Quando me descobri artista brasileiro

Postado por: em fev 8, 2014 | 33 comentários

 

Quando me descobri um artista brasileiro e que a fé cristã, como os nossos pais me ensinaram, é começo e não adereço, as outras expressões de identidade artística tornaram-se mais irreais ainda para mim. Qual modelo de artista temos para imitar no Brasil? Ao menos para nos inspirar?

Eu escrevo música como um artista brasileiro, mas não quero fazer isso seguindo as trilhas espirituais e ideológicas que temos hoje. E nesse espaço que abri na internet, o Blog Nossa Brasilidade, é como se eu tivesse investigando um caminho de mentores – uma tradição espiritual pra me filiar. Estou o tempo inteiro procurando um mestre, um maestro, um modelo imaginário que seja!

Mas ainda não encontrei quem eu gostaria de imitar quando descobri que sou um artista brasileiro e não um artista da religião evangélica. Eu admiro muito o Bob Marley (Jamaica) , o Bono (Irlanda), Stevie Wonder (USA), Johnny Cash (USA), mas olhando pra cá, me faltam esses mentores/modelos. Sim! Temos o Roberto Carlos, Nelson Cavaquinho, Elomar Figueira de Mello e milhares de canções que tocam aquilo que vejo neste mundo – e são essas canções a comprovação de tanta coisa falada aqui. Mas esses artistas não são exatamente aquilo que eu gostaria de ser. Sim! Temos Tasso da Silveira, Murilo Mendes, Jorge de Lima, Quintana, Adélia! Ah, temos Adélia! Mas, onde está a trilha da música pop que nos deu uma música brasileira realista, ungida, generosa, exuberante e aberta para o Total?

Aqui escrevo tentando formar esse modelo imaginário… Escrevo como que construindo categorias para a confecção de uma plataforma que sustente uma nova canção. Estou procurando respostas…

 

 

Marcos Almeida

Vila Velha, ES.

 

Nomes & Rótulos

Nomes & Rótulos

Postado por: em dez 18, 2013 | 9 comentários

Um nome, a primeira vista, tem menos informações que um rótulo. Um nome é, a primeira vista, mais impreciso. Daí vem o rótulo dar à embalagem aquilo que dizem extrapolar o nome do produto. O rótulo parece que é mais.

No rótulo que envolve a embalagem você encontra além do nome, a marca, o fabricante, os componentes, o tempo, a data, a fórmula… Olha o rótulo! Tantas coisas (in)úteis estão ali para classificar certo produto…

Quintana dizia que um nome surge da necessidade de “batizar pessoas e livros”. Inclua aí a música, seu poeta!

Nome é coisa de família. Rótulos são feitos para produtos. E quando seres sem alma pedem às pessoas: por favor, mostrem seu rótulo, não estariam cometendo uma grande ofensa?

Pessoas não são produtos. Nomes são maiores que os rótulos. Livros e músicas não cabem em nenhuma embalagem.

lulubiscoitosMas, a música desde o início do século passado é tratada sem cerimônia como item da indústria, não é não? Não seria um produto tudo aquilo que é vendido em prateleiras de supermercados?

A música, não se enganem, não cabe em embalagens. Não cabe não. O que compramos são pedaços de plástico, caixas acrílicas, envelopes de papelão. O que aparece nas lojas de música são discos, estojos, bolachas; é o fruto do trabalho do cortador de acetato.

A música, cuidado, não cabe em embalagens. Aqueles nerds já tentaram encapsular sons e canções em super recipientes digitais de siglas esquisitas: ogg, mp3, wav, flac, aiff, aac… Dizem que a música cabe ali. Não cabe não. O que aparece nos nossos computadores são apenas dados armazenados em blocos, são codecs e ficheiros: é o fruto do trabalho de algum engenheiro obstinado.

Uma música é maior que seu nome! E olha que nome é coisa grande. Mas, se a música tem nome de batismo, fica combinado de agora em diante, que essa música dispensa qualquer rótulo e apelido.

 

Marcos Almeida

 

Gal Costa canta “Deus é o amor” de Jorge Ben Jor.

Postado por: em jan 22, 2013 | Nenhum comentário

 

Um pergunta generosa deve guiar o nosso olhar: “o que eles têm feito para encontrar a paz?” Apresento a vocês Gal Costa cantando “Deus é o amor” de Jorge Ben Jor.

 

Em 1969 ela lançava essa canção em seu primeiro disco solo. A capa se tornou clássica:

 

 

Gal 1969 - lança "Deus é o amor" de Jorge Ben

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ouça a versão original e agora pergunte: “o que nós temos feito para encontrar a paz?”.

 

Deus é amor (Jorge Ben Jor 1968)

Todo mundo vai embora
Mas a chuva não quer parar
Ninguém mais quer ficar
Só eu, sozinho vou me molhar

Mas eu tenho fé
Que a chuva há de passar
E aquele sol tão puro
De manhãzinha bem quentinho há de chegar

E os passarinhos vão cantar
Pois a alegria vai voltar
E todo mundo
Que foi embora vai voltar

Agradecendo a Deus
Todo mundo vai rezar e cantar

Deus é a vida, a luz e a verdade
Deus é o amor, a confiança e a felicidade
Deus é a vida, a luz e a verdade
Deus é o amor, a confiança e a felicidade

 

Antes da indústria já existia a fé, a religião, a igreja e a música.

