Estou falando da canção

Postado por: em jan 13, 2014 | Sem comentários

 

Não estou falando apenas sobre o som. Nossa escrita, também, diz respeito ao sentido. Sobre som e sentido. Por isso que preciso pedir perdão ao leitores; quando usei indiscriminadamente o termo “música”, sem avisar que na verdade pensava na “canção”, acendi os ânimos de alguns críticos que julgaram minha tese contraditória. Ora falava que era necessário classificar música musicalmente e vez ou outra apontava possíveis conexões ideológicas, filosóficas e espirituais no repertório popular, indo propriamente além dos sons. Me perdoem, quando escrevi “música”, quis dizer “canção”.

 

A canção é confissão. Ela usa dos procedimentos da fala: (a) as canções se utilizam de palavras com um determinado significado, (b) com uma determinada força, (c) na intenção de atingir determinado efeito sobre nós ouvintes. Ao mesmo tempo que a canção é som, colorida de timbres diversos, pulsando em ritmos tantos, harmonizada com sofisticação jazzística ou na difícil simplicidade de dicção roqueira, tudo isso para sustentar uma melodia cantável, a canção também é língua, é poesia, é profissão de fé.

 

Os românticos alemães a chamavam de Lied. O editor Stanley Sadie enumera compositores da Alemanha que faziam canções [lieder] de amor pastorais e canções de brinde lascivas. [“canções de brinde” dica para os donos de gravadora, tirem o “lascivas” e coloquem “eróticas” que fica melhor para os adultos contemporâneos] Ele curiosamente fala, também, de uma escola berlinense que “usava um estilo mais complexo e procurava uma poesia de melhor qualidade, como a de Goethe e Schiller”.

 

Os espanhóis a chamam de “canción”, os francês “chanson”, e a gente mistura no dia a dia algumas expressões: vamos ouvir tal “música”, vamos curtir um som, que canção belíssima… Mas aqui, entre nós, fica combinado que qualquer viagem literária sobre música partirá desse lugar amplo e maravilhoso chamado canção!

Marcos Almeida

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