoado, Quirino representa sobre o palquinho um de seus costumeiros números de plateia. Parte de sua cena é vista dos bastidores, onde Maria  e Rosa se despedem.

 ROSA

 Espera o espetáculo acabá…

MARIA

 Meior, não.

 

ROSA e MARIA olham-se e se abraçam. ROSA começa a chorar.

 MARIA

 Chora, não Rosa!

 E também desaba no choro.

 ROSA

 Choro , sim, Maria, purque é duro chega no fim das coisa.

 MARIA

Depois do fim tem sempre mais caminhá! E amizade é riqueza que num se perde.

As duas se abraçam com força.

 ROSA

 Que o bom caminho se abra pr’ocê pelo mundo!

 MARIA

 Pra ocê tomém. E que a gente mereça trilhá até o fim do que nunca termina.

 

Maria enxuga as lágrimas e sorri para Rosa. Pega um embornal com uns poucos pertences e se afasta. Rosa enxuga as lágrimas.

 

(Hoje é dia de Maria – Da obra de Carlos Alberto Soffredini / escrito por Luís Alberto de Abreu e Luiz Fernando Carvalho)