Aos Pés da Cruz

Aos Pés da Cruz

Postado por: em out 17, 2013 | 7 comentários

Por que alguém se assustaria em ver uma centena de exemplos assim? Vejam como a espiritualidade transborda pelos versos mundanos da nossa música popular brasileira.

Publicarei aqui, diariamente, uma sequência de cem canções que utilizam símbolos da espiritualidade cristã em seus versos.A princípio vou me contentar com essa centena, fazendo um pequeno e drástico recorte no imenso repertório que os nossos compositores produziram até hoje. Se trata de canções presentes na famosa lista que a revista Rolling Stone fez em 2007; a lista dos 100 maiores discos da música brasileira. Esses discos foram sistematicamente catalogados pela brilhante e dedicada colaboradora do Nossa Brasilidade, a pesquisadora, socióloga e mestranda em ciências sociais, Sarah Ferreira de Toledo. Não tenho como agradecer tamanho esforço e profissionalismo dessa paulistana zelosa e sábia. Ela não só passou no rigoroso processo de seleção criado pelo Blog no início do ano, mas deu uma aula de como se faz uma pesquisa, além de colaborar com muitos insights para os textos que logo publicarei na intenção de apresentar uma nova forma de ler a nossa música brasileira.

Para começar, escolhi uma canção de Marino Pinto e Zé da Zilda, chamada “Aos Pés da Cruz”. Ela foi gravada naquele disco que é considerado por muitos o marco inicial da Bossa Nova; Chega de Saudade de João Gilberto. Orelha na caixa!

Aos Pés da Cruz

De: Marino Pinto e Zé da Zilda

Intérprete: João Gilberto

Disco: Chega de Saudade

Gravadora: Odeon

Ano: 1959

Aos pés da Santa Cruz você se ajoelhou
e em nome de Jesus
um grande amor você jurou.

Jurou mas não cumpriu.
Fingiu e me enganou.
Pra mim você mentiu,
pra Deus você pecou.
O coração tem razões que a
própria razão desconhece,
que faz promessas e juras,
depois esquece.
Seguindo este princípio
você também prometeu.
Chegou até a jurar
um grande amor,

mas depois esqueceu.

 

Aquela trilha está virando caminho

Postado por: em abr 22, 2013 | 10 comentários

Texto transcrito da palestra ministrada no teatro anexo da UFPE, na Conferência Oxigênio.

29 de Setembro de 2012

 

Me sinto presenteado com uma plateia tão disposta como a que eu vejo hoje aqui. Acordar tão cedo pra ouvir um cara que não dorme faz tempo e por esse e outros motivos corre o risco de falar tanta coisa maluca, fruto talvez de algum sonho louco que brota entre as insônias de um jovem papai.

Muito obrigado pela presença de vocês. Estar no Nordeste, na capital pernambucana, conversando com vocês no Oxigênio me deixa super animado.

Vocês já perceberam que vivemos hoje um tempo de simultaneidades; enquanto assistimos a ascensão do movimento gospel, além disso, o reconhecimento deste circuito cultural pelo mercado tradicional e a grande mídia, distinguimos também um grupo de artistas cristãos espalhados de norte a sul do país pensando e fazendo arte para além dos paradigmas que sustentam a grife gospel.

Jorge Ben Jor e Jesus Cristo numa música do mundo.

Postado por: em fev 23, 2013 | 10 comentários

 

Foi assim. Meu amigo Ricardo lá de João Pessoa tem um amigo super ligado na música do futuro e do passado, uma verdadeira enciclopédia musical. Pois bem, o cara – como sempre – traz coisas muito legais para o Ricardo. Não foi diferente dessa vez; apresentou o Matthew E. White com a canção Brazos. Lá no encarte do disco, o compositor, produtor, arranjador e fundador da Spacebomb Records, escreve que nesta canção fez uma referência ao Jorge Ben Jor, especificamente a Brother de 1972. Apreciem o som, a confissão e a mistura dessas duas obras. Voltarei para comentar.

 

 

Brazos (Matthew E. White 2012)

Wade across the Brazos
Walk the water like Jesus
They’re gonna come from all directions tonight
And baby we ain’t got no home
Here today and tomorrow we’re gone
But you look beautiful by the fireside

Child, we ain’t from this world
The whole thing, it cause my heart to moan
Babe, we are strangers in this land
They say that white folks are never lazy
They say that white folks are never lazy
They say that white folks are never lazy
Then baby, what are we doing here?
Then child, what are we doing here?

Take it easy, baby
Take it easy, baby
Take it easy, baby, tonight

My heart’s sinking like apostle Peter
Lord, sunk like a stone because he wasn’t a believer
And I’m not sure that I am either
Child, I’m just not sure
They say
In the kingdom there’s no sun to burn
In the kingdom there’s no cracker to hurt you child
In the kingdom there’ll be no slavery
Baby, do you think that’s true?
Child, do you think that’s true

Take it easy, baby
Take it easy, baby
Take it easy, baby, tonight

Wade across the Brazos
Walk the water like Jesus
We’re going to need the Lord’s help tonight
My body is a-bending low
Underneath life’s crushing blow
Golden hours come swiftly on the wing
Stand beside me baby, won’t you hear the angels sing?
Child, won’t you hear the angels sing?
Stand beside me baby, won’t you hear the angels sing?
Child, won’t you hear the angels sing?
Baby, won’t you hear the angels sing?

