04 de Janeiro / Cecília Meireles

Postado por: em jan 4, 2012 | Sem comentários

                                                                                                                             Quatro

                      Palavras de Carlos Nejar: “[Ela] esqueceu as fronteiras da Modernidade, para o Eterno, o Intemporal…sua poesia é de transcendência… Raríssimos poetas da língua comum chegaram à [sua] altura órfica. Ou a tamanha serenidade. Por ter ela logrado: ‘Dizer com claridade o que existe em segredo’. E murmurar, como em segredo, o que existe de claridade.” Com vocês Cecília Meireles:

Premio de Poesia Olavo Bilac 1939

Aqui sobre a noite,
na cinza das pálpebras,
no meio das rosas,
no sono das aves,
nas franjas da lua,
nas imóveis águas,

aqui, sobre a tênue
seda da saudade,
a perpétua face.

Sozinha contemplo
o ardente milagre.
Ninguém mais te avista,
Verônica suave!
-Desenho do sonho
que a noite reparte.

Por que me apareces
igual à verdade,
ilusória imagem?

Na minha alegria,
corre um mar de lágrimas.
Tudo se repete,
na terra e nos ares,
e os meus pensamentos
são só teu retrato.

Em puro silêncio,
luminosa jazes:
tão doce e tão grave!

Fita bem meu rosto,
guarda os olhos pálidos
com rios antigos
por onde viajaste.
Lembra-te da minha
sombra humana, diáfana,

-pode ser que um dia
todos nós passemos
pela Eternidade.

(in Obra Poética 1958 Cecília Meireles)

 

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