22 de Janeiro / “eu sou brasileiro”

Postado por: em jan 22, 2012 | 1 comentário

Vinte e dois

 

O ‘desbocado’ Antonio Carlos de Brito aparece aqui mais comportado do que nunca. Nos versos a seguir, ele toma emprestado o principal tema deste Blog – IDENTIDADE –  e em 10 linhas ilustra a afirmação que nos inquieta: “sou brasileiro”. Vamos ouvir:

 

Sem Lero-lero

 

 

 

 

 

 

 

HÁ UMA GOTA DE SANGUE NO CARTÃO-POSTAL

 

Eu sou manhoso eu sou brasileiro

Finjo que vou mas não vou minha janela é

A moldura do luar do sertão

A verde mata nos olhos verdes da mulata

 

sou brasileiro e manhoso por isso dentro

da noite e de meu quarto fico cismando na beira

                                                              [de um rio

na imensa solidão de latidos e araras

lívido

de medo e de amor

 

     (HÁ UMA GOTA DE SANGUE NO CARTÃO-POSTAL – Antonio Carlos de Brito )

Quem quer ser brasileiro?

Postado por: em dez 5, 2011 | 7 comentários

 

A gente já sabe que aquela teologia mencionada no último parágrafo do texto anterior está se enfraquecendo em grande parte do Brasil. Os crentes estão mais próximos do mercado, da rua, da mídia. Sejam crentes católicos ou evangélicos, aqueles que aceitaram a explicação cristã para a vida, já superaram a visão pessimista dos seus pais, o continuo ato de negação da realidade, enfim, aquele ato evasivo que mencionamos para, então, partir numa apressada jornada de assimilação cultural.

Como tudo que é feito de forma apressada, sem reflexão ou espera, o negócio acaba ficando meio desengonçado. Vovó já dizia: “o apressado come cru”. É certo que muito desse processo que começou (entre outros importantes fatos) com a permissão de guitarras elétricas nos cultos, passando pelo afrouxamento das doutrinas de usos e costumes, chegando na inserção da mentalidade de consumo-sagrado de produtos cristãos para benefício espiritual, aderindo aos cinemas, à política, e a tudo que se move e parece bom, muito disso acabou por diluir espaços antes bem demarcados. É comum hoje em dia o pastor abrir o altar, o púlpito, para eventos que nada se parecem com um culto tradicional, nem se projetam para isso; são eventos que misturam entretenimento, artes, vídeos, circo, humor e dança na tentativa de transformar o local de reunião da Igreja num espaço de convivência, onde é colocada em prática a capacidade social de cada membro do grupo e onde também se pratica o evangelismo. Não se sabe mais a diferença entre palco e púlpito, entre teatro e culto, entre palanque e altar. Está tudo se diluindo nesse processo de assimilação cultural, onde a igreja está cada vez mais parecida com o “mundo”.

Tudo isso falei na linguagem mais simples que consegui. Obviamente os estudiosos e sabichões de plantão logo vão surgir  aqui ou no twitter para dar conselhos sobre isso e aquilo na intenção de sofisticar meu argumento. Mas, no momento dispenso qualquer sugestão ou tentação de me parecer intelectual para fulano ou ciclano. Minha vocação é outra. Desejo apenas que o leitor fique cheio de esperança nessa leitura que pode reciclar seus conceitos. Sim! Esperança. Porque consigo ver daqui uma outra geração que, pela Graça de Deus, experimenta o amadurecimento dos crentes no sentido de perceber que não é pela via da negação, nem da assimilação (que dilui os espaços num estranho líquido colorido) , mas é através de uma nova postura de intromissão generosa que podemos então contribuir com alguma beleza para a nossa jovem brasilidade. Ouvindo o mundo, ouvindo o Espírito (como diria Stott) e ‘cair pra dentro’ respeitando os espaços historicamente construídos pela nossa sociedade; culto continuando a ser culto, palco, palco, espetáculo, espetáculo, tudo isso diante da face de Deus.

