Quando Sunshine anunciou Gabo

Quando Sunshine anunciou Gabo

Postado por: em abr 18, 2014 | 1 comentário

 

Era meu primeiro ano na Universidade do Estado de Minas Gerais, cursando a licenciatura na qual sete anos depois recebi o raro título de jubilado em música. Num dia, que não me lembro qual, meu amigo Sunshine – dele não me esqueço – recitou para o nosso grupo de amigos, em tom nada solene, o início de seu livro favorito:

“Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano
Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e para mencioná-las se precisava apontar com o dedo.”

Naquele dia bastaram as primeiras palavras de Cem Anos de Solidão para eu descobrir a grandeza de Gabriel García Márquez.

 

 

TRÊS LIVROS PARA LER ANTES DE MORRER

TRÊS LIVROS PARA LER ANTES DE MORRER

Postado por: em abr 27, 2012 | 17 comentários

para a Ultimato

 Quem não tem Jardim Zoológico pode ir ao sítio do vizinho do seu amigo. Ver os pavões, as araras, o cavalo velho de olhar sonso, o faisão de crista amarela, aquele tanto de galinhas tagarelas, os patos, o porquinho rosa, a tartaruga solitária em sua banheira azul da cor do céu… De noite, que maravilha é ficar quietinho, parado olhando para o céu! Além do inexplicável encanto das estrelas, brota na gente um sentimento de que a natureza discursa sobre as grandezas e pequenezas da vida; grande é o céu e o que há de ser o homem?

 

Quem mora sozinho numa ilha pode ligar sua TV via satélite e assistir as novelas, os seriados, filmes e jornais que quase sempre falam sobre quão idiota pode ser o homem e como a gente quase sempre não fala daquilo que realmente importa: a angústia da alma. O homem logo descobre que não  se parece com nada observável nos céus ou na terra; estrelas e tartarugas não servem para curar a tristeza crônica da gente. Daí escrevemos livros, gritamos no meio da ilha, cobrimos nossa vergonha com as folhas das figueiras da nossa própria autonomia. Dançamos loucos na areia da praia, rolamos nas dunas, batemos na pele do tambor, inventamos um remédio, mas o tédio nos aflige quase sempre, pois a nossa criação não serve para solucionar nada, apenas para expor a verdade: vivemos numa praia de nudismo e não tem ninguém em forma.

Quem anda entre animais e pessoas, não perde por esperar. Quando a vida se arrasta movida por um vento franco, soprado pelo lenga-lenga  da TV, entre o mistério do planeta e  pessoas esquisitas entrando na sua ilha, eis que surge o milagre! O sol redobra o calor, os céus estão sem nuvem, a poeira sobe em espiral numa velocidade assustadora formando um redemoinho, falando com a gente! Engraçado, a voz de dentro do redemoinho pergunta: ‘ei, onde você estava?’. Finalmente! Ele nos encontrou.

 

Você não deveria morrer agora

 

Querido leitor, você não deveria morrer agora.  Morrer antes de ler esses três livros que acabei de resenhar nos parágrafos acima seria uma grande tragédia. O primeiro se chama ‘A Natureza’ e pode ser encontrado inclusive nas piores livrarias da sua cidade. Cuidado: não fique procurando apenas nas folhas, árvores, riachos e animais, seus próprios olhos fazem parte de algo muito complexo chamado corpo humano, capítulo importante nessa aventura selvagem.

O segundo título foi editado no decorrer dos séculos com o seguinte letreiro estampado na capa: “A Cultura’. As benditas livrarias buscam exclusividade do material, mas esse precioso livro não cabe nas prateleiras convencionais. Um detalhe sobre ele: nunca fica pronto. “A Cultura” é uma grande história sem fim. Até quem nunca aprendeu as letras participa com belíssimas histórias, algumas delas são bastante conhecidas! Esse monumental registro da nossa capacidade criativa só não é mais exuberante que o terceiro livro.