Postado por: em mar 20, 2012 | 1 comentário

 

Isso que vamos ler agora é a descrição de um hábito familiar. Estabelecido no período colonial (sec. XVI a XVIII), principalmente nos tempos onde se formou o sistema econômico em volta da casa-grande, com seus senhores de engenho polígamos e católicos. O que Gilberto Freyre – insubstituível  mestre – nos informa aqui, faz a gente voltar às raízes da nossa cultura e constatar que a temática religiosa não era coisa só da missa ou dos poetas eclesiásticos: a fé chegou na casa dos brasileiros, virou letra para o som das cantigas e antes do que a gente imaginava já se cantava pra Deus, pra Jesus, para os santos e pra Maria. Olha, bem antes dos hinos protestantes desembarcarem nos portos. Bem antes da vitrola, bem antes da indústria – que indústria!? – não havia nada disso. Mas já existia a fé, a religião, a igreja e a música.

 

Quem sabe isso ajuda a clarear o que já falei por aqui: a fé não é invenção de um movimento industrial [gospel, carismático, auto-ajuda, místico, etc]. Se antes da industrialização já se cantava assim, depois dela como será? Bem, isso é coisa que temos proseado neste quintal …

Enquanto isso, vamos ler, este que dispensa apresentações, Gilberto Freyre:

 

“Nas cantigas de acalanto portuguesas e brasileiras as mães não hesitaram nunca em fazer dos seus filhinhos uns irmãos mais moços de Jesus, com os mesmos direitos aos cuidados de Maria, às vigílias de José, às patetices de vovó de Sant’Ana. A São José encarrega-se com a maior sem-cerimônia de embalar o berço ou a rede da criança:

 

Embala, José, embala,

que a Senhora logo vem:

foi lavar seu cueirinho

no riacho de Belém. 

 

E a Sant’Ana de ninar os meninozinhos no Colo:

 

Senhora Sant’Ana,

ninai minha filha;

vede que lindeza

e que maravilha. 

 

Esta menina

não dorme na cama,

dorme no regaço

da Senhora Sant’Ana. 

 

E tinha-se tanta liberdade com os santos que era a eles que se confiava a guarda das terrinas de doce e de melado contra as formigas:

 

Em louvor de São Bento

que não venham as formigas

cá dentro.

 

escrevia-se num papel que se deixava à porta do guarda-comida. E em papéis que se grudavam às janelas e às portas:

 

 Jesus, Maria, José,

rogai por nós que recorremos a vós. 

 

Quando se perdia dedal, uma tesoura, uma moedinha, Santo Antônio que desse conta do objeto perdido. Nunca deixou de haver no patriarcalismo brasileiro, ainda mais que no português, perfeita intimidade com os santos. O Menino Jesus só faltava engatinhar com os meninos da casa; lambuzar-se na geleia de araçá ou goiaba; brincar com os moleques. As freiras portuguesas, nos seus êxtases, sentiam-no muitas vezes no colo brincando com as costuras ou provando dos doces.

21 de Janeiro / Sábado Sarau

Postado por: em jan 21, 2012 | 1 comentário

Vinte um

Neste sítio recebo não só a visita de nomes ilustres, mas, alguns leitores inspiradíssimos e desconhecidos (pelo menos por enquanto) que andam deixando por aqui a sua palavra. A poesia deles enriquece demais essa brasilidade que é toda nossa.

 

É o caso do Igor José. Ele me enviou um livro inédito de sua autoria cheio de poemas. Os versos que vamos ler agora fazem parte dessa sua estreia. Vejam aí:

 

NA ESQUINA

Na esquina o poema me espera

Em cada árvore,

Em qualquer direção.

Na rua o poema me espreita

Atrás dos postes

Em cada curva.

Na esquina da rua o poema se revela

Em todo ato,

Em cada fato.

No poema a esquina é o meu lugar,

Na rua o poema é o meu luar,

O poema me espera e me espreita

Na rua, na esquina, em todo lugar.

( do livro “Não sei ser poeta” – Igor José)

 

 

A gentileza de José inspirou uma nova ideia para o nosso Blog. Que tal fazermos no sétimo dia da semana, o “Sábado Sarau”?  Taí! Você pode enviar suas poesias, músicas, danças, pinturas, qualquer arte, que publicarei aqui para todo mundo ver.

 

Enviem seus devaneios, pensamentos, na métrica ou fora da métrica, em versos livres ou alexandrinos, não interessa a técnica apenas a verdade. Enviem!

 

Para isso, escolha:

Carta  

Av. Fortaleza 1500 Ap 203

CEP 29101 575

Bairro Itapoã Vila Velha – ES

A/C Marcos Almeida

E-mail

marcos@palavrantiga.com