Mais pra frente quero falar com riqueza de detalhes sobre esses três tipos de brasileiros que ,nascidos ou naturalizados aqui, creram no Evangelho e viveram suas vidas, ou ainda estão vivendo de alguma forma conscientes de que fazem a melhor escolha. No momento, quero lembrar de dois autores que parecem convergir nessa exposição: Gedeon Alencar e Guilherme de Carvalho. Esses termos que usei aqui para traçar as diferenças das três gerações ( 1a Negação, 2a Assimilação, 3a Intromissão) são de Alencar, exceto a 3a que é coisa da minha lavra. O Guilherme aparece para conceituar as três grandes teologias, as mais poderosas tradições de todos os tempos  que ainda fazem a cabeça da moçada e ensinam como o crente deve se envolver com o mundo: Anabatistas ( se envolvem pela via da negação) Luteranos (dois reinos – igreja e sociedade- se envolvem utilizando duas formas de viver) Calvinismo (um reino só; pela via da rejeição crítica associada à invasão redentiva se intrometem no mundo que pertence a um só Rei).

Neste momento, apenas pense nisso: quem pode ser brasileiro? Aquele que se isola do mundo, o outro que assimila a cultura diluindo tudo, ou este que se intromete dialeticamente no meio do povo? É verdade, nenhum desses sujeitos deixou de ser brasileiro legítimo, mesmo que para o primeiro não só o Brasil, mas, o planeta seja um bom lugar para ser abandonado, mesmo tendo o segundo acreditado na perigosa justaposição dos reinos – a igreja dominando a sociedade- todos eles, inclusive os calvinistas e neo-calvinistas tupiniquins continuam sendo dessa pátria, ainda que tenha adquirido outra cidadania pelo direito de sangue que os fazem cidadãos dos céus.  A verdadeira questão talvez seja outra: Quem quer ser brasileiro?

Tenho uma leve suspeita de que Deus, lá no dia do juízo final, vai procurar no meio de todos os  povos, tribos, línguas e nações, o abençoado povo brasileiro. E aí? Onde ele estará?  O raciocínio é simples: para se salvar o Brasil é necessário que aqui existam brasileiros gritando por socorro, que vivam sua brasilidade tecida na Esperança, bem no meio do mundo, sobre este mesmo chão, único, de um Único dono!

Quem quer? Eu quero. Estou nessa!

 

Fique com meu abraço demorado e até mais ver.

Marcos Almeida

Hoje em casa.

Quem pode ser brasileiro?

Postado por: em nov 24, 2011 | 4 comentários

 

Uma pergunta muito importante que dificilmente é colocada na roda dos esclarecedores é esta: quem pode ser brasileiro? Hoje sabemos que muita gente quer estar aqui desenvolvendo seus produtos e explorando nossas riquezas (não só a Chevron) construindo algumas melecas monumentais (pra não dizer cagadas internacionais). Mas, existem outras vontades; e no caso daqueles que desejam ser daqui, como funciona? Temos alguém que fica impedido de ser filho dessa terra?

Alguns já estão pensando agora naquela diferença entre filhos biológicos e filhos adotivos. Mas existe alguma outra paternidade, ou patrialidade que não seja a adotiva? Já que no nosso caso mestiço tão singular somos uma mistura de índios, invasores, exploradores, jesuítas, escravos, comerciantes, protestantes, lavradores, loucos e degredados, todos estrangeiros a exceção dos índios; como, então, definir quem pode e quem não pode ser daqui?

Vamos pegar logo um caso absurdo para os fanáticos do nosso futebol; se o Maradona desejasse uma carta de naturalização, chegasse lá na Polícia Federal com o formulário preenchido, lendo e escrevendo em português, pode um argentino se tornar brasileiro? Pode! Talvez o Maradona, nesta altura do campeonato, nunca deseje ser um dos nossos, mas outro argentino já fez isso há muito tempo. Senhoras e senhores: Meligeni.