“A Revelação” é o Criador tomando forma. É ao mesmo tempo a mais aguardada das publicações como também a inesperada obra que ao invés de ser lida, nos lê.  Ninguém poderia imaginar que “A Revelação” seria também o primeiro livro transformado em palavra escrita [muitos o chamam de Bíblia]. Por causa dele “A Cultura” veio a existir e “A Natureza” foi reconhecida pelo o que ela é: uma irmã do homem, não uma mãe doidona que fica assombrando o cara da ilha.  Um final antes do final surge revirando tudo de novo, uma última epifania, a mais suprema….  Sei que você já está aflito para começar a leitura dos três. Bem, eu espero que você leia até a derradeira página – se tiver tempo, é claro. Antes de pegar no sono. Antes da novela te fazer um legítimo e entediado bobo da corte. Antes de morrer. Antes do Final.

Marcos Almeida

 

[ Semanalmente escrevo para a  Ultimato Online . Uma coluna especial para um dos portais mais influentes do Brasil ]

 

 

O que os artistas brasileiros andam lendo?

Postado por: em fev 29, 2012 | 3 comentários

Cinquenta e um


Mário de Andrade no século passado, 1942, fez o balanço geral da Semana de 22 dizendo que  ela deixou “o direito permanente à pesquisa estética; a atualização da inteligência artística brasileira; e a estabilização de uma consciência criadora nacional” Naquela época os melhores artistas modernistas cultuavam nomes como Spengler (historiador e filósofo alemão), Freud (Inventor da Psicanálise), Bergson  (filósofo francês) e Sorel (teórico francês).

Diga-me o que lês que te direi que és.

 Liberdade, cultura, futuro, inconsciente, intuição, duração, mito político, são expressões correntes na fala dos intelectuais daquela época; conceitos e esquemas importados da Europa. Mas, hoje, como estamos? Em que pé anda a produção intelectual do nosso povo? Principalmente no campo legislativo do pensamento que é a filosofia e a teologia, quem são os principais nomes que nós artistas temos lido na segunda década do século XXI ?

Vejamos a lista dos mais vendidos de 2011. Objetivo: encontrar algum teórico, teólogo, filósofo ou psicólogo que anda orientando o pensamento da moçada. Aí está:

Eike Batista (campeão de vendas e bilionário), Padre Marcelo Rossi (Padre e cantor pop), William P. Young ( o cara da Cabana) , Walter Isaacson (escreveu a biografia de Steve Jobs) Antoine Saint-Exupéry (O Pequeno Príncipe) , James Hunter ( O monge e o executivo).

Buscar na prateleira dos mais vendidos talvez não seja o melhor caminho: é certo  que os mencionados autores influentes na vida dos artistas brasileiros da Semana de 22 não eram tão populares assim à epoca… Mas, onde estão os teóricos, pensadores e formadores de categorias estéticas da nossa época. Tem algum marasmo no ar? Não sei, parece que sim!

Preciso de ajuda. Vou chamar aqui: Guilherme de Carvalho que fala diretamente sobre a relação entre teologia ruim e arte ruim. Para os desavisados e apressados, digo mais uma vez: sim, teologia e filosofia são estruturais na vida de qualquer sujeito, pois esses campos do conhecimento definem a forma que a gente vê o mundo e consequentemente o jeito que expressamos este olhar.

Chega mais Guilherme de Carvalho:

Palavras-chave:

Palavras mágicas, vazio semântico, conteúdos sem vínculos com a vida, salto, universo opaco e sem sentido, Logos como princípio de unidade, natureza, graça, Schaeffer, Paul Tillich, senhorio de Cristo sobre tudo, universais e particulares, cosmovisão, hipermodernidade, cultura da sensação, Gilles Lipovetsky, sociedade cujo eixo central é estético, experiência epidérmica, Kierkegaard, sem comprometimento ético, adolescência estendida, polarização, percepção do mundo indireta, integrar o mundo, a beleza da ortodoxia, bondade, verdade, Alister Mcgrath, Terrence Malick, nova estética, encantar o mundo, Jesus presente, sem salto irracional, Stenio Marcius, tarefa apologética do músico,