Jesus Christ is our Lord
Jesus Christ, He is your friend
Jesus Christ is our Lord
Jesus Christ, He is your friend

 

 

A letra desta beleza que você ouviu, não se encontra no site oficial de Jorge Ben Jor. Curiosamente, todas as outras letras do disco estão lá. Minha suspeita de que as biografias dos nossos artistas foram e estão sendo censuradas por motivos ideológicos parece fazer algum sentidoSobre o site ainda, mais curioso é descobrir que a partitura da música foi publicada e pode ser baixada e impressa. Mas, estamos no séc. XXI onde tudo cai na Rede, tudo se conecta, tudo se comunica e nem precisei do Assange. Aqui está, senhoras e senhores, Brother!

Brother  (Jorge Ben 1972)

Brother, Brother, Prepare one more happy way for my Lord
With many love and flowers, and music, and music

Brother, Brother, Prepare one more happy way for my Lord
With many love and flowers, and music, and music

Jesus Christ is my Lord, Jesus Christ is my friend
Jesus Christ is my Lord, and Jesus Christ is my friend

Brother, Brother, Prepare one more happy way for my Lord
With many love and flowers, and music, and music

Brother, Brother, Prepare one more happy way for my Lord
With many love and flowers, and music, and music

Jesus Christ is my Lord, Jesus Christ is my friend
Jesus Christ is my Lord, and Jesus Christ is my friend

Brother, Brother, Prepare one more happy way for my Lord
With many love and flowers, and music, and music

Brother, Prepare one more happy way for my Lord (sweet Jesus!)
Brother, Prepare one more happy way for my Lord (sweet Jesus!)
Brother, Prepare one more happy way for my Lord

Jesus Christ is my Lord, Jesus Christ is my friend (sweet Jesus!)
Jesus Christ is my Lord, Jesus Christ is my friend (Come body brother!)
Jesus Christ is my Lord, Jesus Christ is my friend…

A música do Jorge Ben já havia aparecido aqui nas pesquisas que faço dentro do nosso repertório popular. Ela também entrou na playlist do Palavrantiga, que usamos antes e depois do show, quando não estamos no palco.

Exemplos como “Brother” (Jorge Ben), “Dê um rolê” (Moraes Moreira), “Minha Festa” (Nelson Cavaquinho), ‘Todos estão surdos” (Roberto Carlos) já publicadas aqui no Blog,  também confirmam minha teoria de que não devemos usar a confissão do compositor para definir genero musical. Porque do contrário, Jorge Ben curiosamente seria, nesse caso, transformado no mais novo artista gospel do Brasil.

Está aí um nó conceitual. Não existem parâmetros para tratar as confissões “cristãs” fora do ambiente evangélico ou religioso.  Ninguém nunca me mostrou, por outro lado, as tais categorias musicais para definir uma música sacra contemporânea brasileira – estão aí, mas nenhum de nós sabe dizer onde. A preguiça intelectual prefere chamar tudo que é confissão evangélica de gospel. Confissão não válida no caso de Jorge Ben.

Consigo ouvir daqui alguns pensamentos de amigos preguiçosos: não mexe com esse assunto, tá dando certo até agora, pra que pensar nisso (?). Mas aí ficam com o nó na cabeça quando se ouve lá fora, “no mundo”, expressões tão evangélicas como essa de Jorge Ben Jor, devoto de São Jorge, cantando Jesus Christ is my Lord! No caso dele, repito, a confissão não é suficiente para classificá-lo como gospel. Que coisa! Ambiguidades. Preguiça de almoço ao sol do meio dia. Contradições.

Então, chupa essa manga, produtores, jornalistas, blogueiros, gravadoras, lojistas e ouvintes!

 

1. Não existem parâmetros para tratar as confissões “cristãs” fora do ambiente evangélico ou religioso.

2. Ninguém nunca  mostrou as categorias musicais para definir uma música sacra contemporânea brasileira – estão aí, mas nenhum de nós sabe dizer onde.

3. Brother” (Jorge Ben), “Dê um rolê” (Moraes Moreira), “Minha Festa” (Nelson Cavaquinho), ‘Todos estão surdos” (Roberto Carlos) confirmam minha teoria de que não devemos usar a confissão do compositor para definir genero musical.

 

Quem tiver um pouco de discernimento, logo vai perceber que a nova geração de artistas cristãos, ao abandonar a terminologia de grife “Gospel” para denominar essa nova música feita por nós, já está resolvendo muitas dessas contradições! Então, prossigam: mostrem os parâmetros musicais para definir gênero musical e deixem a teologia cuidar dos assuntos teológicos.