Vamos voltar um pouco no tempo.Cinco de Outubro de 1988, Cid Moreira – àquela época há mais de19 anos apresentando o Jornal Nacional – anuncia a histórica reportagem de Alexandre Garcia sobre a nova e atual constituição brasileira: “O Brasil teve até hoje a tarde sete constituições. A oitava já está em vigor”.  Um marco na nossa trajetória, esse dia representa quase que o nascimento de um outro país, uma nova nação que “quer mudar, deve mudar  e vai mudar”, segundo as palavras do presidente da Constituinte, Ulysses Guimarães. Desta geração, que amaldiçoou a tirania e a ditadura, até hoje no século XXI,  vimos algumas instituições democráticas sérias que continuam lutando “contra o arbítrio do Estado”  apesar de acentuada e perigosa inversão de funções entre legislativo e judiciário nesses últimos dois anos – o caso mais tenso a ser lembrado rapidamente foi o “casamento gay” onde o Supremo, ignorando a constituição, determinou mudanças no marco regulatório a respeito do que é a família brasileira. No entanto, se existe um texto fundamental a ser seguido, contestado, discutido, mas nunca  ignorado  a respeito do que é ser brasileiro está aí: a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

Os Estados Unidos, é bom lembrar, têm a mesma constituição há 224 anos. Guardando-a como uma verdadeira obra sagrada, seu povo consegue transferir uma herança preciosa e palpável para a nova geração a respeito do que é pertencer a uma pátria, ou do que é ser cidadão americano – sentimento muito mais enraizado do que o nosso neste sentido. Mas, a nossa “Lei de todas as leis”, apesar da sua pouca  idade – 23 anos apenas – é quem tem determinado na esfera jurídica  “quem pode ser” ou quem é  esse cidadão brasileiro num planeta tão diverso (a despeito da tal globlalização) com centenas de povos, tribos, línguas e nações!

Então, se você nasceu aqui já é brasileiro! Só não venha nascer filho de um diplomata ou militar estrangeiro a  serviço no Brasil, porque aí você não entra no time. Se nasceu lá fora e resolveu escolher o Brasil como pátria, é possível; basta seguir os passos do processo de naturalização. Portanto, brasileiro nato ou naturalizado, só existem esses dois tipos de cidadãos  perante a lei. No entanto,meu querido leitor, depois de esclarecer isso tudo, ainda fica uma dúvida: tem alguém que continua impedido de ser brasileiro, mesmo sabendo-se naturalizado ou nascido nesta terra maravilhosa? Sim! Chegamos no ponto mais importante desse texto – que está cada vez mais longo, mas (prometo) cada vez mais quente!

Como cristão  (que vive a Igreja e ama essa família)  vou falar de um tipo de brasileiro que foi impedido de ser daqui não por um governo autoritário ou pela lei constitucional, nem muito menos pelas Escrituras Sagradas. Mas, conduzidos por pressupostos teológicos de origem pentecostal da primeira metade do séc. XX, que sublinhava e acentuava uma visão escatológica pessimista e um isolamento social, boa parte do que conhecemos como evangélicos nestes últimos 100 anos olhou fixamente para o alto, onde podiam ver as ruas e moradas celestiais, perdendo quase que totalmente o contato com esse chão, negando completamente a ‘cultura secular’; no final das contas perdendo a legítima graça de ser brasileiro, alienaram-se de fato de sua própria brasilidade, abandonando o mundo antes mesmo de partir.

 

Continua…

 

Um brasileiro; Calabar!

Um brasileiro; Calabar!

Postado por: em nov 8, 2011 | 9 comentários

 

Três tiros, três prendas! O pequeno parque na rua da Igreja Matriz oferece até tiro ao alvo, mas um  pouco diferente. A espingarda é de chumbinho, de verdade, e o prêmio não fica preso com cola super-bonder.